O site “cio.com.br”, vinculado ao Instituto IT Mídia (que é patrocinado pela Fundação Bradesco e empresas do setor privado da educação), publicou uma matéria no mínimo extravagante a respeito das relações de trabalho no setor de Tecnologia da Informação. Intitulado “7 etapas para reduzir as dores das demissões em TI”, o texto de John Edwards não aborda a dor dos desempregados mas a dos chefes que os demitem.
CIO é mais um termo organizacional importado do inglês e refere-se aos responsáveis pela área de TI de empresas, podendo ser traduzido como Chefe de Tecnologia da Informação. Partindo do ponto de vista dos chefes, o site está recheado das fórmulas demagógicas características de analistas organizacionais. No caso citado, conseguiram se superar. Coitados desses chefes, assombrados pelos fantasmas dos terríveis desempregados.
Uma das etapas “para reduzir as dores das demissões em TI” seria justamente se amparar nos departamentos jurídicos e de recursos humanos da empresa, para minimizar os processos trabalhistas. Num lapso de sinceridade, o autor confessa que “seguir os requisitos legais e de RH” pode ser frustrante, mas que é preciso evitar processos judiciais e “multas caras”. Ou seja, não fossem esses “contratempos” legais, a liberdade dos chefes para simplesmente jogar na rua seus empregados estaria em pleno vigor.
E por aí vai. O que fica bem claro na argumentação é que o trabalhador é o que menos importa para esses “gestores”, são apenas um entre outros fatores que devem ser manejados em benefício da empresa. Segundo Edwads, o ambiente de negócios hoje é “ultra-litigioso”, por isso aponta várias ações para proteger a empresa de seus ex-funcionários. Como sofrem os capitalistas!
É importante situar essa espécie de manual de como demitir no contexto econômico atual. Desde 2008, a economia capitalista em nível mundial está numa nova etapa de crise. Os ataques aos direitos trabalhistas e às condições de vida em geral da população estão sendo operados ao redor do globo. No Brasil, tivemos uma reforma trabalhista que praticamente rasgou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Essas dicas se inserem justamente nesse contexto que foi acentuado pela pandemia de Covid-19, com demissões massivas em diversos setores e aumento da pobreza. O único direito básico do trabalhador no capitalismo, que é o de ter sua mão de obra explorada, está cada vez menos em vigência. Esse sistema econômico caduco não tem nada para oferecer à enorme massa de desempregados, que se veem privados de condições dignas de sobrevivência. É preciso acabar com a burguesia.