Nas últimas semanas, a histórica instabilidade política peruana mostrou sua cara mais uma vez. Seguindo a tendência de golpes consecutivos orquestrados pelo imperialismo, visando o fortalecimento da política neoliberal que assola o país desde a ditadura fujimorista da década de 90, mais um presidente, Martín Vizcarra, foi deposto após votação no Congresso. O agora ex-presidente, acusado, de forma notavelmente escancarada, de “incapacidade moral permanente”, foi sucedido por Manuel Merino, representante da ala fujimorista da direita peruana.
À luz desta clara incerteza dentro do cenário político peruano e, acima disso, óbvia tendência à direitização do regime, a população foi às ruas para lutar contra o empossamento de Merino. Uma onda de protestos verdadeiramente combativos, os quais contaram, até mesmo, com a morte de 4 pessoas e o desaparecimento de mais de 40; varreu o País e transformou o território peruano num campo de guerra. As manifestações foram tamanhas que, invariavelmente, Merino caiu, abrindo espaço para a posse de Francisco Sagasti, ex-funcionário do Banco Mundial, mais um carrasco do imperialismo e representante do “centrão” do Peru.
Entretanto, o mero troca-troca de presidentes não irá silenciar as massas que, a essa altura, já demonstram extremo descontentamento com a situação. Finalmente, o regime político-econômico peruano está longe de se estabilizar. Afinal de contas, o neoliberalismo assola os trabalhadores e suas organizações há muito tempo e, nesse sentido, sucateou completamente todo e qualquer tipo de direito fundamental do povo peruano.
Na última quarta-feira (25), a população peruana mostrou, mais uma vez, que simplesmente não irá sustentar os regimes golpistas em suas costas. Seguindo a forte tendência à mobilização, o Sindicato Unitário dos Trabalhadores da Educação do Peru (Sutep), continuou a realizar protesto em Lima e em demais cidades do país. Nas cidades de Puno e Tacna também se uniram aos professores companheiros do Sindicato de Trabalhadores Administrativos do Setor da Educação, assim como companheiros do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil. Os protestantes reivindicam, principalmente, o direcionamento de 6% do PIB do país para a educação pública. Todavia, demonstrando um caráter combativo, também se fala em uma nova Constituinte como aspecto essencial para a solução da crise no País.
Ou seja, a situação peruana se aproxima cada vez mais ao cenário que víamos no Chile nos últimos tempos. Por mais que a esquerda nacional tenha sido obliterada a partir da perseguição da ditadura de Fujimori ao Sendero Luminoso, a situação chegou a tal ponto que a população simplesmente não aguenta mais a absurda instabilidade do regime político. A experiência peruana deixa claro que a única alternativa para os trabalhadores é a própria mobilização. Afinal, conseguiram derrubar a extrema-direita e, agora, se aproximam de uma convulsão de caráter verdadeiramente revolucionário, capaz de alterar profundamente as relações de forças que hoje atuam dentro da sociedade peruana.
Finalmente, é preciso intensificar a mobilização popular e, acima disso, radicalizar cada vez mais o movimento que hoje atua dentro do Peru. Uma nova Constituição deve de fato ser feita, não a la peruana, mas sim pela organização dos trabalhadores que, invariavelmente, defende os seus próprios interesses.