Dois membros do Ministério Público do Peru foram gravados incentivando um preso a mentir e esconder fatos sobre investigados pela Operação Lava Jato peruana, dentre eles funcionários da Odebrecht e o ex-presidente do país, Ollanta Humala.
Segundo o portal The Intercept, que obteve os áudios, o preso é Martín Belaunde Lossio, marqueteiro que conduziu a campanha eleitoral de Humala. Para se livrar da condenação, Belaunde quer se tornar um delator premiado.
Para que sua delação não fizesse com que as acusações contra Humala entrassem em contradição, Belaunde foi instruído a dizer que não sabia de uma suposta doação de 400 mil dólares da Odebrecht à campanha do então candidato, que foi presidente de 2011 a 2016. “O que o senhor vai nos dizer precisa ter concordância com a tese da procuradoria”, ouve-se em um dos áudios o procurador David Castillo. Ele concordou com os inquisidores e disse não saber da alegada doação.
Humala e sua mulher, Nadine Heredia, foram presos preventivamente em junho de 2017 e ficaram na prisão por mais de nove meses, até abril de 2018, quando foram soltos graças a um habeas corpus. Apenas mais de um ano depois de ser preso preventivamente, o ex-presidente foi formalmente denunciado pelo Ministério Público.
A Java Jato peruana somente explicita o que é a Lava Jato no Brasil: uma operação totalmente ilegal, inconstitucional e puramente político-persecutória. E que tem como alvo políticos de esquerda e ligados à burguesia nacional, como é o caso de Humala.
Ele foi o único presidente de esquerda do Peru nas últimas décadas, levado ao poder devido à intensa crise neoliberal que abalou a América Latina no início dos anos 2000, e que fez com que a esquerda chegasse ao governo em vários países.
Humala foi um presidente extremamente moderado, mais até que os governos de esquerda do Partido Socialista no Chile ou da Frente Ampla no Uruguai, que já foram muito conservadores.
Mesmo assim, não escapou à perseguição política e à prisão. Outros presidentes do Peru, mesmo neoliberais, também foram vítimas dessa operação, que atende direta e integralmente aos interesses do imperialismo e que varre do mapa até outros aliados do imperialismo, caso eles já não sirvam mais aos grandes monopólios e possam ser facilmente descartados.
Foi o caso do ex-presidente Alan García, que governou o Peru em dois governos neoliberais (1985-1990 e 2006-2011). Ele disparou contra a própria cabeça em abril deste ano, se suicidando para que não fosse preso pela Lava Jato.
A Lava Jato precisa acabar e todos os seus processos devem ser anulados, seja no Brasil, no Peru ou em qualquer lugar. Ela é um instrumento criado pelo imperialismo contra a soberania nacional dos países oprimidos da América Latina, uma verdadeira operação de perseguição e prisão política digna das ditaduras militares que vigoraram no continente no século passado.