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Perto do centenário, Lusa é o retrato da devastação do futebol moderno

Fundada em 14 de agosto de 1920 por membros da comunidade portuguesa radicados na capital paulista, a Associação Portuguesa de Desportos, ou simplesmente Portuguesa ou Lusa, chegou aos 99 anos de existência na última quarta-feira. A situação atual do clube, porém, não tem estimulado grandes comemorações e fez com que a data passasse quase despercebida.

Os primeiros sinais da crise

A partir dos anos 2000, o quinto maior time do estado de São de Paulo começa a exibir as primeiras manifestações da crise que, alguns anos mais tarde, ameaça pôr um fim à própria existência do clube.

Em 2002, a Portuguesa sofre o seu primeiro rebaixamento em Campeonatos Brasileiros de sua história. Em 2006, veio o primeiro rebaixamento em Campeonatos Paulistas. Em 2008, a Lusa voltou a figurar no primeiro escalão dos Campeonatos Paulista e Brasileiro, mas não resistiu à competição com os grandes do país e caiu novamente para a série B do Brasileiro. Em 2011, sagrou-se campeã do Campeonato Brasileiro Série B e retornou à elite do futebol brasileiro. Conseguiu se manter na Série A em 2012, mas no ano seguinte, 2013, veio nova queda, fruto de manobras extracampo, da qual o clube não conseguiu se recuperar até hoje.

O “caso Héverton”

O rebaixamento da Lusa em 2013, aliás, foi marcado pelo chamado “caso Héverton”, um episódio obscuro, suspeito e repleto de arbitrariedades.

No Campeonato Brasileiro desse ano, a Portuguesa, depois de passar umas boas rodadas na zona de rebaixamento, conseguiu fazer uma campanha de recuperação, terminando o campeonato na 12ª colocação.

Entretanto, três dias após a última rodada do Campeonato Brasileiro, a CBF notificou ao STJD a escalação irregular do meia-atacante Héverton para a partida da 38ª rodada contra o Grêmio no Canindé. O jogador, que fora expulso no jogo contra o Bahia pela 36ª rodada, foi punido com 2 jogos de suspensão, ficando impossibilitado de disputar os dois jogos restantes da competição. Mesmo assim, o atacante não só foi relacionado para a última rodada, como atuou no jogo em questão.

O STJD, então, diante do descumprimento de sua decisão, sancionou a Portuguesa com a perda do ponto conquistado na partida (terminada em 0–0) e de mais 3 pontos, derrubando a Lusa para a 17ª posição e, consequentemente, decretando o seu rebaixamento para a Série B — eis mais um caso típico do famoso “tapetão” no futebol brasileiro.

Enquanto os dirigentes da Lusa à época qualificaram o episódio como mero “erro administrativo”, fruto de uma problema comunicação entre o advogado que representou o clube no STJD e o seu departamento de futebol, outras versões afirmam que o jogador suspenso foi escalado premeditadamente pela Portuguesa em troca de uma quantia em dinheiro para funcionários e dirigentes do clube. A Unimed, então patrocinadora do Fluminense, que escapou do rebaixamento com a perda de pontos da Portuguesa, chegou a ser acusada de estar envolvida na negociata, mas não houve maiores desdobramentos.

O Ministério Público de São Paulo abriu inquérito sobre o caso e encampou por um tempo a tese da compra (ou venda) da escalação irregular do jogador. Com passar do tempo, todavia, o ímpeto investigativo do órgão foi murchando, e o inquérito foi afinal arquivado, por falta de provas.

A espiral da crise se intensifica

Desde o rebaixamento de 2013, a Portuguesa entrou num redemoinho de crise e declínio continuados.

Nos anos seguintes, vieram os rebaixamentos para a Série C (2014), para a Série D (2016) e a eliminação na Série D (2017) do Brasileiro, o que deixou o clube paulista oficialmente sem divisão no futebol nacional. O ano da Lusa, a partir de então, se resume a duas competições de âmbito regional: a segunda divisão do Paulista e a Copa Paulista.

Acompanhando as catástrofes esportivas vieram os gigantescos problemas financeiros. O clube, hoje, encontra-se em total bancarrota. Acumula uma dívida — em números subestimados, porque datados de uma auditoria interna de 2016 — de mais R$ 354 milhões. Encontra-se emaranhado em centenas e centenas de ações cíveis, processos tributários e ações trabalhistas. As dívidas da Portuguesa, inclusive, são maiores do que o seu patrimônio. O valor estimado do estádio do Canindé em leilão, que é de cerca de R$ 160 milhões, não é suficiente para quitar sequer a metade daquele montante.

O cenário de destruição se completa com o sistemático desmonte da área social do clube, exemplificado pela demolição do parque aquático do Canindé, em 2018. Piscinas, áreas verdes e campos de areia foram aterrados para criar espaços destinados a arrecadar com o aluguel para eventos.

O fundamento da crise: o chamado “futebol moderno”

Para explicar a situação falimentar em que se encontra a Portuguesa e outros clubes do Brasil, o argumento mais comum a que recorrem os “especialistas” da mídia burguesa é o da “incompetência dos dirigentes”, o da “gestão amadora”, o da “falta de planejamento das direções esportivas” e assim por diante. Tudo se resumiria a um problema administrativo, de gestão. Mudando-se a gestão e os gestores, os resultados seriam absolutamente diferentes, e até opostos.

Como é da natureza das coisas, os órgãos ideológicos da burguesia não conseguem explicar nada; na verdade, procuram oferecer soluções simplistas, toscas e infantis para problemas que têm raízes mais profundas, soluções que mais confundem e mascaram a realidade do que qualquer outra coisa.

A situação da Portuguesa, na realidade, é um retrato tardio e extremo do que aconteceu e acontece com os tradicionais clubes do interior dos estados e ainda com os clubes de menor expressão. A decadência desses clubes é, no fundamental, produto da atual etapa econômica capitalista, na qual os clubes estão cada vez mais ligados, por relações de dependência e controle, às grandes empresas e monopólios nacionais e internacionais, tornando-os apêndices dessas forças econômicas e submetendo-os à lógica implacável do capital e do mercado. Nesse sentido, o futebol, integrando-se à economia capitalista, proporciona várias “janelas” por onde o capital monopolista pode passar e se instalar: transferências de jogadores, treinadores e dirigentes, patrocínios, publicidade, direitos de transmissão, mercado de apostas etc.

O clube de futebol passa a ser dirigido de fato pelos grandes capitalistas e torna-se, então, uma empresa, submetida aos mesmos processos a que estão sujeitas as demais empresas, vale dizer, a busca do lucro e nada mais. É o famoso “clube-empresa”, tão alardeado e incentivado pelos comentaristas esportivos da imprensa burguesa, defensores do “futebol moderno” e da “gestão profissional e estratégica”, nos moldes do que se faz na Europa. É o modelo de clube que encarece o preço dos ingressos, elitiza as arquibancadas, exclui as camadas pobres e populares dos estádios, proíbe e reprime as torcidas organizadas, e aniquila os clubes com menor potencial econômico.

O chamado “futebol moderno” não é mais que o domínio dos poucos e grandes monopólios capitalistas sobre todas as esferas do futebol, transformando determinados clubes em extensões de suas fontes lucros e destruindo e esmagando a concorrência (a grande maioria dos times). Esse é o processo que está na base da falência, do declínio e da perda de competitividade de clubes com grande história no futebol brasileiro, como é o caso da Portuguesa. Trata-se, portanto, de um processo econômico profundo, ligado à atual etapa de funcionamento da economia capitalista, e não de uma simples questão de incompetência, amadorismo ou ineficiência na gestão dos clubes, por mais que tais fatores contribuam para o definhamento do clube.

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