Mais dois torcedores da torcida organizada do cruzeiro foram presos na manhã desta terça (13/01), no centro de Belo Horizonte. Eles são membros da torcida Pavilhão Independente e participavam de uma reunião de rotina, quando foram presos pela polícia militar que adentrou a sede da torcida, após receber denúncia anônima. Segundo os policiais, os dois possuíam mandado de busca e apreensão por “associação criminosa”, em decorrência de ação Ministério Público Estadual, o qual pediu a prisão de mais de 20 torcedores.
A ação deflagrada pelo MP chamada de “operação voz da arquibancada” em dezembro, tem como alvo membros e, principalmente, líderes das principais torcidas organizadas do Cruzeiro a Máfia Azul e a Pavilhão Independente. Dezenas de torcedores já foram presos, segundo o MP e a PM, em decorrência de conflitos que se acirraram durante o fim do campeonato brasileiro, desde o jogo contra o Flamengo em setembro, até a rodada final em que o time do Cruzeiro foi rebaixado, após derrota para o Palmeiras em 08/12. O rebaixamento, logicamente, gerou grande insatisfação nos torcedores, como é comum em todo rebaixamento, os quais protestaram principalmente contra a diretoria, que mergulhou o clube num mar de dívidas, prejudicando o desempenho do time dentro de campo.
O episódio de insatisfação dos torcedores foi alvo de intensa campanha pela grande mídia, principalmente a Globo, que aproveitou a confusão gerada após o jogo com o Palmeiras para insuflar a campanha contra as torcidas organizadas.
É fundamental destacar que, trata-se de uma ampla campanha contra as torcidas organizadas, não só do Cruzeiro, mas de todo o país. As torcidas organizadas são um movimento popular organizado, que atua especificamente no futebol e nos estádios, mas o seu cunho de associação popular não se encerra por aí. São as torcidas organizadas as responsáveis por pressionar as diretorias dos clubes, tomada por elementos da burguesia, se manifestar contra o descaso do poder público com o esporte, equipamentos esportivos, transporte público e, até em situações que não estão exclusivamente ligadas ao futebol, como ausência de uma área esportiva ou de lazer na comunidade, de programas sociais para os jovens etc. Ou seja, as torcidas organizadas são um instrumento de organização da população e reivindicação por direitos e por isso são alvo de constante perseguição pela política reacionária da direita.
A operação montada em Belo Horizonte, como bem ameaçou um dos comandantes da PM integrantes da força tarefa, não se restringe à torcida do Cruzeiro, bem como podemos ver diversas operações semelhantes em outros Estados. Estão se tornando cada vez mais comuns os jogos de torcidas únicas ou até sem torcida, a proibição de bandeiras, faixas etc. O MP de Minas chegou a pedir o banimento das torcidas Máfia Azul e Pavilhão Independente, segundo a PM porque estes não conseguem chegar a um acordo de paz e como dito por um dos promotores do MP, “a sociedade não quer este tipo de gente frequentando os estádios, junto com pessoas de bem”.
Outro ponto a destacar é que, vários torcedores foram presos, assim como os citados nesta matéria, pela acusação de “associação criminosa”, o típico crime em que não é necessário apresentar provas cabais, mas somente, denúncias ou um suposto perigo à terceiros ou à sociedade. Tipificação essa similar a outras usadas nos bairros pobres, como associação para o tráfico, desacato de autoridade, auto de resistência entre outros.
Os membros e líderes das organizadas não devem aceitar essa perseguição, muito menos, realizar uma caça às bruxas em seus quadros. Como todo grupo que concentra milhares de pessoas é normal que haja pessoas de todo tipo de comportamento e até comentam crimes, e cada pessoa é responsável por seus atos. Mas, daí a criminalizar as organizações e considera-las com finalidade criminosa é algo muito diferente.
Assim, é preciso defender o direito à livre associação, que é um direito garantido constitucionalmente, e fundamental para os direitos humanos da pessoa, e que não podem ser suprimidos de forma alguma. Além disso, é preciso denunciar e se manifestar contra toda essa campanha contra as torcidas organizadas, que também são um patrimônio do futebol brasileiro, pois faz parte da campanha da extrema direita de reprimir cada vez mais todas as formas de expressão popular e, principalmente, aquelas que podem impulsionar um movimento organizado contra a política da burguesia.