A decisão do governo equatoriano, que recentemente jogou na ilegalidade o Partido Fuerza Compromiso Social (partido do ex-presidente Rafael Correa), acende um sinal de alerta para a esquerda latino americana de conjunto. Tendo recusado-se por oito vezes a tomar uma decisão tão drástica, a ação da justiça eleitoral do país é um forte indício de que o acirramento da luta de classes na América do Sul não se encaminha para ditaduras similares às que tomaram o subcontinente entre os anos 1960 e 1980. O entendimento disto também está na carta produzida pelo Grupo de Puebla, cujos membros incluem os ex-presidentes brasileiros, Lula e Dilma Rousseff.
No documento, os signatários fazem um “apelo cordial” ao regime equatoriano para que reconsiderem a decisão, que, segundo eles, denota uma “arbitrariedade própria das ditaduras militares”. Se a forma pode ser alvo de debates, no conteúdo a carta está correta. Especialmente por lembrar que os problemas levantados pela medida não ferem apenas o Equador mas todo o “hemisfério”, fruto da “pressão indevida” que abre um “grave precedente regional”.
Embora não chegue a dizer expressamente, é nítida a pressão do imperialismo, cujos tentáculos se estendem sobre o regime político do Equador e de todo o continente. No caso equatoriano, fica claro que o ataque contra Rafael Correa se mostrou insuficiente, o que esclarece também o caráter impessoal dos ataques, que visam fundamentalmente à população latino americana, suas organizações de luta e suas lideranças políticas.
O mesmo padrão se desenvolve na Bolívia, onde um golpe de Estado anulou as eleições presidenciais que consagraram a vitória de Evo Morales. Como a sequência de eventos que levaram à fuga do presidente eleito manteve a popularidade do partido Movimiento Al Socialismo (MAS), que continua sofrendo ataques do regime golpista boliviano comandado por Jeanine Áñez. As eleições, inicialmente previstas para 3 de maio, seguem sob forte indefinição diante da dificuldade de Áñez em controlar a situação, dramaticamente agravada pela emergência do coronavírus.
Sem tanto alarde por parte da imprensa (por razões óbvias), as eleições municipais, marcadas para o mês de outubro, seguem indefinidas no Brasil. O Congresso Nacional aprovou a prorrogação do pleito porém muita discussão já rondou o tema, com editoriais defendendo inclusive um mandato-tampão comandado pelo judiciário (Estadão). E tal como em nossos vizinhos, atentados cometidos por agentes da polícia dão o tom do clima político do país, profundamente radicalizado. Condições que tornam pouco crível a superação da crise sem uma forte mobilização popular, que derrote os interesses golpistas e imponha pela força do povo mobilizado, os interesses da população.