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Maior jogador do mundo

Pelé e a esquerda que não gosta do próprio povo

PSTU repete argumentos contra o maior jogador do mundo, em nome de um moralismo religioso, disfarçado de crítica esquerdista

A esquerda pequeno-burguesa desenvolveu uma espécie de hábito de entregar para a burguesia e a direita as conquistas do povo. Ídolos da cultura e do esporte frequentemente são transformados em inimigos, sem saber exatamente por qual motivo, normalmente por considerações morais e abstratas.

É exatamente nesse caso em que está situada a relação da esquerda com o maior jogador de futebol de todos os tempos, Pelé. A impressão que se tem, ao conversar com esquerdistas ou ler boa parte da imprensa de esquerda é que Pelé está condenado de antemão, não por aquilo que ele se propôs a fazer, que é jogar futebol, mas por qualquer outra coisa.

Um exemplo de como a esquerda trata o assunto é o artigo publicado na última segunda-feira, dia 26, intitulado “Sobre Pelé, Edson, 80 anos e reinados”, publicado na editoria de “negros” do sítio do PSTU.

Uma posição sectária e anti-marxista

Os problema relativos à cultura, embora determinados pela política e a luta de classes, tem as seus próprias leis. Não fosse assim, seríamos obrigados a jogar na lata do lixo praticamente toda a produção cultural da humanidade. já que em geral, tudo o que foi produzido nesse terreno não foi feito sobre a base dos mais belos valores morais. O futebol, como um fenômeno cultural, deve ser analisado dessa maneira.

O PSTU não tem esse método ao falar de Pelé. Embora reconheça que ele seja um “bom jogador”,

“na medida em que Pelé tornava-se um ídolo para milhões de pessoas –  incluindo muitas crianças no mundo inteiro – sua imagem como homem público, um homem negro, ia se tornando contraditória, cheia de incoerências, com escândalos em sua vida pessoal, envolvendo sua família e seu papel como pai, muito contestado e com críticas duras a ele, principalmente por conta de sua relação nada amorosa com uma de suas duas filhas que teve fora do casamento. (…) O reconhecimento demorou quase 30 anos para acontecer e Pelé nem foi ao enterro da filha, para uma despedida. Por isso, na medida em que se rendem homenagens ao Rei Pelé, também esse “reinado” é contestado por muitas pessoas. Afinal, que Rei é Pelé?”

O Rei Pelé, ou seja, a realeza do futebol mundial, é contestado por um suposto desvio ético em sua vida familiar. Nem mesmo a Igreja Católica seria tão moralista. Os “marxistas” do PSTU não acreditam que Pelé deveria ter seu lugar reservado no Paraíso da luta de classes.

De acordo com tal mentalidade, fica a dúvida: será que a única salvação para Pelé seria se ele fosse um militante morenista do PSTU? Essa deveria ser a conclusão natural se o raciocínio do artigo fosse levado até suas últimas consequências.

Conforme dissemos acima, se fossemos coerentes com o pensamento do PSTU, deveríamos contestar o “reinado” de muitas outras personalidades da cultura. Sempre haverá um desvio moral que se possa apontar nesse ou naquele artista. A não ser que acreditemos, por exemplo, que todos os compositores importantes da música foram perfeitos.

Justamente por isso, os marxistas ensinaram que a cultura deve ser analisada segundo suas próprias leis. O legado criativo da humanidade, com todas as suas contradições, deve servir para edificar uma nova cultura, superior, socialista, e não ser destruída e apagada. Assim, também, a criação contemporânea deve ser entendida sobre as base de suas próprias leis.

O legado de Pelé deve ser analisado pelo seu futebol e pela sua importância na evolução do futebol brasileiro.

Uma mentalidade colonizada

Mas há uma questão de classe nessa ideia apresentada no artigo do PSTU. É a influência de uma ideologia imperialista que convence o brasileiro que sua cultura, que as conquistas genuínas de seu povo, não deve ser valorizada.

É uma mentalidade colonizada que pega em primeiro lugar a classe média. No caso da classe média de esquerda, essa mentalidade se apresenta por meio de colocações pseudo esquerdistas, como fica claro no artigo do PSTU.

A moralidade de Pelé é tão condenável que sua importância máxima no futebol deve ser contestada. Pelé não é um exemplo nem da família, nem é um nome da luta contra o racismo. Todas essas justificativas, verdadeiras ou não, são pretexto para desmoralizar uma das coisas mais importantes produzidas pelo povo brasileiro: Pelé e seu futebol.

O desprezo que o PSTU e a esquerda pequeno burguesa têm a Pelé e ao futebol brasileiro é um desprezo contra o povo brasileiro e, nesse caso, contra o povo negro, trabalhador, que transformou o futebol do País no mais importante produto cultural do mundo. Uma conquista que é tratada com desdém e desprezo.

Esse desprezo ao Brasil fica muito claro no artigo do PSTU. O Brasil não pode ter um “rei” do futebol porque o Brasil seria, na concepção do PSTU, um País horrível. Aqui, se confunde a política da burguesia, que impõe a miséria contra a maioria do povo, com o Brasil e o povo de conjunto. Dito de outro modo, não é uma crítica à burguesia brasileira e ao imperialismo e um chamado à luta contra essa dominação, mas um ataque contra todo o povo.

Pelé é um Rei num país racista (…) Pelé é um rei num país machista (…) Pelé é um Rei num país LGBTIfóbico que mais mata a população LGBTI no mundo, cujo o futebol, o esporte que lhe deu seu reinado, segue com práticas machistas e lgbtifóbicas nos estádios, através de suas torcidas que não só entoam cantos lgbtfóbicos, como perseguem jogadores LGBTIs que são obrigados a esconderem sua orientação sexual.

Fica muito claro o desprezo pequeno-burguês pelo povo brasileiro.

Uma das maiores conquistas do povo negro brasileiro, o futebol, é tratada como uma farsa, uma manipulação. “Brasileiro, não tenho orgulho de nada!”, afirma o PSTU. Pelé é só “um negro de origem pobre que ascendeu socialmente e que a burguesia branca e racista adora. Assim, tornou-se amigo dos poderosos do Estado.”

O que resta ao brasileiro, segundo o PSTU? Jogar fora todas as conquistas culturais do povo. Por que só Pelé é tudo isso? Deveríamos mandar para o lixo tudo o que não se enquadra exatamente nos nossos conceitos morais? Aparentemente, para o PSTU, sim.

Mas permita-nos duvidar da pureza moral dos morenistas do PSTU.

Ao negro, não basta ser o melhor

Por que Pelé deve ser contestado em sua realeza, como afirma o artigo do PSTU?

“diferente de outros atletas negros como o boxeador Muhamad Ali e os corredores Tommie Smith e John Carlos – que ergueram seus punhos em protesto contra o racismo nos EUA – Pelé jamais se somou à luta contra o racismo, nem no Brasil e nem no mundo. (…) Pelé é um negro de origem pobre que ascendeu socialmente e que a burguesia branca e racista adora. Assim, tornou-se amigo dos poderosos do Estado.”

Para o PSTU – e sabemos que isso é um pensamento recorrente entre a classe média – Pelé deveria ser a perfeição política e moral, só assim deveria ser valorizado. Novamente, a secretaria de negros do PSTU exige do negro Pelé aquilo que ele não se propôs a fazer, será que há alguma coerência nisso. Será que o PSTU exige de outros a mesma coisa que exige do negro Pelé?

Convidamos o leitor a olhar o sítio do PSTU na internet e verão elogios a muitos artistas e personalidades: negras, brancas, operárias ou burguesas, tais personalidades não recebem o mesmo tratamento dado a Pelé. Das duas uma: ou essas exigências valem apenas para Pelé ou as demais personalidades são perfeitos e só Pelé tem defeitos. Logicamente ficamos com a primeira opção.

Se levarmos a sério o método do PSTU para outras personalidades nos restaria apenas elogiar, em última instância, personalidades que são militantes morenistas do PSTU. Fica claro o absurdo do método.

A acusação do PSTU é a de que Pelé é rei em um País “racista”, “machista” e LGBTfóbico”. A conclusão que devemos tirar é que esse reinado de Pelé não vale um tostão furado. Vale tanto quanto o próprio Brasil, que aparentemente é o único país que tem defeitos no mundo e que portanto não deve ter orgulho de nada que fez.

Como fica claro, as objeções absurdas e infundadas ao “reinado” de Pelé são na realidade uma aversão da classe média ao próprio País e ao povo brasileiro. O artigo do PSTU revela esse sentimento bastante típico da classe média: o Brasil e o povo brasileiro são tão ruins que não merecemos ter orgulho de nada.

Muito revelador é que o artigo tenha sido publicado justamente na editoria de negros do portal do PSTU. No aniversário de um dos negros brasileiros mais importantes e reconhecidos do mundo, os negros do PSTU preferem ataca-lo e despreza-lo. Como dissemos, o mesmo tratamento não é dado por outras personalidades homenageadas pelo PSTU.

Outro aspecto importante disso é que se o método do PSTU for aplicado a outras personalidades importantes do povo negro, elas também deveriam ser desprezadas. Será que Zumbi dos Palmares, grande lutador pela libertação do negro, era a favor dos LGBTs e feminista? É até ridículo formular a coisa assim, mas é como deveríamos encarar seguindo o método do PSTU. Outro exemplo, o marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata, deveria ter sua importância contestada porque foi integralista numa parte da vida? Claro que não.

Para Pelé é exigida a perfeição, não no futebol, porque no futebol ele é a perfeição, mas em coisas que ele não se propôs a fazer.

E por que isso acontece com Pelé? Voltamos à mentalidade colonizada da classe média – de direita e de esquerda – brasileira. O problema é que por conta da luta econômica no futebol, é preciso convencer o brasileiro de que ele não deve ter orgulho de sua criação, das coisas que realizou. O Brasil não pode dominar o futebol, não pode se orgulhar de ter o melhor futebol do mundo porque isso ameaça os lucros das empresas imperialistas.

 

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