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Manifesto da esquerda

Pedir renúncia e não mobilizar é mera propaganda eleitoral

A política da frente ampla prepara-se para resgatar todo o regime golpista utilizando como pretexto a "luta" contra Bolsonaro.

Presidentes de seis partidos – PT, PCdoB, Psol, PCB, PDT e PSB – além de figuras públicas desses mesmos partidos e do MDB, entre eles Fernando Haddad, Guilherme Boulos, Ciro Gomes, Flávio Dino, Manuela D’Avila, Tarso Genro e Roberto Requião, divulgaram manifesto, nesta terça-feira (30), em defesa da renúncia de Bolsonaro.

Sob o título “O Brasil não pode ser destruído por Bolsonaro”, os signatários do documento advogam que Bolsonaro “Deveria renunciar, que seria o gesto menos custoso para permitir uma saída democrática ao país”.

Uma primeira questão, ainda sem entrar no mérito da política de “frente ampla” defendida já há tempo pela maioria dos assinantes e ao que tudo indica, agora referendada pela direção do PT, a quem, exatamente, o manifesto é dirigido?

Ao presidente fascista? Uma atitude de “grandeza” por parte daquele que tem plena consciência da política de liquidação da própria esquerda, visando, com isso, promover uma destruição das organizações dos trabalhadores e sua atomização, a fim de levar à frente a política neoliberal e transformar o Brasil em um imenso Haiti? Bolsonaro, como afirmou em seu discurso de posse, tem como propósito “acabar com o socialismo no Brasil”. Obviamente não se trata disso. Apelar para que Bolsonaro renuncie seria mais ou menos que apelar para que o coronavírus vá embora do Brasil.

Poderia ser propaganda eleitoral? Tem haver, afinal o caos social que se avizinha no País representa uma luz no fim do túnel para 2020 (caso haja eleições) e 2022, para uma esquerda que interpreta o golpe de 2016, como uma vitória “popular”, primeiro do golpe e depois de Bolsonaro.

Embora seja uma propaganda meramente eleitoral, nas entrelinhas do manifesta está embutido uma política muito mais grave, que é subordinar a política da esquerda aos partidos da direita, leia-se “Centrão”. A política da frente ampla que já estava em gestação pelo menos desde as eleições de 2018, intensificou-se a partir de 2019 no chamado à aliança com partidos e políticos responsáveis pela farsa do impeachment e à perseguição, principalmente ao PT, e a sua maior liderança nacional, o ex-presidente, Lula. No balaio de gatos da frente ampla, o PSDB, o DEM, o MDB e ainda figuras, como Fernando Henrique Cardoso, Rodrigo Maia, Geraldo Alckmin, o impúbere Luciano Huck, transformaram-se de canalhas e vigaristas em esteios da democracia no Brasil, tudo em nome de combater o fascismo.

O manifesto, pela omissão, deixa patente qual é a política a ser seguida. Não há uma menção ao golpe de Estado e todas as suas consequências para o povo brasileiro – farsa do impeachment, prisão de Lula, fraude nas eleições que levaram o fascista Bolsonaro ao governo, uma quantidade gigantesca de políticas para destruir a economia nacional e das conquistas históricas dos trabalhadores no País, desemprego em massa, destruição da saúde e educação, para ficar em alguns exemplos – todas as ações, sem exceção, bancadas não só por Bolsonaro, aliás, em certo sentido, o presidente não passa de um coadjuvante, mas pelo DEM, PSDB, MDB, FHC, Maia, etc, etc, etc.

Na realidade, o Coronavírus caiu como uma luva para elevar às alturas a política de frente ampla que se manifestava como uma política com muitos impasses, principalmente por conta da resistência da base do PT e de uma parcela de sua direção. 

O mesmo parágrafo do qual foi retirado a citação acima diz, ainda: “Bolsonaro não tem condições de seguir governando o Brasil e de enfrentar essa crise, que compromete a saúde e a economia. Comete crimes, frauda informações, mente e incentiva o caos, aproveitando-se do desespero da população mais vulnerável. Precisamos de união e entendimento para enfrentar a pandemia, não de um presidente que contraria as autoridades de Saúde Pública e submete a vida de todos aos seus interesses políticos autoritários”.

No atual momento, de coronavírus, a frente ampla também já se estende aos governadores, tão fascistas como Bolsonaro, como Dória, Witzel, Zema, Caiado, todos eleitos na mesma farsa eleitoral que elegeu Bolsonaro.

No final das contas o que se tem é a proposta de um governo de união nacional dirigido pelo que há de mais reacionário no País apenas com a condição de não se ter Bolsonaro ou talvez, quem sabe, com um Bolsonaro na linha. Não será de se espantar se amanhã essa frente amplíssima tiver a adesão de figuras nefastas como os generais golpistas e o fascista ministro da Justiça, Sérgio Moro, funcionário dos EUA e responsável por boa parte da engrenagem do golpe, juntamente com os meios de comunicação, como as Organizações Globo.

Essa política é um beco sem saída, para a esquerda, mas, principalmente, para a maioria esmagadora da população brasileira. Para a esquerda, porque está se prestando ao papel de resgatar os golpistas de todos os matizes, tratando-os como democratas preocupados com o destino do povo. Para o povo, nem precisa dizer o que o golpe, como ou sem Bolsonaro, pretende impor contra as condições de vida das amplas massas.

Finalmente, uma breve menção ao programa emergencial apresentado, não sem antes uma também breve menção sobre a “unidade das forças políticas populares e democráticas”. 

O PT, e a importância desse partido está ditada por ser o único da frente que verdadeiramente tem base social apoiada nos trabalhadores, está resgatando o PDT e o PSB – partidos absolutamente envolvidos em toda a tramóia do golpe – e figuras como Ciro Gomes, o “esquerdista” da direita brasileira e peça fundamental na garantia da vitória eleitoral de Bolsonaro, para ficar em um único exemplo da sistemática campanha que fez contra o PT e o ex-presidente Lula.

Uma última palavra sobre o programa. É extremamente limitado. Não só pelo seu conteúdo, embora também por isso. São feitas menções sobre a necessidade de ajuda ao micro, pequeno e médio empresário, mas o texto, tanto no conteúdo, como no programa, simplesmente deixa de lado os trilhões de reais que estão sendo destinados aos banqueiros e grandes capitalistas, ao passo que é reafirmado a destinação de R$ 600 a R$ 1.200 de forma ampliada para a população pobre do País. Um valor absolutamente irrisório diante das profundas necessidade por que passa a população brasileira.

Tem, ainda, mais um agravante no manifesto de conjunto. Não existe povo no meio do caminho para se conquistar as limitadíssimas reivindicações de renúncia de Bolsonaro e de execução do programa. Não existe mobilização popular. O apelo é feito ao golpistas, ao Congresso Nacional, aos governadores.  

No final das contas, o resultado é que pedir a renúncia e o atendimento do programa não passam de mera propaganda eleitoral.

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