Em tempos de crise e de ameaças reais, com direito a amostras grátis, de fechamento do regime, depois de enfrentarmos uma onda moralista e conservadora de censura e caça às bruxas por grupelhos como o MBL e fundamentalistas da laia de Malafaia e Marcus Feliciano, o meio artístico reage fortemente.
O teatro sempre foi uma linguagem propícia para a crítica social e dos costumes, por isso mesmo também sempre foi visado por todos os regimes autoritários, como o fascismo e o nazismo. Quem não conhece a história da prisão e execução de Federico García Lorca durante o governo Franquista na Espanha? E a censura durante o Estado Novo na Portugal de Salazar e Marcello Caetano? São inúmeros os exemplos, em todos os cantos do mundo, todos repletos de violência e morte.
Na América Latina, a censura e a perseguição a artistas marcou todas as ditaduras no continente. Foi assim no Brasil em diversos momentos e em particular durante a Ditadura Militar.
Mas se há censura, se há perseguição, inclusive com violência e morte, é porque importa, porque afronta a mentira, porque questiona o regime, porque põe a nu as intenções dos autoritários, seus interesses e o que são capazes de fazer por poder e dinheiro.
Nesse sentido, vemos proliferar no país um conjunto de peças de teatro que tratam de expor a ascensão do autoritarismo e o seu significado para a vida, a liberdade de expressão, o direito à diferença.
- “Outros”, espetáculo com o grupo Grupo Galpão, estreia no Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte (discute uma ascensão do autoritarismo e de ideologias extremistas);
- “Roda Morta”, com a Cia. Teatro do Perverto, estreia em São Paulo (a ditadura nunca acaba por completo, ronda-nos hoje como um fantasma;
- ‘Memórias do esquecimento’, livro do jornalista Flávio Tavares, um relato autobiográfico, ganha adaptação teatral de Bruce Gomlevsky, estreia no Rio de Janeiro (monologo que relembra o tempo da prisão e da tortura durante a ditadura militar brasileira);
- “11 Selvagens”, a peça em cartaz no Centro Cultural São Paulo reúne 11 atores em diversas situações nas quais as pessoas perdem o controle
- “Nuestra Senhora de las Nuvens”, inspira-se na obra de Arístides Vargas, exilado e radicado no Equador, fugido da ditadura argentina, o grupo Clowns de Shakespeare investigam as relações da memória e identidade, ao que somam as experiências provocadas pelo golpe militar brasileiro de 1964. Atualmente em cartaz em Fortaleza.
Arte e resistência. Arte e denúncia. Vivendo nessa fase do GOLPE, em que um fascista se apresenta como candidato substituto dos golpistas, ou melhor, em que foram golpeados pelos militares e seu candidato bufão, que incita a violência contra o diferente e a perseguição à esquerda, antecipando a censura e ameaçando a vida de todos que ousem continuar a resistir, é importante ter mais e mais obras apresentando aos cidadãos o que significa viver sob o autoritarismo, sob a ditadura, em um regime no qual a liberdade se torna relativa e o Estado atua impune para não só censurar mas para calar efetivamente.