Na última semana, a comissão executiva nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) anunciou o apoio à candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a Presidência da Câmara dos Deputados. Embora o PCdoB já tenha apoiado Maia anteriormente, a notícia aprofundou significativamente a crise em que se encontra o partido.
A candidatura de Maia também está sendo defendida pelo PSL, que é o partido do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro. Além disso, Maia pertence ao partido da ditadura militar de 1964-1985 e foi uma peça fundamental para o aprofundamento do golpe de Estado no Brasil.
Diante da reação de vários setores da base do PCdoB, o partido lançou algumas notas e artigos para tentar justificar o apoio a Rodrigo Maia. No dia 17 de janeiro desse ano, o Portal Vermelho publicou um artigo intitulado “A eleição na Câmara: marcar posição ou incidir na disputa real?”, defendendo explicitamente a aliança com os golpistas.
A primeira explicação que o artigo levanta é a de que participar da candidatura vencedora da Presidência da Câmara dos Deputados garantiria ao partido a participação em comissões permanentes. Em um segundo momento, o artigo argumenta que a correlação de forças impede qualquer possibilidade real de um partido de esquerda vencer as eleições para a Presidência da Câmara. Esses dois argumentos, exaustivamente explorados pelo PCdoB ao longo da semana, explicitam o que está por trás do apoio a Rodrigo Maia: uma colaboração direta com os golpistas e um esforço para impedir que os trabalhadores se levantem contra o governo Bolsonaro.
Se a correlação de forças não é favorável para a eleição do presidente da Câmara, a posição de qualquer partido de esquerda seria denunciar as condições que levaram ao fortalecimento da direita e da extrema-direita no regime político. A eleição foi uma completa fraude: a direita impugnou o candidato mais popular do país, impediu a esquerda de se manifestar e “elegeu” uma série de elementos desconhecidos e com um programa nitidamente impopular.
Se a correlação de forças não é favorável, o PCdoB deveria estar preocupado em mobilizar a população para se chocar com o regime político: apenas a luta dos explorados, apenas uma ampla mobilização seria capaz de impedir que a direita avance rumo a uma ditadura aberta. Nesse sentido, participar normalmente de eleições dentro do parlamento e negligenciar a disposição das massas para enfrentar a direita é uma aberração completa.
A questão das comissões também indicam a indisposição da comissão executiva do PCdoB em lutar contra o governo Bolsonaro. Afinal, o regime político está sob total controle dos militares – desse modo, participar de uma comissão na Câmara não tem relevância alguma. Confundir o movimento de luta contra o golpe em troca de cargos inúteis é a demonstração do mais puro carreirismo pequeno-burguês.
Os próprios argumentos do artigo desmascaram os interesses por trás do apoio a Rodrigo Maia. No entanto, a crise em que se encontra o partido indica que há uma calorosa disputa interna. De um lado, está a burocracia do PCdoB, que vem levando uma política de colaboração com a burguesia durante muito tempo; de outro, está uma ala esquerda, que está interessada em lutar pela liberdade de Lula e contra o governo Bolsonaro.
Um terceiro argumento levantado pelo artigo é o de que Rodrigo Maia seria um deputado comprometido com a “democracia”. Além do absurdo de considerar que a garantia de uma democracia seria obra de uma pessoa única e iluminada, o artigo parece esquecer de todo o papel que Maia desempenhou durante os últimos dois anos. Segundo o artigo, Rodrigo Maia teria empenhado uma série de compromissos, entre eles “a não perseguição aos movimentos sociais, aos partidos de esquerda e a garantia de não levar à votação projetos de lei como o de autoria do Dep. Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), que visa criminalizar a defesa do comunismo e tipificar como terrorista organizações como o MST e o MTST (PL 5358/2016)”. Por fim, o artigo ainda afirma: “a indicação pela preferência por Maia deriva da avaliação de que entre os atuais postulantes ao cargo, ele está credenciado, por seu itinerário parlamentar e perfil político a assumir tais compromissos”.
A defesa escancarada da política de Rodrigo Maia é um escárnio completo de todos aqueles que lutam contra o golpe. Maia foi o principal articulador do governo golpista na Câmara: foi ele quem garantiu que o governo Temer tivesse as condições para aprovar todos os seus ataques contra a população. Além disso, Maia é membro do DEM, o partido da ditadura militar e que está repleto de latifundiários e elementos da extrema-direita. Falar que Maia não vai perseguir a esquerda é puro misticismo: Maia foi peça-chave na operação de militarização do regime político.
Diante das investidas de setores direitistas infiltrados na esquerda nacional, é preciso levar adiante uma política combativa, que tire os trabalhadores da defensiva e acuem a direita golpista. É preciso intensificar a mobilização pela liberdade de Lula e pela derrubada imediata do governo Bolsonaro.