O golpe de Estado de 2016 e a luta contra sua consolidação permitiram que diversos setores tivessem seus interesses e seus métodos explicitados. O PSTU, por exemplo, alcançou distinção e reconhecimento pela sua obstinada campanha pró-imperialista pela prisão de Lula, bem como a Rede Globo e o Estado de S. Paulo. A revista Veja se destacou por adotar as posições mais escatológicas possíveis em todas as situações e por uma constante defesa de elementos de extrema-direita do Regime Político. O Partido da Causa Operária se estabeleceu como o partido da luta contra o golpe, o único que leva até as últimas consequências os interesses dos trabalhadores. O PCdoB se tornou o partido oficial do “virar a página do golpe”, o partido que incansavelmente propõe a conciliação com os golpistas.
Diferentemente de outras organizações, o PCB não conseguiu imprimir uma política clara para a situação. O “partidão” ficou conhecido como “PCBarrichello” justamente por não se posicionar diante das questões fundamentais da política nacional e da política internacional. Em geral, munidos de um sectarismo extremado, os militantes do PCB se negavam a participar de praticamente qualquer coisa referente ao movimento operário e popular, pois, segundo eles, um caminho “puro”, “pela esquerda”, sempre deveria ser tomado em detrimento das vontades das massas “atrasadas”.
A política do PCB de não participar efetivamente da luta contra o golpe pelo fato de os governos do PT terem sido conciliadores já se mostrou completamente equivocada. A luta contra o golpe levou os trabalhadores de todo o país a se mobilizarem em torno de seus interesses, chegando até mesmo a enfrentar o Poder Judiciário e a forçar o recuo da extrema-direita pela força. Contudo, mais recentemente, outra contradição enorme se apresentou para o partido “comunista”, que se diz defensor, sobretudo, do legado de Karl Marx e de Lênin.
O PCB está apoiando o pré-candidato à Presidência da República Guilherme Boulos, do PSOL. Além de declarar apoio formal ao líder do MTST, o PCB estará promovendo, amanhã, um evento com o pré-candidato. Intitulado “Boulos em Recife”, o evento consistirá em um debate a ser realizado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
A contradição entre o PCB, que é tão purista em relação ao conceito de socialismo, se recusando até mesmo a participar da luta contra a prisão de Lula por ser este um “conciliador”, e a candidatura de Boulos é que Boulos não tem a menor ideia do que seja socialismo. Primeiramente, Boulos faz parte de um partido que tem como um dos princípios básicos o “socialismo com democracia”. Ou seja, o PSOL, que sustenta a candidatura de Boulos, acusa as experiências socialistas anteriores de terem sido antidemocráticas. Caso contrário, não seria necessário falar em “socialismo com democracia”.
Além do que se revela pela expressão “socialismo com democracia”, algumas falas de Guilherme Boulos no programa direitista Roda Viva não deixam dúvida de que o líder do MTST é contra um socialismo real. Segundo Boulos, “cada país deve seguir seu caminho”, “não se constrói um caminho repetindo a experiência de ninguém”. Isto é, o candidato do PCB – e, imagina-se que o PCB também, não são defensores do legado da Revolução Russa. A experiência da primeira revolução socialista do mundo, portanto, não deve ser modelo para um programa socialista. Na mesma entrevista, o candidato chegou a dizer que socialismo era “igualdade de oportunidades”, que é exatamente o lema do capitalismo.
Embora o purismo do PCB em relação aos líderes tradicionais do movimento operário seja inútil, pois o maior defensor do socialismo é aquele que não mede esforços para que os trabalhadores tomem consciência de sua situação e derrubem o capitalismo, mesmo que para isso seja necessário participar de uma frente de luta com setores moderados, a candidatura de Boulos desmoraliza ainda mais o partido que se diz defensor dos interesses da classe revolucionária. Fica provado, portanto, que a “saída pela esquerda” do PCB sempre foi uma farsa: a única saída para os trabalhadores é a luta contra o golpe.