Seguindo a retomada das competições de futebol, iniciada nacionalmente com a volta do campeonato carioca, os jogos do Paulistão estão de volta desde a quarta-feira. O “científico” governador João Dória atendeu a um pedido da Federação Paulista de Futebol (FPF) e confirmou o retorno para o dia 22/07.
Em sintonia com todos os setores da burguesia, a reativação total da economia segue a pleno vapor, independentemente das condições sanitárias. Nesse cenário a conformação da esquerda com o #FiqueEmCasa, sem mobilizar em torno de um programa de combate à pandemia, como o proposto pelo PCO já em março, contribuiu para que o previsível desmonte da quarentena venha a ocorrer sem condições mínimas, como a ampla testagem da população ou a distribuição estatal de itens básicos como máscaras, luvas e álcool.
O retorno indiscriminado dos campeonatos de futebol, num momento crítico da pandemia no Brasil, traz um enorme risco aos profissionais do setor, suas famílias e ainda as pessoas com quem interagirem. Entre outros problemas que se colocam, como a impossibilidade de jogar futebol mantendo distanciamento social, qual será o rigor dos clubes para cortar jogadores fundamentais nos estágios decisivos dos campeonatos?
Além de ser uma expressão do consenso da burguesia, o retorno dos jogos sem as torcidas atua na desfiguração do esporte mais popular do mundo. Como qualquer atividade econômica que a burguesia explora, impera o imediatismo ao invés do planejamento, nesse sentido a imposição do retorno prematuro ignora que a popularidade do futebol vem da sua estreita relação com as torcidas.
A campanha contra as torcidas é anterior à pandemia, mas essa nova situação trouxe à tona o desprezo da burguesia por esse componente fundamental, que dá vida à cultura do futebol. Consequentemente, é também o que torna o futebol tão valioso financeiramente. Ao longo dos anos vemos as torcidas serem afastadas dos estádios, por preços abusivos dos ingressos, perseguição judicial, campanhas de difamação nos monopólios da imprensa.
Em seu lugar, a burguesia quer colocar torcedores de classe média, setores que já frequentam os assentos mais caros dos estádios e que não têm a mínima condição de criar o clima que as torcidas, em especial as organizadas, proporcionam aos jogos. Muito menos têm a obstinação do torcedor popular, que acompanha seu time nos piores momentos, como no famoso jejum de títulos do Corinthians entre 1954 e 1977.
Vale destacar que o Botafogo de Ribeirão Preto se posicionou contrariamente ao retorno do campeonato, publicando uma nota oficial no dia 09/07 e tentando adiar o retorno em uma reunião virtual entre os clubes no mesmo dia. A nota aponta inclusive que o momento atual é pior do que quando a competição foi interrompida.