O que há de comum entre Guilherme Boulos e Ciro Gomes além de sua ambição comum, e abutre, de ocupar o lugar de Lula nas eleições, enquanto o ex-presidente mofa na prisão com seus direitos políticos subtraídos?
Na verdade, o que há em comum é um casamento, um casamento burguês.
A grande patrocinadora de Boulos, como se sabe, é a Paula Lavigne, esposa de Caetano Veloso. O mesmo que, por sua vez, acaba de chamar voto para o Ciro Gomes: “Não me arrependo de votar no Lula, mas meu voto é Ciro” disse o cantor, uma semana após ter participado de um show na Argentina em favor da liberdade de Lula.
Fato é que Paula e Caetano recebiam em seu apartamento atores globais, intelectuais e políticos “de esquerda”, como Marcelo Freixo, e gente claramente direitista como o juiz Bretas. Tratava-se de promover uma unificação da elite “pensante” para além da oposição política “tradicional”.
Mas a divergência de opções de candidatos entre o casal não aponta para nenhuma contradição em essência. De comum acordo, ambos seguem um script que seria sem dúvida aprovado pela rede Globo, contra a qual nunca se confrontaram, e que consiste em impulsionar candidaturas outras que a de Lula, sejam lá quais forem.
Malgrado os esforços em forçar alternativas eleitorais razoáveis, a verdade é hoje inapelável e se impõe: ou se apoia Lula ou se apoia o golpe, o que parece ser a mais autêntica opinião do casal liberal Lavigne e Caetano.