Seguindo a crise política imensa que toma conta da Alemanha e ganhou contornos ainda maiores desde o início de fevereiro. O Partido Social Democrata (SDP) venceu a disputa eleitoral pelo governo de Hamburgo. Um verdadeiro terremoto atingiu o país desde o apoio do partido de Angela Merkel, União Democrática Cristã (CDU na sigla em alemão), ao partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), cuja coligação com o também direitista Partido Liberal Democrático (que tem uma sigla emblemática: FDP), permitiu ao último uma vitória eleitoral na Turíngia, o que deflagrou uma onda de protestos em todo o país e obrigou o governador eleito, Thomas Kemmerich a renunciar.
Novas eleições foram marcadas para a Turíngia mas ainda assim, o apoio de partidos da direita centrista a partidos fascistas representam o fim de um tabu na Alemanha, que desde a ascensão do fascismo, representado pelo Partido Nazista, não vê tal arranjamento de forças. E o SDP, em crise depois do apoio dado a Merkel e vendo sua votação para o parlamento europeu cair de mais de 27% para menos de 16%, ganha uma importante prefeitura, ainda que algumas ressalvas importantes se tornem necessárias.
Importante metrópole do norte da Alemanha, Hamburgo é um tradicional reduto eleitoral da esquerda graças a força das organizações operárias existentes na cidade. Ainda assim, em meio à crise que assolou os sociais democratas, a votação do SDP passou por uma sensível redução em Hamburgo desde o último pleito, em 2015, quando conquistou mais de 45% dos votos, contra 38% da atual legislatura. Com o turbilhão causado pela “linha cruzada” pela direita, o CDU (que em 2015 conquistou 15,9% dos votos), o FDP (que teve então 7,4%) e o AfD (com 6,1%), viram suas votações caírem para 11%, 5% e 4,9% respectivamente, o que aponta uma queda mais acentuada entre a direita centrista do que entre a extrema direita
Com o desenvolvimento explosivo da crise iniciada em 2008, a tendência é que a burguesia seja obrigada a recorrer cada vez mais a extrema direita. Sendo um país imperialista do primeiro escalão, a Alemanha parece ter uma margem de manobra muito maior para o que Mourão batizou de “aproximações sucessivas” do que outros países. Se mesmo assim, o centro resolveu apoiar os fascistas, temos um claríssimo sinal de que essa margem está cada vez menor, conforme a crise aumenta. É preciso acompanhar atentamente o desenrolar dessa versão alemã do “às favas com a consciência” mas uma coisa é certa: sem um levante revolucionário por parte dos trabalhadores, a tendência é de que, quebrado o “tabu”, as forças fascistas ganhem mais força na Alemanha.