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Mesmo com a crise

Lula, a burguesia e as eleições

Sem mobilização das massas, a burguesia ganha condições de lidar com o caos mantendo um governo de direita

A disputa em torno das eleições de 2022 já começou. Era inevitável. Os setores da esquerda pequeno-burguesa com talento para o centrismo, como o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, que dizem que agora não é hora para esse debate, estão apenas aguardando uma orientação mais precisa da burguesia, respaldados na ilusão de que os capitalistas não apoiem Bolsonaro. No entanto, na medida em que não tomam qualquer iniciativa, assistem de braços cruzados uma manobra monstruosa para excluir a esmagadora maioria da população do debate eleitoral.

Em 2018, o “centro” político decretou sua própria falência. O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, bem como o candidato do PSDB “do B”, Ciro Gomes, não conseguiram, mesmo com todo apoio da burguesia, chegar ao segundo turno. A burguesia se viu então obrigada a apoiar o fascista Jair Bolsonaro para impedir que o PT saísse vitorioso. Neste momento, todos os sinais indicam que o “centrão” não conseguirá se levantar do chão. Bolsonaro já está em campanha eleitoral. E a esquerda pequeno-burguesa se divide entre aqueles que ainda acreditam na viabilidade de algum candidato da direita — como João Doria ou Luciano Huck —, que são os frente-amplistas “puro sangue”, e aqueles que acreditam na viabilidade de Lula ser o candidato oficial da burguesia. Todos, ingenuamente, ignoram completamente a possibilidade de a burguesia apoiar Bolsonaro, o que aconteceu em 2018.

Quanto aos primeiros, não serão alvo desta polêmica. Os que não estão se preparando para a luta política em torno das eleições de 2022 simplesmente porque estão aguardando a burguesia escolher o genocida da vez são simplesmente traidores do povo e cúmplices de todos os crimes do golpe de Estado. Apresentar a candidatura de um vigarista como João Doria como programa para o povo é apresentar a fome, a pandemia e o desemprego como programa. É a antítese daquilo que a esquerda deveria defender.

A polêmica deste artigo se dirige, portanto, à crença infantil de que Lula será o candidato da burguesia. É fato que Lula é um candidato diferente de todos os demais da esquerda: ele é um líder de massas com tamanha força que consegue, em momentos específicos, impor algumas políticas próprias à burguesia. De certo modo, o governo Lula foi isto: um acordo entre uma política social de baixa intensidade, defendida por Lula, e a política econômica dos capitalistas. Mas mesmo esse acordo só é possível em condições específicas.

Lula, justamente por ser um líder de massas, pressionado por um movimento real, só é aceito pela burguesia se for para controlar um amplo movimento de massas, se for para conter a mobilização revolucionária dos trabalhadores. Sem essa mobilização, a burguesia não se vê obrigada a aceitar um governo comandado pelo líder petista.

É fato que há uma crise. De proporções extraordinárias: quase meio milhão de mortos, dezenas de milhares de desempregados, 60% da população se alimentando de maneira irregular etc. No entanto, a crise não força a burguesia a estabelecer um governo de esquerda. Muito pelo contrário: uma crise sem uma mobilização como contrapartida leva a burguesia a estabelecer um governo de elementos de sua confiança.

Embora a situação de crise seja de grande risco para a burguesia, uma vez que qualquer coisa pode levar a uma explosão, os capitalistas procuram estabelecer uma política de pobreza organizada. Isto é, apesar dos dados que apontam para uma crise humanitária — fome, desemprego e pandemia fora de controle —, a burguesia busca manter a inflação sob controle, os salários, mesmo baixos, sendo pagos em dia, empregos informais que mascarem o desemprego etc. A miséria é cada vez maior e a economia está fora de controle, mas a falta de mobilização permite que essa miséria seja administrável pelos golpistas.

É óbvio que a situação de miséria obriga a burguesia a tomar algum tipo de medida social. No entanto, se essas medidas forem tomadas por um governo de direita, isso permite que a burguesia consiga organizar o Estado de tal maneira que compense a política social com ataques neoliberais frenéticos. Coisa que um governo Lula não seria capaz de fazer.

Durante a pandemia, o Estado teve de gastar quase R$600 bilhões no “combate à pandemia”, dos quais mais de R$290 bilhões foram gastos somente com o auxílio emergencial. É muito pouco. Muito mesmo, diante das demandas da crise sanitária. No entanto, já está muito acima do que os capitalistas queriam gastar. E na medida em que são obrigados a ter esse tipo de gasto, os capitalistas terão de fazer um ajuste brutal, que um governo Lula dificilmente faria.

Está aí justamente o grande impasse de a burguesia permitir um governo Lula na atual crise. Lula não é a favor de uma política de ajuste brutal, nem tem muitas condições de fazer esse ajuste sem romper com sua base. Merece destaque, inclusive, que não só o Estado tem que lidar com o investimento alto para conter a crise social, como também o ajuste é necessário para garantir a gastança que o governo de Joe Biden está promovendo nos EUA. Como em toda situação de crise, o imperialismo vai arrancar o coro dos trabalhadores dos países atrasados para impedir a explosão social em seu próprio território.

Essa contradição não é nenhuma novidade. Mesmo nos marcos da política neoliberal, a burguesia se vê obrigada a adotar uma política de estímulo, ao mesmo tempo em que compensam cortando em outros setores.

Essa situação leva, portanto, à seguinte conclusão: o que a burguesia está buscando, neste momento, não é um governo Lula, que, para acalmar as massas, abre os cofres. O que a burguesia procura é um governo estável, que corte onde precise cortar e faça alguma política social para fazer demagogia.

Diante da crise social, a burguesia pode provavelmente tomar alguma medida paliativa para amenizar o colapso social, mas ela não irá adotar o programa das massas. Isso é, uma política real de combate à crise, sem as contrapartidas que a política neoliberal exige. Para garantir que a crise social e econômica seja superada por um programa de esquerda, das massas, é preciso que o povo esteja nas ruas. É preciso mobilização.

Sem mobilização, a burguesia não se vê encurralada e vai, naturalmente, encontrando uma solução sem a participação dos trabalhadores, nem da esquerda. Uma solução que venha de cima, e não das massas. Neste momento, em que a esquerda não está nas ruas, a burguesia só vê diante de seus olhos a possibilidade de eleger algum direitista. E como o “centrão” está muito desmoralizado, Bolsonaro vai se consolidando como esse direitista.

Até porque, na medida em que não há pressão nas ruas, a burguesia consegue ser ela própria um ponto de pressão sobre Bolsonaro, garantido que ele chegue a um acordo nos termos exatos que os capitalistas querem, ao mesmo tempo em que a classe dominante ganha tempo para tornar Bolsonaro um candidato viável. Um candidato que, mesmo atacando duramente a população, consegue garantir sua eleição porque não é desmascarado pelas ruas.

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