Na noite deste domingo (7), a população foi às ruas no Paraguai pelo 3º dia consecutivo de manifestações exigindo a saída do governo de Mario Abdo Benítez (Partido Colorado) e a vacinação imediata para toda a população. O presidente, de direita conservadora e pró-imperialista, vacinou menos de 0,1% da população, de 7 milhões de habitantes. Isto num momento em que o País ultrapassa 166 mil infectados e 3.200 mortos por coronavírus, apenas em dados oficiais do seu Ministério da Saúde.
Diante desta omissão completa do poder público, os trabalhadores paraguaios decidiram como melhor forma para enfrentar a situação imposta, pressionar o governo a tomar alguma atitude diante do colapso sanitário do País.
Foi assim que os paraguaios, desde a última sexta (5), tomaram às ruas com milhares de manifestantes – principalmente na capital Assunção, inclusive próximos da residência oficial do presidente – e exigiram medidas efetivas de saúde, como a vacinação de toda a população e a saída do governo genocida de Benítez (“Fora Marito”).
Não demorou para o governo se mexer. Ainda na sexta, o ministro da Saúde de Benítez renunciou. No dia seguinte, também caíram os ministros da Educação, da Mulher e o chefe de gabinete. A situação se radicalizou, houve enfrentamentos com a polícia e prisões de manifestantes. No entanto, rapidamente – quase num passe de mágica – o presidente que até então nada fizera para combater a pandemia, foi às redes de televisão nacionais no sábado (6) prometer mudanças e a reforma do governo. Ele se comprometeu a escolher “novas autoridades para pacificar o País”, porém, os trabalhadores não aceitaram suas promessas vazias! Neste domingo, pela terceira vez seguida, mantiveram-se nas ruas, comprovando que discursos não resolverão a crise sanitária no País, mas sim a mobilização popular para obrigar que os governos burgueses adotem medidas necessárias como a vacinação da população.
O caso escancara o contraste da atitude das organizações políticas paraguaias e sua população com o que ocorre neste momento no Brasil. Acompanhando a política da direita dita “científica”, a palavra de ordem geral da esquerda brasileira – que se coloca como espectadora desse verdadeiro massacre dos golpistas contra o povo brasileiro – é a de ficar em casa, como se isso fosse resolver o problema.
Nesta semana, o Brasil ultrapassou 11 milhões de infectados e 265 mil mortos por coronavírus, segundo dados do Ministério da Saúde. Ao mesmo tempo em que a campanha de vacinação segue mais como campanha do que como vacinação. Iniciada no dia 17 de janeiro na peça de propaganda do governador João Doria (PSDB) não sai do lugar. Até o momento, apenas 1,25% da população (cerca de 2,6 milhões de pessoas) recebeu a 2ª dose da CoronaVac, ou seja, estaria imunizada, num total de 211,8 milhões de brasileiros. Considerando que a vacina de Doria tem cerca de 50% de eficácia, o número de pessoas efetivamente imunizadas no País é inferior a 1,25% da população.
O exemplo do povo paraguaio explica na prática uma compreensão política que a esquerda brasileira ainda não assimilou. A burguesia não se omitiu diante da pandemia por um problema de “ciência”, mas sim porque não quer gastar dinheiro com a população. A crise capitalista está aí e se aprofundou com o coronavírus. Testes custam dinheiro, investir na saúde e comprar ou produzir vacinas, também. Ficar em casa é uma medida que não muda em nada a política da burguesia de economizar dinheiro “morra quem morrer”.
Não há como alterar a política da burguesia através da mera agitação política, seja através de “twitaços”, de carreatas ou “atos simbólicos”. Portanto, a única forma dos trabalhadores superarem a pandemia é obrigar os governos a adotarem as medidas necessárias para enfrentar à pandemia, como a imunização de toda a população, o atendimento de saúde e o auxílio financeiro. O que só pode ser feito através da mobilização dos explorados e oprimidos, nas ruas, em greves, ocupações, ou seja, enfrentando-se contra o regime.
Os paraguaios mostraram o caminho de como um presidente que governa numa verdadeira guerra contra o povo, negando-se a vaciná-lo, rapidamente pode se tornar um pacifista, “defensor” da vacina. Não se trata de nenhuma mágica, nem atalho, mas sim do poder da mobilização popular onde todas as grandes transformações sociais ocorreram: nas ruas.