O povo paraguaio está nas ruas de diversas cidades do país, como a capital Assunção e Cidade do Leste, na fronteira com o Brasil, em contínuos protestos contra o presidente Mario Abdo Benítez (Partido Colorado). A população pede a renúncia imediata de Abdo Benítez e a realização de eleições gerais já.
Em frente à sede do Partido Colorado, os manifestantes gritam “todos os dias, até que eles renunciem”. A imprensa golpista paraguaia também não foi poupada.
Os paraguaios estão revoltados com a incompetência do governo colorado em lidar com a pandemia. Apesar do país ter apenas 164 mil infectados e pouco mais de 3 mil mortos pela COVID-19 registrados, um número pequeno em relação aos países vizinhos, em termos percentuais trata-se de um dos maiores índices, uma vez que a população é de apenas 7 milhões de habitantes. O sistema de saúde está totalmente em colapso.
O governo paraguaio havia vacinado, até quinta-feira (5), apenas 1.635 pessoas com a vacina russa, Sputnik V. Ao começarem os protestos, o governo prontamente anunciou a compra de 1 milhão de doses da Sputnik V. Isto é a prova definitiva de que a mobilização popular faz até o mais direitista dos governos fazer mágica e “aparecer” vacinas onde não existia.
Na noite da sexta-feira (5) e madrugada do sábado (6), manifestantes entraram em confronto com o aparelho de repressão do estado. Em Assunção, 20 pessoas ficaram feridas em manifestação em frente ao Congresso. A violência foi, obviamente, iniciada pela polícia, que utilizou balas de borracha, jatos d’água e bombas de gás lacrimogênio para dispersar os manifestantes, que revidaram com paus e pedras.
O delegado de polícia, Silvino Leguizamón, pediu trégua aos manifestantes, levantando um lenço branco, ao notar que os manifestantes estavam em maior número e diversos policiais estavam feridos. Em outras palavras, o povo botou a polícia pra correr.
Além do anúncio das vacinas, os protestos motivaram o presidente direitista a solicitar que todos os seus ministros entregassem seus cargos, ainda na sexta-feira. O ministro da Saúde, Julio Mazzoleni, um dos ministros mais visados pela fúria popular devido à sua incompetência completa e total em lidar com a pandemia, renunciou ao cargo no mesmo dia. No sábado, foram demitidos os ministros Eduardo Petta (Educação) e Nilda Romero (Mulher) e seu chefe de gabinete, Ernesto Villamayor.
Apesar das demissões dos ministros, o povo não parece satisfeito. Eles querem a saída imediata do presidente golpista Abdo Benítez.
O Paraguai é um dos países mais pobres do continente e sofreu um golpe em 2012, quando o presidente eleito Fernando Lugo foi deposto, em um ensaio do que viria a ser o golpe no Brasil 4 anos após.
A pobreza extrema da população paraguaia, junto à crise econômica mundial e a pandemia, criou um grande barril de pólvora prestes a explodir. A população paraguaia está a morrer pela doença e pela fome, pois sua economia enfrenta uma grave crise de desabastecimento. O Paraguai é um dos países que menos investem em saúde, estando à frente apenas de Guatemala e República Dominicana na América Latina e no Caribe.
Dentre os manifestantes, estavam enfermeiras, pessoas que perderam parentes pela COVID-19 e trabalhadores que foram prejudicados pelas medidas restritivas.
As contradições que se afloram no Paraguai e no restante dos países de capitalismo atrasado criam uma enorme polarização. A população, assim que mobilizada obriga o acuado governo a atender a contragosto as suas reivindicações imediatas. O senado paraguaio está disposto a entregar Abdo Benítez aos leões ao pedir que este renuncie ao cargo. A burguesia de países pobres, como o Paraguai, é extremamente frágil e, tremendo-se como varas verdes, sabe que o ditado “vão-se os anéis, ficam-se os dedos” é verdade e pode ceder ao apelo popular, mesmo que parcialmente, se tiver sua situação posta em risco.
É impossível não ver semelhanças entre a situação paraguaia e a situação brasileira. As manifestações no Paraguai indicam que o caminho também para o Brasil é através de grandes mobilizações de massa. Só assim será possível derrotar o golpe de estado que se mantém em ambos os países.
Tanto Brasil como Paraguai foram vítimas de golpes orquestrados pelo imperialismo, que depuseram governos nacionalistas democraticamente eleitos pelo povo. O que aconteceu após os golpes foi uma sequência violenta e implacável de ataques aos direitos da população trabalhadora.
A pandemia, em ambos os países, especialmente no Brasil, causa danos irreparáveis e uma imensa perda de vidas humanas, especialmente dos trabalhadores do campo e da cidade. Por isso, é necessário derrubar, de uma vez por todas, os golpistas.
No Brasil é uma necessidade imediata a mobilização pelo Fora Bolsonaro e todos os golpistas e a convocação de eleições gerais imediatamente, com a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esta é a única maneira de restaurar as condições mínimas necessárias de sobrevivência e garantia de direitos da classe trabalhadora.
Sem derrotar os golpes impulsionados pelo imperialismo na América Latina e no Caribe, será impossível reverter seus danos. Não é possível perdoar os golpistas aliando-se a eles em troca de falsas promessas eleitoreiras. É necessário estabelecer governos com programas populares, que fortaleçam as posições de luta da classe operária.