No seminário jurídico da CSP Conlutas, realizado no último dia 22 de novembro, contou com a participação de Plínio Arruda Sampaio Jr. (PSOL) e Zé Maria de Almeida (PSTU). O evento discutiu o cenário político após a eleição de Bolsonaro e as “ tarefas e desafios” da conjuntura.
Um ponto mais interessante do debate foi justamente a caracterização do significado da vitória de Bolsonaro. Para o representante do PSTU. “Entre os fatores citados, Zé Maria falou da crise econômica, da devastação social que se abateu sobre os trabalhadores e o sentimento contra o sistema, o “fora todos”. (http://cspconlutas.org.br/2018/11/debate-sobre-conjuntura-abre-seminario-juridico-nacional-csp-conlutas/”).
Como teve gente que acusou a política do PSTU de ” inócua” e ” sem base real”, Zé Maria releva de maneira cristalina que o ” Fora Todos” tem resultados concretos e tangíveis na conjuntura brasileira. Revelando-se uma política estratégica.
Veja você, que o triunfo de Bolsonaro, um representante ” anti político” da extrema direita é na visão de Zé Maria resultado do ” sentimento contra sistema, o Fora todos”. Assim, colocar um demagogo fascista como Bolsonaro no poder é o resultado da lógica da política “ Fora todos” pregada pelos morenistas.
A política do Fora Todos que levou Bolsonaro no Brasil é a aplicação coerente do PSTU da política da LIT( a ” internacional” morenista), que apoio o golpe militar no Egito e os nazistas na Ucrânia como resultado das ” revoluções”. Não importa para o PSTU, o fato de que a derrubada de governos da esquerda reformista ou de nacionalistas dará lugar a regimes da extrema direita. A queda dos governos como do PT no Brasil ou da Irmandade Mulçumana no Egito seria algo ” progressista” pois expressam a ” vitória das massas nas ruas” assim como os governos da extrema direita seria o resultado( ainda que distorcido) da “ruptura das massas” com a esquerda reformista ou nacionalista.
Um dos mais exóticos e aberrantes balanço das eleições é a visão do PSTU, que por sinal já criticamos aqui nesta coluna, de que a classe trabalhadora para “ castigar” o PT resolveu apoiar Bolsonaro. Além do mais, para Zé Maria é uma exagero afirmar que a chegada a presidência de um representante da extrema direita, ” com voto da classe trabalhadora” significa que a classe trabalhadora foi derrotada “A classe trabalhadora não está derrotada, apesar de ter votado nele”.
O colega do PSOL na mesa de debate de conjuntura no evento da CSP/ Conlutas, que por sinal também não lutou contra o golpe, acompanhou no geral as análises de Zé Maria. Para Plinio Sampaio, “as eleições demonstraram não somente o repúdio ao PT, mas a todos os partidos da ordem. “( idem).
Interessante observar a completa falta de concretude dos representantes do PSOL e do PSTU, o regime golpista teve que impedir que Lula fosse candidato para poder ” eleger” Bolsonaro, que mesmo assim conseguiu um pouco mais de um terço dos votos, e o candidato plano B do PT mesmo com toda a manipulação e fraude chegou ao segundo turno. Como se vê o suposto ” repúdio” ao PT é tão somente uma posição de exaltação de Bolsonaro, o candidato contra ” todos” pela esquerda pequeno burguesa.
Para Zé Maria , o “Fora todos” não serviu apenas derrubar o PT, tem um alcance maior, relaciona-se com ” mobilização popular ” para “derrubar tudo isso que existe ai”. Neste sentido, precisamos concordar com o dirigente do PSTU, o ” Fora todos” é uma politica que levou ao bolsonarismo.
A política do PSTU é uma caricatura da política stalinista do chamado ” Terceiro período” que permitiu a ascensão do nazismo na Alemanha nos anos 1930. Naquele contexto histórico, o Partido Comunista Alemão recusou a frente única com a social-democracia contra o nazismo, alegando que eram ” irmãos gêmeos”. O resultado pratico dessa política sectária foi a derrota dos movimentos populares e trunfo da extrema-direita. Mesmo diante dessa catástrofe política, o PCA caracterizou a chegada de Hitler no poder em 1933, como inicio do declínio do nazismo, representando de maneira ” distorcida” a rejeição de ” Todos” pelas massas e indicava a ” ruptura” da classe trabalhadora com a social -democracia. Com sabemos essa política ultraesquerdista levou a um desastre político.
No Brasil, o PSTU assim como os stalinistas na década de 1930 adotou a politica de combater a esquerda reformista como inimigo principal, recusando-se a frente única contra o golpe da direita, apresentando a justificativa que ” todos são iguais”, que o ” PT era igual a direta”. Agora, após o resultado eleitoral, o PSTU primeiro enaltasse a ” eleição” de Bolsonaro como produto da vontade popular, do ” voto do castigo” e da ” ruptura da classe trabalhadora com o PT”, ( não realizando a elementar análise dos dados). e depois, também como os stalinistas na ocasião da eleição de Hitler, fomentam a noção que a vitória da extrema direita indica um voto anti sistema, que levará a vitória no futuro da ” esquerda não reformista”.
Na narrativa de Zé Maria, os trabalhadores abandonaram os reformistas e derrubaram Dilma. Depois de maneira provisória( para castigar o PT) votaram em Bolsonaro, rejeitando ” todos” e demostrando um ” sentimento contra o sistema”. Em breve, os trabalhadores desiludidos com ” mito bolsonarista”, passaram para posições ” revolucionarias”.
Curiosamente, o PSTU defendeu que primeiro tiramos Dilma, depois Temer, e assim por diante, até tiramos ” Todos”, mas não seria então incoerência recusa-se a chamar o ” Fora Bolsonaro”?
Para os simples mortais, pode parecer inocorrência, mas a intervenção de Zé Maria serviu para elucidar também essa questão. O Fora Todos não era para tirar todos, mas para levar ao poder alguém que representasse o “povo” ( e também os trabalhadores) contra ” todos” e ” contra tudo isso que esta ai”. Assim, o PSTU não defende o ” Fora Bolsonaro”, pois seria lutar contra um candidato que de maneira ” distorcida” representa própria política do PSTU do ” Fora Todos”. Assim, mesmo considerando Bolsonaro um filho bastardo do ” Fora todos”, Zé Maria tem razão identificar Bolsonaro como parte ou resultado da sua política.