O dia de hoje marca de maneira expressiva a situação política. Pela primeira vez desde o início da pandemia, o conjunto da esquerda nacional decidiu convocar um ato de rua. Em todas capitais do País, os trabalhadores estão saindo às ruas para deixar claro que a paciência do povo acabou. De gritar em alto e bom som que ou o Estado aparece com vacina para todo mundo, implementa um auxílio emergencial digno e encontra uma solução para o desemprego, ou o País vai pegar fogo. Na mais absoluta contramão, no entanto, encontra-se o Partido Socialista [sic] Brasileiro, o PSB.
O dia nacional de mobilização foi o resultado de um encontro de mais de 400 delegados, representando dezenas de entidades, desde partidos políticos a organizações do movimento popular e do movimento operário. A III Plenária Nacional de Organização das Lutas Populares, que aconteceu no dia 11 de maio, contou com a presença não só de setores combativos da esquerda nacional, como o Partido da Causa Operária, como também dirigentes de organizações de massas, como o MST e a CUT, e partidos da burguesia que, neste momento, procuram se mostrar como progressistas e “antibolsonaristas”. É o caso do PSB.
Embora o ato de hoje (29) seja, em si, um importante marco na situação política, a mudança já havia acontecido na própria plenária. Setores que, até então, defendiam a política do “fique em casa”, encontrando todo tipo de desculpa para não ir às ruas, passaram a defender a mobilização como caminho necessário para a luta contra o governo Bolsonaro. E essa mudança não veio à toa: é o resultado da crise social cada vez maior, que encontrou, como forma mais organizada e, portanto, mais decisiva de revolta os atos de 31 de março e de 1° de maio. A mobilização dos trabalhadores, impulsionada pelo PCO e pelos comitês de luta, terminou por colocar abaixo o muro erguido contra os atos de rua.
Se é possível sair às ruas ou se os trabalhadores querem se mobilizar já não é mais uma polêmica no interior da esquerda. É um problema superado pela própria experiência. Agora, o que resta à esquerda é tão somente consolidar essa brecha. É hora de não só passar pela porteira aberta pela esquerda nacional, mas arrancá-la e jogá-la fora. Que os trabalhadores passem por cima dela e a destruam, para que ela nunca mais se erga. Que derrubem o muro e acabem de vez com essa campanha reacionária de que o povo deveria apanhar calado.
Mas o PSB, por sua vez, ainda se mantém agarrado a esse muro. Na plenária, quando todos já estavam dispostos a organizar um ato de rua, o partido teve a capacidade de se colocar contra a manifestação. No momento em que 450 mil pessoas tinham sido assassinadas e outras milhares continuavam morrendo todos os dias, o PSB grita: não saiam, não saiam, não saiam! Fiquem em casa e morram em casa.
A posição do PSB é asquerosa, mas é a mesma de toda a burguesia. É a mesma de João Doria (PSDB). É a mesma do fascista Jair Bolsonaro. É a mesma da OMS e de todos os golpistas. Dos banqueiros imundos, da Pfizer e de todos aqueles que só veem lucro diante do massacre da pandemia. Até hoje, a burguesia mantém a sua posição: o povo não deve sair para se manifestar. Deve “ficar em casa” fazendo o seu isolamento social. E esse “isolamento”, como todo mundo já bem sabe, é pegar ônibus lotado todos os dias, não ter direito a um leito no hospital e ainda morrer de coronavírus por causa dos bares e restaurantes!
Mas o que espanta que a política do PSB é a política da burguesia? Absolutamente nada. O PSB é um partido da burguesia. Um partido, inclusive, que apoiou o golpe de Estado, Que está tão comprometido com os parasitas que estão destruindo o País que votou a favor da entrega da base de Alcântara para o imperialismo. No entanto, por algum motivo que ninguém sabe qual é — talvez por causa do seu nome —, o PSB é considerado pelos parlamentares da esquerda pequeno-burguesa como um partido “progressista”. Ou, na melhor das hipóteses, um partido “aliado”. Outros partidos, que não têm “socialista” no nome, também gozam do mesmo status que o PSB. São eles o PDT, a Rede, o PV e, para alguns, o golpista Cidadania (ex-PCB).
Supostamente, mesmo o PSB sendo golpista, canalha, pró-imperialista e vendido, valeria à pena fazer uma aliança com esse partido porque ele teria algum interesse em comum com a esquerda. Pura mentira. Não é possível defender os mesmos interesses da esquerda e ser um capacho da burguesia ao mesmo tempo. O que o PSB defende é simplesmente a farra dos capitalistas. Seus deputados são representantes de tudo o que há de mais podre. São advogados das transações que deixaram o País com 15 milhões de desempregados oficiais e quase meio milhão de mortos.
No que o PSB estaria disposto a se aliar à esquerda? Para que fosse considerado um aliado, partidos como o PSB e o PDT deveriam, no mínimo, somar forças. Mas em nada somam. Se o governo Bolsonaro só pode ser derrubado por meio da mobilização, se a vacina só pode ser conquistada com o povo na rua, qual a utilidade desses partidos, que são declaradamente contra essas mobilizações?
A ilusão de que o PSB seria um aliado vem de uma concepção muito atrasada e oportunista da esquerda pequeno-burguesa. O PSB seria um aliado porque, embora não saia às ruas, poderia votar a favor de algum projeto na Câmara dos Deputados. Ora, mas está justamente aí o problema. O PSB não sai às ruas porque é contra a mobilização popular. Porque sabe que, quando a situação explode e o povo está nas ruas, os interesses carreiristas da burguesia vão para o espaço. A política parlamentar, como toda ela, é pura enganação. Sem mobilização popular, o PSB se sente capaz de fazer qualquer vigarice, como demonstrou durante o golpe de Estado.
E não é só o PSB, mas, como dito acima, o PDT, PV, Rede, Cidadania. E, logicamente, os golpistas mais escancarados, como DEM, MDB e PSDB – os quais uma parcela da esquerda insiste em fazer um acordo, o que seria ainda mais absurdo do que com os primeiros, porque aqueles ao menos têm uma tradição de se disfarçarem de esquerdistas, já o PSDB ou o DEM são direitistas puro.
A esquerda não precisa de “aliados” como esses. Não passam de sabotadores que tentam agarrar a esquerda para impedir que ela se mobilize – pois sabem que a verdadeira e única força da esquerda está na mobilização dos trabalhadores, não nas instituições, as quais são controladas por esses mesmos partidos da burguesia.