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Para esquerda, derrotamos os golpes na América Latina

Alguns setores da esquerda enxergam as pequenas vitórias eleitorais conquistadas em poucos países da América Latina como derrotas ao imperialismo e ao golpismo da burguesia

O articulista Emir Sader publicou, recentemente, no Brasil 247, uma coluna em que ele celebra uma possível vitória de Lula como a recomposição de um bloco “antineoliberal” na América Latina, envolvendo também Argentina, com Alberto Fernández, e México, com López Obrador. 

Em seu texto, Sader se utiliza de uma visão confusa da história da América Latina para estabelecer um padrão de frequentes vitórias no continente. Ele elenca os acontecimentos após a Revolução Cubana e tenta comprovar que a esquerda nunca fica muito tempo longe do poder, mas sua análise é totalmente desproporcional – em seu texto, trata a vitória eleitoral de Allende no Chile e sua subsequente derrubada por um violentíssimo golpe militar, que deu um lugar a um regime ditatorial de quase vinte anos de duração, como se fossem equivalentes. Seria o equivalente a você colocar em mesmo plano um arranhão no rosto de um inimigo com a perda de um braço ou uma perna numa briga. 

Com base nessa visão um tanto quanto esdrúxula do funcionamento político, ele procura caracterizar o momento atual do subcontinente como um momento de crescentes vitórias da esquerda. 

Segundo sua análise, na Argentina a direita teria sido superada com a simples vitória eleitoral de Alberto Fernández, o qual ele parece acreditar que ainda permanecerá ocupando o poder no próximo período. No entanto, o que se vê de fato é que Fernández não fez nenhuma mudança significativa na economia de seu país e não tomou nenhuma ação que favorecesse verdadeiramente a classe operária e os explorados. Além disso, há uma forte campanha contra seu governo por parte da extrema-direita neste momento, com base na sua má atuação durante a pandemia. Por conta disso, é possível que não se eleja novamente e seja sucedido não pela direita tradicional de Macri, mas por alguém da própria extrema-direita.

O caso da Bolívia, também mencionado por Sader, é igualmente mal analisado. Segundo ele a eleição de Luis Arce poderia ser caracterizada como uma importante conquista da esquerda no país. No entanto, é preciso relembrar que Arce era da ala mais direitista do MAS e não reverteu nenhuma das ações tomadas pelos golpistas durante a gestão de Jeanine Áñez. 

López Obrador, do México, também é um caso problemático. Ele é um dos mais conciliadores de todas as lideranças esquerdistas que chegaram ao governo no último período. Além disso, há uma constante movimentação da direita mexicana no sentido de derrubá-lo através de um golpe de Estado, conforme denunciado por ele mesmo. Portanto, a situação não é nada estável em seu país.

No caso do Brasil, a análise apresentada por Sader é, possivelmente, a mais fantasiosa. Primeiro, ele dá como praticamente certa a vitória de Lula nas próximas eleições, o que é muito distante da realidade. Apesar de uma decisão pontual do STF, neste atual momento, permitir que Lula se candidate novamente no ano que vem, nada garante que ele não vá ser novamente condenado em Brasília, com a reavaliação dos processos da Lava Jato por uma instância de lá, que muito provavelmente irá considerá-lo culpado mais uma vez. Além disso, está claro que não interessa à burguesia um novo governo do PT. Nas próximas eleições, será feito o possível para que Lula não se eleja e, caso ele vença, há, inclusive, a possibilidade de mais um golpe de estado.

É preciso refutar, também, a colocação de Emir Sader com relação ao problema do neoliberalismo. Ele considera os governos nacionalistas burgueses que ascenderam ao poder nos países da América Latina a partir dos anos 2000 como “antineoliberais”, pelo simples fato de estes serem governos de esquerda. Seguindo essa lógica, o neoliberalismo nos países latino americanos teria uma “duração curta”. Agora, com o que ele considera a vitória certa, o ciclo do neoliberalismo estaria novamente interrompido. Ele considera, inclusive, que a situação do bloco esquerdista na América Latina estaria em ainda melhores condições agora do que no período anterior. Simplesmente pelo fato de haver presidentes de esquerda no que ele diz ser os três principais países da América Latina: Brasil, Argentina e México.

A análise é absolutamente incorreta. Primeiro que os governos do nacionalismo burguês destes países não são antineoliberais. Eles mantiveram toda a estrutura e a lógica econômica do neoliberalismo funcionando, fornecendo apenas algumas poucas compensações com programas sociais de muito baixa envergadura. Podemos ver pelo exemplo do próprio PT no Brasil. O governo Lula manteve entre seus ministros figuras ligadas aos banqueiros, como Henrique Meirelles e outros. Além disso, não foi revertida nenhuma privatização das estatais entregues à burguesia pelos governos anteriores. O que se viu foi a aplicação de auxílios como o Bolsa Família, que é de muito baixo valor. É evidente também que a ferocidade de governos neoliberais “puro sangue” como os de FHC é muito maior e muito mais destrutiva, no entanto, não é possível dizer que os governos da esquerda sejam antineoliberais, justamente por ser esse o modo de funcionamento do capitalismo atual.

Além disso, é absurdo pensar que, depois de todo o investimento feito pelo imperialismo nas mais diversas formas de golpes de estado ocorridas no continente, ele iria simplesmente permitir que houvesse uma retomada tranquila e democrática de representantes da política anterior. Se houve algumas vitórias eleitorais dos partidos de esquerda em certos países, essas vitórias foram conseguidas depois de muitas concessões e acordos com a direita, que as tornaram totalmente incipientes. 

A concepção defendida por Emir Sader é compartilhada por alguns setores da esquerda, que se colocaram numa onda de otimismo totalmente irrealista com a liberação temporária de Lula para participar das eleições. No entanto, não é possível concordar que umas poucas vitórias eleitorais, que muito provavelmente não se repetirão nas próximas eleições, signifiquem a derrota dos golpistas. A crise política é muito profunda e a burguesia necessita de governos que apliquem medidas cada vez piores contra os trabalhadores. Em todos os países, para que se conquiste vitórias eleitorais significativas, é preciso que o povo se organize, saia às ruas e lute pela derrubada dos governos golpistas à força. 

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