A 43ª Universidade de Férias do PCO, que se realizará no interior de São Paulo entre 12 e 26 de janeiro de 2019, terá por tema: Fascismo: o que é e como combatê-lo.
É uma abordagem única.
No marxismo, a compreensão da realidade não é uma mera construção mental e nem mesmo uma decorrência do simples estudo da história, mas sim o fruto da contínua relação entre o mundo concreto e o ideal. No caso específico da compreensão de fenômenos políticos – naturalmente sociais –, tal entendimento só se dá por meio da atuação consciente diante deles, e não apenas como uma construção analítica externa. O PCO é uma das poucas organizações de esquerda do Brasil capazes de produzir uma verdadeira interpretação marxista sobre os fenômenos políticos porque participa deles.
Estudando o fascismo junto a quem luta contra o fascismo
O Partido da Causa Operária vem se destacando sobretudo nos últimos anos na luta contra o golpe e contra o fascismo no Brasil. É considerado, internacionalmente, uma das organizações políticas de vanguarda na defesa de uma política verdadeiramente marxista e revolucionária, com ramificações em mais de 20 estados da federação em em diversos países da Europa e América do Sul.
No que concerne especificamente à luta contra o fascismo e suas diversas manifestações, foi o PCO quem estimulou desde 2014 a formação de Comitês de Luta contra o fascismo – e em 2016 contra o golpe. Foram esses comitês que organizaram sua autodefesa e enfrentaram decididamente os fascista nas instituições de ensino e nas ruas em Recife, Brasília, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e mais recentemente no Rio de Janeiro – no caso da revoada dos coxinhas do MBL em frente ao Colégio Pedro II.
Os militantes do PCO buscam levar à prática a política do Partido, e por isso estão presentes na organização dos principais atos de rua dos últimos anos, como as manifestações pela anulação do impeachment de Dilma Rousseff, contra a prisão de Lula – em Curitiba, Porto Alegre e São Bernardo do Campo –, ou no registro de sua candidatura – em Brasília. Na universidade de férias, você não apenas estudará o fascismo, mas estará em contato direto com alguns daqueles que organizam hoje a luta contra o fascismo no Brasil.
Alguns dos textos que serão estudados
No campo teórico, serão disponibilizados textos de autores marxistas fundamentais – alguns dos quais lutaram diretamente contra os fascistas no Entre Guerras.
Uma coletânea do revolucionário bolchevique Leon Trotsky é Revolução e contrarrevolução na Alemanha, trazendo textos escritos entre 1929 e 1933 pelo organizador do Exército Vermelho soviético. A obra foi coligida e impressa em 1933 pelo intelectual trotskista brasileiro Mário Pedrosa (1900-1981), que também a traduziu e prefaciou no calor dos acontecimentos.
Outra obra de Trotsky traz seus escritos entre 1932 e 1940 e foi organizada pelos editores da Pioneer Publishers, quando deu aos prelos pela primeira vez o panfleto Fascismo: o que é e como combatê-lo [Fascism: what is it and how to fight it] em 1944, a qual teria 15 anos depois, em 1969, uma nova edição revisada e prefaciada pelo próprio jovem editor George Lavan Weissman (1916-1985).
Você sabe o que é fascismo?
Hoje usa-se fascismo como se fosse um adjetivo qualquer. Há 25 anos, o advogado norte-americano Mike Godwin, experiente em debates na internet postulou o que viria a ser conhecida como Lei de Godwin, segundo a qual “À medida que uma discussão online se alonga, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou os nazistas tende a 100%”. Tal uso “vulgar” dos termos “fascista” ou “nazista” acabou por esvaziá-lo de conteúdo. A própria extrema direita passou a formular a absurda e paradoxal teoria de que “o fascismo é de esquerda”, já que o partido nazista alemão continha em sua sigla a palavra socialista.
Por definição, porém, o fascismo é um movimento de direita, criado por Benito Mussolini na Itália entre as guerras, consistindo na ação coletiva baseada em valores míticos ou irracionais – a superioridade racial, a afirmação nacional etc. – que fundamentalmente exclui e elimina grupos e indivíduos diferentes, e que frequentemente leva à tomada de poder por um “líder supremo” ou ditador que comanda tal ação.
Do ponto de vista da luta de classes, a criação de movimentos de natureza fascista é fomentada por setores da burguesia em momentos de crise, quando se faz necessário esmagar as lideranças e movimentos populares de modo a estabelecer um regime de força. O mecanismo preferencial é a cooptação inicial da pequena burguesia, que funciona como correia de transmissão para a arregimentação de setores inferiores do próprio proletariado. Se a pequena-burguesia é atraída pela promessa direta de cargos e favores, bem como pela irracionalidade de natureza moral – como a “luta contra a corrupção”, a “luta contra o crime” etc. –, o lumpen-proletariado é atraído pela promessa de salvação naquela coletividade excludente.
Por que entender o que é fascismo, hoje?
Mais que uma questão semântica, porém, com a crise das democracias burguesas – que acompanha a crise geral do capitalismo –, o mundo vem presenciando nos últimos anos uma nova ascensão da extrema-direita e consequentemente do fascismo. No Brasil, o problema tornou-se real a partir da manifestações “apartidárias” de junho de 2013, com a criação de grupos fascistas diretamente financiados pelo imperialismo, como o Movimento Brasil Livre (MBL), o Revoltados Online ou o Vem pra Rua. Tais grupos passaram a agir de modo sistemático no combate à esquerda nas ruas e na imprensa. Comemoraram o cinquentenário do golpe militar em março de 2014, juntaram-se à imprensa golpista nos coxinhatos contra a reeleição de Dilma Rousseff e, em 2015, no movimento que levaria ao impeachment fraudulento da presidente. Após o impeachment, passaram a atacar fisicamente as atividades populares, como no caso das invasões fascistas às ocupações das universidades e escolas em todo o Brasil contra a Emenda Constitucional do novo Regime Fiscal.
Como não poderia deixar de ser, a “velha guarda” do fascismo brasileiro também voltou a levantar a cabeça junto a esses movimentos. Ex-militares de classe média passaram a se articular mais definitivamente pedindo o retorno da Ditadura Militar. O então deputado federal Jair Bolsonaro, um tosco capitão do exército tornado em pseudo-celebridade política acabou ganhando os holofotes ao dedicar seu voto em favor do impeachment ao “coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o terror de Dilma Rousseff” – um dos mais cruéis torturadores do anos 60 e 70.
Em tempos de golpe, surpreendentemente Bolsonaro tornou-se um “mito”, vindo a ser eleito Presidente da República num processo eleitoral fraudulento, calcado na prisão do ex-presidente Lula, na perseguição aos movimentos e partidos populares, na supressão da campanha política e finalmente na descarada manipulação dos resultados eleitorais, com a eleição mais direitista do Brasil. Com a ascensão de Bolsonaro e demais golpistas de extrema-direita, cada vez mais o fascismo das ruas corre o risco de se transformar em fascismo de estado, reprimindo, perseguindo, prendendo, torturando e assassinando seus opositores políticos.
De pouco serve, portanto, encaixar o bolsonarismo e a ascensão da direita no Brasil e no mundo em definições preconcebidas acerca do fascismo – e é isso o que diversos teóricos da esquerda pequeno-burguesa vêm fazendo. É irrelevante discutir em que medida o MBL, os bolsonaristas ou os adeptos do Escola sem Partido se aproximam ou se distanciam do fascismo tal como ocorreu na Itália do Entre-Guerras. Importante é caracterizar uma analogia efetiva entre ambos os momentos, e por meio de tal caracterização estabelecerem-se estratégias e táticas de combate a mais essa forma extremada de avanço do imperialismo sobre a classe trabalhadora. A experiência prática recente mostrou as limitações da via eleitoral como meio de combate ao fascismo.
Como caracterizar esse movimento e como dar combate a ele? É possível derrotar o fascismo nas instituições ou através do voto? Essas e outras questões serão discutidas na 43ª Universidade de Férias do PCO! Venha estudar conosco!