A luta das mulheres é fundamental para levar a frente a luta contra o golpe. E a luta contra o golpe é a única frente possível para fazer avançar as pautas de libertação feminina.
Pela situação de dupla-exploração, as mulheres trabalhadoras são as mais atingidas pela perda de direitos sociais e trabalhistas. Devido a sua posição de mãe, e também como a provedora do lar – dado os 37,5% de famílias chefiadas por mulheres, a mulher acaba respondendo por toda as responsabilidades relativas reprodução da sociedade de trabalhadores. Esse fato a coloca na linha de frente dos atingidos pela perda da estabilidade de emprego, redução de salários e flexibilização dos horários de serviço levado pelo governo golpista.
Nesse sentido, os ataques aos serviços de saúde, como o Sistema Único de Saúde, os serviços sociais, como o Bolsa Família e a educação, com a prometida implantação do Ensino a Distância até para o Ensino Fundamental, devem atingir a vida das mulheres frontalmente. Apenas uma das consequência práticas dessas medidas, por exemplo, é a intensificação da perseguição feminina pelo Conselho Tutelar por “deixarem seus filhos sozinhos enquanto cumprem o horário de serviço”: com o fim dos direitos complementares de escola presencial e Bolsa Família, a mãe não terá nem mesmo meio período livre para o trabalho, enquanto também vê a já baixa ajuda na renda familiar proporcionada pelo cartão cidadão sendo destruída.
Nesse contexto de ataque sistemático ao direitos mais básicos da classe de oprimidos, é natural que a luta pelos direitos femininos seja colocada de escanteio pelo governo golpista e pela esquerda pequeno-burguesa que faz uma versão “light” da própria pauta da direita. A luta histórica pela legalização do aborto, que é a luta pelo amparo estatal ao direito mais básico da escolha da mulher sobre o seu próprio corpo e sua própria vida, como era de se esperar, também foi colocada em segundo plano. A escolha “de campanha” de abandonar a pauta do aborto levada pela chapa “Haddad-Manu” foi influência direta das pressões golpistas, provando-se que a pauta do golpe também contêm o ataque direto às mulheres. Dessa forma, a luta pelos direitos da mulher estão indissoluvelmente atreladas a luta contra o golpe.
Como exemplos, é possível citar a série de “estupros educativos” de bolsominiuns contra mulheres por sua posição política de esquerda. No mesmo sentido, estão os estupros de policiais contra mulheres da favela nas comunidades do Rio de Janeiro sob intervenção militar. Esses fatos deixam claro que a base social do governo golpista é favorável a uma política de violência, inclusive física, contra as mulheres.
A pseudo-pauta de luta feminina do “elenão”, promovida pela própria direita golpista, por outro lado, é apenas mais uma forma de desmoralizar a luta real das mulheres por seus direitos. Uma prova disso é que, ao mesmo tempo em que a rede Globo e figuras como Marina Silva e o Roberto Barroso se disseram partidários da dita “luta das mulheres contra o fascismo”, eles foram responsáveis importantes pela própria existência do golpe que criou o fenômeno Bolsonaro. Isso prova o cinismo desses setores, completamente despreocupados da situação material vivida pelas mulheres. Por isso, é preciso trabalhar na formação de comitês de luta contra o golpe que respondam a série de ataques físicos, econômicos e políticos aos direitos femininos.
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