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Para a ala direita do PT, partido deveria ficar a reboque dos golpistas e se aliar ao imperialismo contra a Venezuela

Num artigo intitulado O PT e o compromisso com o erro, publicado no Jornal GGN, o consultor da Fiesp André Araújo aponta suas discordâncias com a política do Partido dos Trabalhadores desde sua fundação. Dizendo-se “amigo de José Dirceu”, esse trêfego senhor afirma que “a força do PT depende de alianças das forças que tentarão barrar a ultra direita [sic] mas tem que ser em conjunto, como faz um exército aliado numa batalha”. Tais aliados – na esfera parlamentar – seriam o o que ele chama “bloco progressista de oposição na Câmara” formado por PSB, PDT e PCdoB. Para chegar a essa conclusão, enumera o que considera serem outros dois grandes “erros” do PT no passado recente. O primeiro seria o apoio ao regime chavista Venezuelano, comandado por Nicolás Maduro. O segundo seria a nomeação de figuras pouco confiáveis para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Caso adotado, o receituário direitista de André Araújo não apenas pavimenta o caminho da derrota parlamentar do PT na esfera institucional, mas também fomenta a desmobilização definitiva da maior agremiação de esquerda da América Latina em função de compromissos parlamentares.

Como se sabe, o que define o campo político de um partido ou de qualquer coletivo não é seu discurso ou sua ideologia, mas sua base fundamental. Quanto maior a base proletária, mais à esquerda está o partido, quanto maior a influência da burguesia, mais à direita. A maior base de trabalhadores do cenário político nacional é comandada e articulada pelo PT, solidamente apoiada nos milhares de sindicatos da CUT e em diversos movimentos populares. É isso, mais que qualquer ideologia, ou mais que cargos institucionais, que confere protagonismo ao PT no campo da esquerda.

É da capacidade de organização e de mobilização desses trabalhadores que vem a força política do PT, e não da capacidade de barganha de cargos institucionais e verba, como fazem os partidos puramente burgueses como o PSDB ou o DEM. Lula, oriundo da classe operária e líder máximo do PT, personifica a capacidade de organização popular do Partido. Por isso a burguesia fez questão de encarcerá-lo. Por isso barrou sua candidatura à presidência. Por isso é fundamental a toda a esquerda lutar por sua liberdade.

Com o golpe, partidos e personagens que se diziam à esquerda assumiram uma postura não apenas direitista como golpista. Foi o caso, definitivamente, do PSB e do PDT. É o caso também da ala mais fisiológica dentro do PCdoB, que vem travando uma encarniçada disputa no partido pela primazia de sua política. O PSB esteve resolutamente na base da construção do impeachment fraudulento de Dilma Rousseff. O PDT – que estivera na base do governo petista – ainda apresentava contradições durante a fase institucional do golpe. Seus senadores votaram unanimemente pela deposição da presidenta, e em seguida o Partido se descolaria do PT para lançar a candidatura abutre de Ciro Gomes à Presidência da República, destinada não a compor com o PT, mas sim a dividir os votos da esquerda ao longo do processo eleitoral, fragmentando a esquerda em todo o processo.

O PCdoB, por sua vez, lançou sua candidatura avulsa com a finalidade de engatar na necrofilia pedetista, minando a luta pela liberdade de Lula e pressionando o próprio PT pelo Plano B. Com a pressão de sua base, o plano foi parcialmente bem-sucedido: se não conseguiram colocar Ciro Gomes na cabeça da chapa de esquerda – à qual o PT deveria ter se subordinado, segundo essa lógica – acabaram por alavancar a candidatura de Fernando Haddad à Presidência, na chapa com Manuela D’Ávila.

Este grupo político nunca se mobilizou pela liberdade de Lula. Ao contrário. Este autointitulado “Bloco Progressista” operou repetidas vezes pela normalização do golpe, pela legitimação do processo eleitoral fraudado que levou Bolsonaro ao poder, pela desagregação da esquerda e por sua subordinação completa à política parlamentar e à institucionalidade golpista em geral. Querem manter seus cargos na Mesa Diretora da Câmara, por exemplo – como atestou seu apoio à eleição de Rodrigo Maia (DEM) à Presidência da Casa. Todo aquele que deseja subordinar o PT e suas organizações populares à tal política constrói nada menos que a destruição da capacidade de articulação do PT e da classe trabalhadora no Brasil, transformando o Partido num MDB.

O segundo erro do PT, na visão de André Araújo, teria sido subordinar as indicações de Lula e Dilma ao STF ao aconselhamento de Márcio Tomaz Bastos – advogado da burguesia apoiadora do governo Lula. Como se não houvesse uma pressão dessa base empresarial e rentista por aquelas nomeações, Araújo enxerga a questão de um modo meramente pessoal: o PT deveria ter cobrado lealdade de seus ministros, que acabaram se tornando algozes do próprio Lula e de Dilma Rousseff. Desnecessário dizer que tal leitura se apoia simplesmente num conto de fadas personalista. Prepostos da burguesia dentro de um ambiente puramente reacionário como o é o Judiciário brasileiro agirão de acordo com os interesses de classe em jogo, e não de acordo com códigos de lealdade fantasiosos.

André Araújo porém já se entregara no primeiro erro que diagnosticara em seu claudicante arrazoado. Assunto premente no momento, o apoio do PT ao regime venezuelano é colocado pelo articulista como o primeiro grande erro do Partido. Araújo aponta que, a modo de um cachorro de estimação do Imperialismo, o Partido dos Trabalhadores deveria alinhar-se por exemplo à política de Jair Bolsonaro e Donald Trump, que coordenam a invasão militar ao país caribenho. Segundo Araújo, muitos não teriam votado no PT por não desejarem que o Brasil “se torne uma nova Venezuela”. Vale dizer: é a posição de toda uma ala direitista do próprio PT: de Tarso Genro a Fernando Haddad.

Neste ponto, porém, o argumento se torna mais direitista e mais classista. Se Araújo já se declarara publicamente um opositor Lula no passado recente, agora explica seus motivos. Nem Hugo Chavez nem o PT deveriam apoiar Nicolás Maduro, segundo o autor “um semianalfabeto condutor de ônibus”. Na visão desse senhor, “Maduro foi um erro de Chavez, havia nomes muito melhores, como José Rojas, Vice Presidente Executivo da PDVSA e depois representante da Venezuela e de mais oito paises, inclusive Colombia e Espanha, no FMI. Homem preparado, formado em economia na França, chavista”.

Trata-se de preconceito de classe escancarado. Fica claro que, para Araújo, Lula, um operário também “semi-analfabeto”, nunca deveria ter dirigido o Brasil. O país deveria ser presidido por alguém formado na França, como Fernando Henrique Cardozo. Já a Venezuela deveria ter sido presidida por um representante da ala direita do chavismo.

Mas quem seria esse senhor, André Araújo? No preâmbulo de seu texto, ele mesmo esclarece que conhecera Lula em 1979 quando fechou o acordo da greve dos metalúrgicos. Ocorre que o tal conselheiro da esquerda estava do outro lado da mesa, segundo suas próprias palavras “representando a Fiesp”. Se tal currículo já parece estranho, sua biografia num site que oferta palestrantes é esclarecedor:

Andre Araujo é consultor empresarial há mais de 40 anos, tendo nesse período atendido cerca de 60 empresas multinacionais na solução de problemas junto a entidades públicas e privadas no Brasil, inclusive o maior investidor americano no Brasil.

Representou acionistas estrangeiros em conselhos de empresas brasileiras, como a CEMIG, foi dirigente de grandes associações empresariais e sindicatos patronais, como ABINEE e SINAEES (diretor tesoureiro de ambos) por mais de 15 anos.

Foi coordenador do IRI – International Republican Institute, braço internacional do Partido Republicano dos EUA na década de 90 em atividades na America Latina. Dirigente de empresas estatais EMPLASA (presidente) e PRODAM (diretor financeiro),

Araujo tem larga experiência em relações institucionais de empresas globais no Brasil junto ao Poder Executivo e ao Congresso e dá um panorama dos bastidores dessas relações e do novo cenário do relacionamento empresa-governo após as leis Anti-Corrupção e Lavagem de Dinheiro e dos riscos legais e jurídicos desse delicado contexto após a operação Lava Jato.

André Araújo é, em suma, um lobista do Imperialismo no Brasil. Agente do Partido Republicano – de Donald Trump. Não é apenas um homem de direita, mas uma das engrenagens da política das multinacionais em nosso território. Que queira opinar sobre a política do PT é natural. Afinal, dizer o que os trabalhadores devem fazer ou devem deixar de fazer por meio de seus prepostos é uma tática comum da burguesia. O que não deixa de ser intrigante é que tenha coluna num periódico que se diz de esquerda – o Jornal GGN – e que tais conselhos do Imperialismo circulem como se fossem a opinião de um militante ou dirigente de esquerda.

À medida em que se aprofunda o golpe e a pressão institucional do Imperialismo, tornam-se mais claros os veículos os elementos mais direitistas aninhados por sua política oportunista dentro do Partido dos Trabalhadores, bem como seus meios de pressão. A pressão da direita dentro de qualquer organização se dá fundamentalmente por meio de dois elementos: as ameaças por um lado e a promessa de benesses e cargos por outros – por vezes as duas juntas. No caso das organizações de trabalhadores, os dirigentes precisam justificar seus golpes de mão à direita com um discurso de mínima racionalidade. Nesse momento, convocam as mesmas hostes de “consultores” e palpiteiros em geral usados pela direita para despejar com ares de autoridade todo tipo de bizarrice política e barbaridade que justifique suas capitulações à burguesia, seus ataques aos trabalhadores do alto de seus cargos, seu direitismo, enfim.

Não cabe qualquer crédito a tais tentativas. A classe trabalhadora deve investir naquilo que constitui sua força política real: sua capacidade de organização e de mobilização, tendo como eixos principais a luta contra o golpe, a liberdade para Lula, e a deposição imediata do governo de Bolsonaro. Nenhuma aliança com a direita nem com o “Blocos Progressistas” organizados pelos próprios golpistas como oposição de fachada. Nenhuma subordinação à política institucional comandada pelos golpistas. Todo apoio à resistência da Venezuela contra as investidas imperialistas.

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