A situação brasileira se agrava dia a dia. Chegamos ao meio milhão de doentes e estamos próximos dos 30 mil mortos. O problema, como sempre afirmamos, não é simplesmente questão de saúde, mas de política.
Veio por água abaixo toda a farsa de que os governadores direitistas dos Estados – como João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ) – tinham uma política séria para controlar o vírus, em oposição à de Bolsonaro, que sempre foi contrário ao isolamento social, favorável à reabertura. Hoje, todos dizem o que pensam abertamente: é preciso reabrir as cidades, retomar a atividade econômica para evitar o pior – a falência generalizada, a crise econômica gigantesca que está por vir.
Não é por menos que a situação saiu do controle em vários lugares. Uma parte de prefeitos e governadores estão tentando usar o “lockdown”, uma medida que é mais contra o povo do que contra o vírus. Até o momento – e isso deixa claro a natureza da política desses governadores – não há nenhuma medida adicional (testes, novas unidades hospitalares para atender as necessidades das pessoas infectadas, nenhuma ação do poder público nas periferias, os trabalhadores das indústrias e grandes empresas continuam trabalhando enquanto uma parcela dos governadores fala em “lockdown”, os transportes superlotados etc.
Menos de 10% dos cerca de 4 milhões de testes enviados ao ministério da saúde foram analisados. A conclusão é inevitável: o número de doentes é muito, muito maior do que o divulgado até agora. Só pessoas muito dissimuladas, ou extremamente ingênuas, pode acreditar, nesta altura do campeonato, que esses governadores estão dando conta do vírus. Não estão, e a situação está completamente fora de controle, como sempre esteve, e se agrava sistematicamente.
Chegamos a uma taxa de mais de mil pessoas mortas por dia por causa do coronavírus e essa taxa se encaminha para as 1.500 pessoas. Já é a mais alta do mundo. O que as autoridades, de modo geral, estão fazendo é tentar criar condição para a abertura total das atividades econômicas e sociais, ou seja, a suspensão do isolamento social.
Em alguns lugares, simplesmente não conseguem pois a violência do vírus é muito grande, como aconteceu em Minas Gerais na última semana, que havia planejado abrir tudo e foi obrigada a recuar porque a situação é muito crítica. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, ocorre a mesma coisa e em todos os Estados do País. Sob a pressão dos capitalistas, os governadores querem suspender o isolamento social mesmo tendo consciência de que a situação no Brasil não só está no pico, como tende a crescer exponencialmente.
A farsa da luta contra o vírus, da direita civilizada, dos governadores com métodos científicos etc., veio completamente abaixo. A população brasileira está por sua própria conta e risco. A ação do poder público é uma ação tangencial diante do vírus e os governadores dos Estados são tão responsáveis pela situação quanto o próprio Bolsonaro. Estar à própria sorte coloca em evidência o problema político fundamental: é preciso derrubar Bolsonaro e todos os golpistas e impedir que a catástrofe se aprofunde e faça cada vez mais vítimas.