Até então poupado dos efeitos mais ainda deletérios da pandemia, o continente africano se vê neste momento ameaçado por uma tsunami infecciosa da Covid-19. Desprotegida, a enorme população africana está vulnerável à variante que se originou na Índia e vem ganhando terreno no continente. A situação se torna ainda mais grave e preocupante em função da escassez de vacinas e da quase inexistente campanha de vacinação da população. “Podemos ver claramente que a variante B.1.617, que surgiu na Índia, está crescendo no continente, mas ainda não temos dados epidemiológicos que sugiram que esteja por trás da terceira onda” (UOL, 11/6), alertou o diretor do Centro para Controle e Prevenção de Doenças da África (África CDC), John Nkengasong.
Para termos uma ideia do quadro de gravidade da situação na África, basta olharmos para os números. Somente 0,8% da população sul-africana está totalmente vacinada. Na Nigéria, o maior país do continente, com mais de 200 milhões de habitantes, apenas 0,13%; Namíbia, 0,48%; Moçambique, 0,24%; Camarões, 0,05%; Zâmbia, 0,03%; Quênia, 0,05%. A lista não para por aí. De acordo com organismos que lidam com o controle e a prevenção de doenças no continente, ao menos cinco países não iniciaram a vacinação, não aplicaram nenhuma dose sequer.
Um outro dado estarrecedor diz respeito aos profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à pandemia. Sabe-se que centenas de milhares de trabalhadores deste setor continuam trabalhando desprotegidos, sem os equipamentos de proteção necessários recomendados pelos protocolos sanitários de prevenção da doença. Uma completa barbárie.
Obviamente que diante da ameaça que paira sobre os povos, sobretudo as populações pobres, entra em cena a habitual conduta demagógica e puramente interesseira dos países ricos, do imperialismo, sempre dispostos a prestar “ajuda humanitária” aos menos favorecidos. Os Estados Unidos, depois de ter adquirido grande parte da produção mundial de vacinas e de já ter vacinado quase toda a sua população adulta, anunciou a doação de imunizantes para os países pobres, necessitados. Cerca de 200 milhões serão doadas ao longo deste ano e o restante, em 2022.
No entanto, a necessidade é para agora, pois as pessoas estão morrendo agora e não daqui a um ou dois anos. 2022 pode ser tarde demais. É sabido que os EUA estão com estoques de vacinas que perderão em breve a validade, mas somente querem distribuir ao longo de todo um período. Trata-se de uma decisão criminosa, genocida e desumana. Mas como declarou o próprio conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan, “esse movimento é bom para os interesses estratégicos dos EUA”.
Portanto, não há qualquer gesto humanitário ou conduta desinteressada na decisão do governo Biden no que concerne às doações do imunizante aos povos oprimidos mundo afora, mas tão somente interesses políticos e geoestratégicos.
Fica demonstrado cabalmente que o controle que o imperialismo exerce sobre a economia mundial é, na verdade, o que há de mais letal no planeta, muitas vezes superior à devastação que o próprio vírus vem causando à humanidade.