Nessa segunda-feira, 24, durante a Assembleia Mundial da Saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez uma declaração o tanto quanto absurda. Segundo ela, apenas 10 países concentram 75% das vacinas. Sendo assim, a conclusão tirada para a falta de vacinas é que se trata de um verdadeiro ‘escândalo’ mundial. Esse apartheid é ainda mais notório quando analisamos a situação da América Latina. Com 1 milhão de mortos, tem-se apenas 3% da população vacinada.
A título de exemplo, de acordo com dados da OMS, as doses já fabricadas seriam suficientes para imunizar idosos e todos os profissionais de saúde do mundo. O descalabro é tamanho que Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da agência, decidiu abrir o verbo e rompeu com o silêncio diplomático que arrolhava o gargalo da pandemia: trata-se de uma questão política e econômica por parte dos países imperialistas. Segundo Tedros, “não há uma forma diplomática de dizer isso. Hoje, um pequeno grupo de países controla o destino do mundo”, afirmou. Na assembleia, porém, foi divulgada uma meta às nações. Pretende-se vacinar até 10% da população mundial até setembro e até dezembro o objetivo é atingir 30% do globo. No entanto, para imunizar 60% da população até meados de 2022, a agência buscará um acordo com um dos maiores inimigos dos países pobres: o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Todo o alarde, no entanto, baseia-se numa profusa inconsistência na obtenção dos dados. De acordo com a própria OMS, existe um grande número de subnotificações, o que dificulta uma apreciação exata do tamanho da catástrofe que assola o mundo. Somente na América Latina, os números reais de mortos podem ser até três vezes maior que o registrado pelos países. O Brasil, chefiado pelo genocida Jair Bolsonaro e seus asseclas, dispara como primeiro no número de mortos, totalizando 450.000 óbitos oficiais (dados da Johns Hopkings Coronavirus Resource Center – 23/05/2021). Desse total de óbitos registrados nos países latino-americanos e caribenhos, 44,3% são brasileiros. Em segundo lugar está o México, com 220.850 óbitos, atingindo 22,1% do total. No Brasil, país que concentra a maior população do continente, apenas 9,65% da população recebeu as duas doses da vacina. Além disso, existem apenas três imunizantes: AstraZeneca/Oxford, CoronaVac/Sinovac-Butantã e Pfizer-BiONtech. Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) deu mostras de subserviência aos ditames dos países imperialistas e obedeceu ao pedido dos EUA: proibiu a utilização da vacina russa Sputnik V. Com isso, conclui-se que o sofrimento da população mundial é resultado direto dos interesses dos grandes monopólios farmacêuticos e seus respectivos Estados que colocam o lucro do negócio das vacinas acima da vida dos povos.
Mesmo com toda essa calamidade, a OMS não tem feito praticamente nada para impor uma política que resolva o problema da vacinação nos países pobres. Isso porque, como se pode ver, trata-se de um problema político. Portanto, ela deveria estar agindo para impedir o que está ocorrendo, exigir a quebra das patentes, por exemplo. O que se sabe, no entanto, é que os países imperialistas estão monopolizando a vacina bem debaixo do nariz da OMS. Enquanto isso, a população dos países ricos está sendo vacinada às custas da população dos países pobres. Obviamente, isso é uma medida política por parte dos países imperialistas contra os países pobres, já que os países imperialistas controlam as empresas produtoras das vacinas, assim elas abastecem apenas esses países. Como sempre, os países oprimidos amargam o maior número de óbitos e ficam por último na fila da salvação. O caso da América Latina, com apenas 3% da população vacinada, destaca bem a forma como os países ricos lidam com o restante do mundo, incorrendo, como em muitos outros casos num crime do imperialismo contra os povos oprimidos. É nisso que dá o monopólio capitalista – um verdadeiro obstáculo para o desenvolvimento e garantia da vida da imensa maioria da população existente no mundo. São esses grandes monopólios que controlam a produção e o desenvolvimento das vacinas.
Enquanto a Europa e os EUA apresentam-se na vitrine da imprensa golpista como vencedores na luta contra a pandemia, abrindo a economia e os locais públicos, expõem a desigualdade entre os países imperialistas e os demais, sobretudo pelo fato dos países pobres serem os mais afetados pelo vírus, sendo a América Latina e a Ásia, com China e Índia, os melhores exemplos). Só nos Estados Unidos 38,5% da população fora vacinada, conforme dados do Centro de Controle de Doença (CDC, sigla em inglês). Em toda Europa, soma-se 16,5% de pessoas com mais de 18 anos imunizadas. A Hungria, em destaque, é o país que mais obteve êxito na imunização, vacinando 34,8% da sua população.
Em razão disso, é evidente a necessidade da quebra das patentes das vacinas para que todos possam vacinar suas populações imediatamente; quebrar o monopólio das vacinas, para o qual vale mais o lucro de uma empresa do que milhões de vidas humanas. É preciso romper com o domínio dos monopólios capitalistas sobre a vida da imensa maioria da população existente no mundo.