A extrema-direita, crescente no mundo todo, tem buscado, de forma cínica, obter o apoio dos negros. Devido à incapacidade da esquerda burguesa e pequeno-burguesa de colocar em prática uma política que resolva as questões históricas do povo negro, este setor torna-se objeto de disputa política dos seus principais inimigos de classe. Desta forma, surge os capitães-do-mato, como a vereadora da capital paulista Sonaira Fernandes (Republicanos-SP) que são instrumentalizados para fazer a demagogia identitária. O identitarismo, como política da esquerda para o povo negro, mostra-se, assim, como uma verdadeira arapuca.
Nos Estados Unidos, a disputa pelo apoio deste setor fez surgir o movimento de negros de extrema-direita, Blexit, que buscava capitalizar os votos e o apoio à Trump dos setores da população negra desiludidos com a política dos Democratas, como demonstrado nos resultados de Hilary Clinton nas eleições de 2016. A própria candidatura de Barack Obama não passou de uma tentativa de acalmar estes setores, até porque a situação poderia explodir. Assim, Joe Biden também busca fazer toda a demagogia possível com capitães-do mato no governo, editando decretos de fachada contra o racismo.
No Brasil, a direita golpista e a extrema-direita bolsonarista também se utilizam da mesma demagogia identitária. O presidente racista da Fundação Palmares, Sergio Camargo, foi um dos apoiadores do Blexit. O vereador do MBL, Fernando Holiday (Patriotas-SP) foi um dos principais mobilizadores do movimento golpista contra o governo de Dilma Roussef, do PT. O golpe permitiu emergir esses elementos de confusão que a política identitária produz; a bola da vez é da vereadora bolsonarista Sonaira Fernandes colocar em questão se a luta do povo negro é uma pauta da esquerda ou “senzala” ideológica.
A bolsonarista Sonaira Fernandes, que foi estagiária na Polícia Federal e se tornou cabo eleitoral de Eduardo Bolsonaro em 2014, trabalhou com o deputado estadual bolsonarista Gil Diniz (PSL-SP), depois vindo a participar da campanha do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro em 2018 e agora, em 2020, se tornou vereadora da cidade mais importante do país. Se utilizando da questão identitária, reivindica para si a legitimidade como representante do povo negro e busca criar a ideia de que as demandas dos negros não seriam pautas de luta da esquerda. Assim, os negros estariam sobre um domínio ideológico, uma espécie de senzala mental.
Desta forma, a demagogia identitária nas mãos da direita e extrema-direita mostra, de forma acabada para que serve esta política, ou seja, apenas dividir a classe explorada em negros e brancos. A luta do negro colocada na perspectiva identitária não resulta no fim da opressão promovida pelo capitalismo; ao contrário, enfraquece a luta geral dos oprimidos. Por outro lado, a política da esquerda burguesa nos EUA, assim como o PT no Brasil, por não oferecer uma saída real para a questão dos negros, apenas pequenas reformas, empurra os negros para o terreno dos seus inimigos de classe.
As questões fundamentais de toda a humanidade são as condições materiais de vida e a violência do estado burguês contra a população. Nisso consiste toda luta da esquerda pela libertação da opressão capitalista, sendo os negros, o setor da população atingido mais fortemente pelo capitalismo, Sendo assim, coloca-se a necessidade de uma perspectiva revolucionária para luta do povo negro, que em conjunto com os demais setores explorados da população, ponha fim a essa brutal realidade e promova as mudanças estruturais profundas na sociedade que permitam abrir caminho rumo ao socialismo.