O frenesi identitário trouxe consigo uma nova dose de irracionalidade para a esquerda pequeno burguesa, sobretudo o fenômeno do “cancelamento”. Porém, como é de praxe, esta política só fez o que sempre faz: esconder a exploração e promover à manutenção da opressão. Por exemplo, no ano passado uma cervejaria de São Paulo, com nome de Dogma, sofreu uma série de críticas dos identitários do movimento negro e teve seu produto e marca “cancelados”.
A cerveja, presente desde a fundação da empresa em 2015, de nome Cafuza, em alusão aos mestiços de indígenas e negros, era parte da linha considerada “premium”, ou seja, um produto mais caro com um público de alta renda. A cerveja foi diversas vezes elogiada pela crítica, até mesmo pela sua embalagem cuja arte representava o retrato de uma mulher negra em 1860, supostamente uma escrava. Por incrível que pareça, a arte e até mesmo as descrições técnicas do produto, como “maltes escuros” e “Negra índia imperial” , foram decisivas para levar o produto e sua empresa a serem “cancelados”.
A empresa, antes criticada por um suposto racismo e falta de “representatividade” negra, agora conta com uma linha de três produtos em lançamento que contam com desenvolvedores negros. Além disto, mais uma demagogia, a empresa destinou recursos próprios para o treinamento de sommeliers, ou degustadores, negros, que um dia esperam trabalhar para a empresa. Para terminar de “corrigir” as falhas apresentadas pela empresa perante o juri identitário, foram selecionados sommeliers negros para comporem uma receita de cerveja para os novos produtos da empresa.
A conclusão é simples, trata-se de uma demagogia. Hoje, mais uma vez uma imprensa utiliza do identitarismo para propagandear seus produtos. Agora, não seria irônico que os críticos arbitrários e superficiais do identitarismo se tornem grandes consumidores dos produtos da empresa, uma vez que a empresa está alinhada à sua ideologia. Por mais estranho que se aparente, o identitarismo, enquanto ideologia burguesa que é, adequa-se bem aos empreendimentos capitalistas, afinal, que capitalista não gostaria de vender seu produto para a classe média conservadora e também para os ditos esquerdistas?
No final, a crítica dos identitários só serviu para tornar um produto e uma imprensa mais “agradáveis” e reciclar a loucura burguesa. O que foi aceito pois, como para todo explorador, uma política que propõe mascarar seus malefícios para com os oprimidos e para com a sociedade é de grande valia. Neste caso, esta é a política identitária.
Enquanto a maior parte da população explorada, muitas vezes em situações análogas à escravidão, cuja maioria é negra, está sofrendo com os ataques da direita apoiada pelos empresários, a grande crítica dos identitários do movimento negro pequeno-burguês é estética, subjetiva. Não é por acaso que a situação do negro não progride e, cada vez mais, a esquerda pequeno burguesa direitista tem mais apelo entre a burguesia que entre os trabalhadores.