“Bandido bom é bandido morto!”; “Onde está a justiça nesse País?”. Com frases deste tipo, desenvolveu-se no País um clima de extrema-direita, impulsionado pela direita golpista, que resultou no golpe de 2016 e na chegada da extrema direita ao poder através da fraude eleitoral de 2018.
Colocadas assim, fica bastante óbvio que se trata de puro bolsonarismo, da ideologia de que a solução para os problemas é o aumento da repressão, das leis punitivas. Tal ideologia da extrema-direita fascista é o oposto dos princípios da esquerda ou mesmo de qualquer pensamento progressista.
Mas a esquerda pequeno-burguesa, sempre disposta a seguir as orientações da direita, invariavelmente cai em armadilhas e passa a trair os princípios que deveria defender, como também a adotar os métodos da extrema-direita. Esse é o caso das questões chamadas identitárias…
O tema que tem tomado conta dos noticiários é a polêmica envolvendo o jogador Robinho. Acusado e condenado em primeira instância por um caso de estupro coletivo, ocorrido na Itália há nove anos, a esquerda identitária se uniu à escora da imprensa golpista e da direita contra a contratação do jogador pelo Santos.
Colocou-se em marcha uma política de execração pública, de caça às bruxas, exigindo que o clube rompesse o contrato com Robinho. Entraram na jogada, para reforçar tal política, os patrocinadores do Santos, entre eles grandes multinacionais que ameaçaram romper o contrato com o clube.
Nesta segunda-feira, 19, foi a vez da ministra bolsonarista, Damares Alves, defender a punição exemplar para Robinho: “Cadeia imediatamente, não tenho outra palavra para falar. Ainda cabe recurso, mas o vazamento dos áudios, gente. Querem mais o quê? Cadeia. Nenhum estuprador pode ser aplaudido. O cara quer voltar para o campo para posar como heroi.”
Fica claro que a campanha foi impulsionada em primeiro lugar pela própria direita. Não porque essa direita, a rede Globo, as multinacionais, Damares e afins, preocupem-se de fato com a questão da mulher. Essa escória direitista não está preocupada em acabar com os estupros, o interesse dela é o oposto de qualquer defesa da mulher e dos oprimidos.
Mas para a esquerda não é óbvio. O que se vê é a repetição dos métodos bolsonaristas contra o jogador Robinho. Nas redes sociais, esquerdistas escrevem em caixa alta pedindo “justiça”, “prisão”, “punição”.
O jornalista Juca Kfouri decidiu, como linha editorial, apresentar o jogador como “Robinho condenado”: “se tiver que me referir a ele, desta maneira: Robinho, condenado a 9 anos de cadeia em tribunal de primeira instância na Itália com direito a recurso”, afirmou o jornalista no podcast Posse de bola, ligado ao UOL/Folha de S. Paulo.
O que chama a atenção não é a descrição em si, mas a preocupação em destacar a condenação do jogador, ao estilo do que faz a imprensa golpista com seus inimigos políticos.
Tais métodos apenas reforçam a campanha de caça às bruxas. E é importante dizer que o problema aqui não é Robinho, não é o que o jogador fez ou deixou de fazer. O problema central é a campanha impulsionada e a histeria em relação ao caso.
O interesse da direita nessa campanha de histeria é intensificar o clima de caça às bruxas e de repressão. Como se trata de um problema da mulher, a esquerda facilmente mordeu a isca e entrou de cabeça na campanha. O resultado, se o objetivo da direita se concretizar, não será o fim do estupro, nem mesmo a resolução do caso Robinho, mas sim o aumento da repressão, do fortalecimento do Estado burguês e os patrões, os maiores inimigos das mulheres.
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