Com a devolução dos seus direitos políticos, Lula é o candidato natural da esquerda à presidência da República em 2022. A crise política, que se aprofundou com a desmoralização completa da operação criminosa da Lava Jato, obrigou que setores da burguesia abrissem mão, pelo menos nesse momento, da perseguição contra Lula.
Isso não significa que a direita não esteja preparando um novo golpe de Estado. Uma nova investida judicial ou outra manobra para tirar Lula da eleição. A maior preocupação da burguesia nesse momento é a polarização política. A linha editorial dos principais jornais da imprensa golpista e as declarações de políticos da burguesia mostram muito claramente que a polarização com a candidatura de Lula pode levar o País a uma disputa que pode resultar em uma instabilidade política que a burguesia quer evitar a qualquer custo.
Se houver uma polarização nas eleições entre Bolsonaro e Lula, o mais provável é que a burguesia apoie Bolsonaro como fez em 2018. Isso, no entanto, não é uma manobra das mais fáceis e pode não resolver o problema central da polarização, pois implicaria em manter Bolsonaro e todos os seus arroubos de extrema-direita no governo por mais quatro anos.
Um caminho que a burguesia está buscando para evitar a polarização é se livrar de um dos dois candidatos. Logicamente que a primeira possibilidade e a mais provável é que ela tente se livrar de Lula. Daí o perigo de um novo golpe, que só pode ser evitado com uma mobilização ampla da esquerda e dos movimentos populares desde já pela candidatura de Lula.
A burguesia já entendeu, como 2018, que diante da polarização inevitável terá que apoiar Bolsonaro, caso não consiga se livrar de nenhum dos dois extremos. Uma opção menos provável é que por meio de manobras a burguesia tire Bolsonaro da disputa e convença a extrema-direita a apoiar um candidato da direita tradicional contra Lula.
Essa manobra é muito complexa, mas a burguesia trabalha com todas as possibilidades. Daí que, embora tenha se voltado duramente contra Lula já ao primeiro sinal de sua candidatura, a burguesia continue fazendo propaganda eleitoral contra Bolsonaro.
Ela trabalha nos dois flancos. Se por um lado procura atacar Lula e busca uma oportunidade para um novo golpe, por outro mantém a pressão sobre Bolsonaro.
Não se deve descartar, ainda, a entrada mais decidida dos militares na situação política, retirando Lula no meio das eleições por meio de um golpe militar. Logicamente que essa possibilidade é muito arriscada e pode se voltar contra a direita.
Tudo vai depender da mobilização popular. Por isso os setores da esquerda que querem um “Lula paz e amor” estão na realidade fazendo o jogo da direita. É a direita que quer um Lula que não polarize, para que com isso evite uma mobilização real e facilite um golpe contra a esquerda. Um golpe, uma manobra, ou simplesmente uma fraude eleitoral.
A conciliação, o oposto da polarização, não é uma opção para a esquerda. Primeiro porque a direita não vai aceitar Lula e esse simples fato impede que sua campanha não polarize a situação. E por fim, a própria candidatura de Bolsonaro empurra a eleição para os extremos. Para vencê-lo será preciso apresentar uma política que se coloque como oposição ao regime político apodrecido, não como representante dele. Ou seja, que signifque uma verdadeira alternativa para os trabalhadores, que defenda seus interesses reais.