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Debate sobre o 1º de Maio

Os delírios do centrismo

POR, que participou do ato na Praça da Sé, critica o PCO por aparelhar o próprio ato

Há na esquerda pequeno-burguesa um fenômeno interessante, o dos pequenos grupos políticos que fazem muito discurso radical, mas na política real acabam sendo apenas um apêndice dos grupos maiores da esquerda.

Um desses casos é o do Partido Operário Revolucionário (POR), um agrupamento surgido no final dos anos 80 (seu primeiro Congresso é de 1989), composto por alguns ex-militantes que haviam saído de Causa Operária, hoje PCO.

Desde o seu surgimento, o grupo sempre teve duas características fundamentais: o centrismo e o sectarismo.

Esses pequenos grupos de aparência radical normalmente se apresentam como muito revolucionários, procurando se colocar à esquerda. No entanto, essa posição depende em geral das posições do restante da esquerda. Ao mesmo tempo em que pretendem parecer radicais de esquerda, querem que a esquerda pequeno-burguesa os veja com bons olhos. Em suma, não conseguem ter uma política verdadeiramente independente, mas atuam com base na política dos outros.

Bem exemplar é a sua política em relação à CUT. Quando no início da primeira década dos anos 2000, o PSTU lançou a política sectária de rompimento com a CUT, o POR se colocou com um pé em cada canoa. Não saíram da CUT mas procuraram intervir na Conlutas, como se aquela manobra do PSTU tivesse alguma relevância para o movimento operário.

A concepção do POR sobre o que aconteceu no último 1º de Maio é deixa bem claro o centrismo do grupo: “Como se pode observar, as duas lives têm diferenças, que não podem ser desconhecidas. A principal é que o bloco da CUT e Força Sindical se coloca inteiramente no campo da conciliação de classes; e o bloco CSP-Conlutas e Intersindical, formalmente, rechaça o frentismo burguês” (Declaração do Partido Operária Revolucionário. Um balanço crítico do 1º de Maio, 05/05/2021). Para o POR, o discurso do PSOL e PSTU contra a frente popular seriam diferenças significativas com a CUT e o PT que defenderiam “inteiramente no campo da conciliação”. O POR não consegue se desvencilhar dos partidos da esquerda pequeno-burguesa e ignora que o PSOL tem uma política tão ou mais abertamente de conciliação do que o próprio PT, ou seja, o problema não é o conteúdo de classe, mas o discurso de um e de outro.

Outro exemplo é a própria formação do grupo, resultado da pressão que a Frente Popular, que no final dos anos 80 estava em seu auge, exerceu sobre a política operária e revolucionária levada adiante pela Causa Operária dentro do PT e da CUT. A campanha feita pelos militantes de Causa Operária dentro do PT contra a Frente Popular, acabou posteriormente resultando em sua expulsão, em 1991, após as eleições.

Os militantes que fundaram o POR naquele momento não aguentaram a pressão, acabaram saindo de Causa Operária, e constituíram um agrupamento que, embora faça discurso contra a Frente Popular, na prática funciona como ala ultraesqurdista desta.

O sectarismo do grupo está ligado à sua política dogmática. Como todo grupo pequeno e pseudo radical, o POR é inimigo de uma política que procure mobilizar as amplas massas.

O que houve no 1º de Maio

O POR foi um dos agrupamentos que aceitaram o convite do PCO de sair às ruas no ato de 1º de Maio, ocorrido na Praça da Sé, em São Paulo. Até aí, tudo maravilhoso.

O problema está nos fatos que se seguiram e que revelam o sectarismo do grupo. Em nota pública, o POR afirma que “O ato da Praça da Sé foi concebido e conduzido pelo PCO, embora fosse convocado também por uma frente de esquerda, impulsionada pelo POR, FOB e LOI. O PCO usou do seu aparato para inviabilizar uma organização de fato frentista. Evidentemente, por estar em melhores condições para a organização do ato, é explicável a hegemonia. O que não é explicável é a exclusão das demais forças na sua organização e definição do conteúdo político, bem como da disciplina revolucionária.”

Tal é o mundo da fantasia do POR. Para eles, o PCO seria um grande aparato, como se o partido tivesse um máquina burocrática além de seus próprios militantes. Não há nenhum grande aparelho para o PCO controlar, sem contar que o ato foi convocado e organizado pelo PCO. A dificuldade de fazer uma frente está justamente com o POR e seu enorme sectarismo.

Mais à frente, fica claro o verdadeiro motivo da divergência: a defesa da mobilização em torno do direito de Lula se candidatar.

“A estratégia de PCO para o 1º de Maio estava de acordo com a do PT e dos seus aliados. A diferença estava em que a live do bloco CUT e Força Sindical se dirigia a constituir uma frente com partidos da burguesia, em torno à Lula. PCO exortou no 1º de Maio por uma frente de esquerda, sob o comando de Lula, para as eleições. A crítica ao refúgio virtual das centrais e do PT estava em que se perdia a oportunidade do 1º de Maio para se lançar a candidatura de Lula. Essa posição inviabilizou a constituição de uma frente de esquerda que convocasse o 1º de Maio presencial da Praça da Sé” (idem).

O POR não quer defender Lula. Não sabemos, logicamente, qual a proposta do POR para as eleições. Mas isso não tem nenhuma importância a não ser para o próprio POR. O grupo substitui a frente única que naquele momento se dava em torno da necessidade de um ato de rua, uma mobilização de verdade no 1º de Maio, por considerações políticas e programáticas.

O POR só consegue fazer frente com quem pensa igual a ele. No ato, inclusive, não havia nenhum impedimento do PR levantar a sua palavra de ordem alternativa à luta pela candidatura de Lula, assim como o POR não era obrigado a defender Lula.

Mas o sectarismo do grupo não concebe uma frente única de verdade e coloca a culpa na reivindicação levantada pelo PCO que, diga-se de passagem, diz respeito aos anseios das amplas massas de trabalhadores.

 

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