Desde o início da pandemia que a esquerda em sua quase totalidade se submeteu às orientações da Organização Mundial de Saúde – órgão do imperialismo – sobre à necessidade de aderir ao isolamento social. Em nome dessa política foram fechadas as entidades dos trabalhadores, principalmente os sindicatos. Na esteira dos acontecimentos, atos e assembleias presenciais foram suspensas por praticamente todo o País.
No decorrer desse período a extrema-direita bolsarista e a direita tradicional estabeleceram uma falsa polêmica em torno do isolamento social. Bolsonaro e sua trupe defendendo à volta ao funcionamento normal da economia e os governadores, em sua maioria, adeptos, supostamente, da política da OMS.
A esquerda, absolutamente na defensiva diante do avanço da pandemia encontrou na “oposição”dos governadores à Bolsonaro uma tábua de sustentação para sua política. Em nome da “defesa da vida” passou a defender a unidade com governadores e prefeitos contra Bolsonaro, chegando ao ponto de ceder suas instalações para governadores bolsonaristas que estariam em oposição ao presidente, como foram os casos da CUT DF e do Sindicatos dos Professores, também o DF, entre outros.
Essa política de integração com a direita só não foi mais adiante porque mal começou ser implementada governadores e prefeitos recuaram diante do governo federal e da orientação geral do imperialismo da reabertura geral da economia.
A política defensiva da esquerda de sair às ruas teve, ainda, outras consequências. Os governos supostamente divididos com relação à política de isolamento, sempre estiveram unificados em torno a fazer com que os trabalhadores paguem pela crise econômica, agravada em muito com o coronavírus. Demissões em massa, redução de salários, suspensão de contratos de trabalho é a política dos patrões, mesmo recebendo todo tipo de incentivo governamental – já passam dos 2 trilhões de reais – aproveitaram a pandemia para colocar em prática a reforma trabalhista. Isso sem contar com dezenas e milhões de trabalhadores da economia informal que sequer tiveram direito a receber os míseros R$ 600 do abono salarial.
Também proliferaram pelo País os atos virtuais em que os setores da esquerda que defendem uma aliança com partidos e políticos da direita golpista impuseram a participação de políticos como Fernando Henrique Cardoso, Rodrigo Maia, Alcolumbre em eventos como o do 1º de maio – o dia da luta dos explorados contra a burguesia. É notório que se fosse um ato público, esses e outros políticos defenestrados pelo povo, sequer teriam condição de subir no palanque.
Aliás, diga-se de passagem, a política dos atos virtuais foi utilizada pelos setores mais direitistas da esquerda para impulsionar a Frente Ampla, uma tentativa de aliança desses setores com a direita golpista, supostamente para se opor à extrema-direita, mas que tem como fundamento canalizar a insatisfação popular para as eleições, ou seja, se opor ao bolsonarismo não com a mobilização do povo contra o fascismo, a extrema-direita, os golpistas, mas através do voto na urna, inclusive, sob a liderança de notórios políticos golpistas.
Mesmo diante do freio-de-mão puxado da esquerda, as condições de vida cada vez mais deterioradas das amplas massas, a morte e a contaminação pelo coronavírus, os atos da extrema-direita, a ameaça de golpe militar, o ódio a Bolsonaro impuseram, na prática, o rompimento da barreira de contenção e povo saiu às ruas.
Atos sucessivos ocorridos em duas semanas foram capazes de alterar substancialmente a situação política no País. Até então, a direita estava tomando conta das ruas, embora em grupos muito pequenos. O ato em São Paulo, promovido pelas torcidas, na Avenida Paulista, no dia 31 de maio foi o desabrochar de um movimento que a muito queria estar nas ruas.
O fenômeno produzido pelo povo nas ruas foi sem nível de comparação mais importante do que todas as assembleias e atos virtuais produzidos durante todo o período da pandemia. Nesse momento, falar em atos virtuais, carreatas é ultrapassado. Mostraram-se inócuos. O regime só começou a balançar quando os atos de rua voltaram a ocorrer.
Para o movimento de esquerda que luta contra o golpe, que defende uma política de independência diante da burguesia, que quer por para Fora Bolsonaro o único caminho é a de ampliar os atos de rua. Se o que foi feito até o momento já foi capaz de produzir um abalo no regime político, dezenas de milhões de pessoas marchando com o mesmo propósito por todo o País será capaz de derrubá-lo e varrer com o regime político golpista saído do golpe de 2016.