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Uma tragédia brasileira

Orlando Silva, o “Cantor das Multidões”, faria 105 anos hoje

Orlando Silva foi um dos maiores cantores brasileiros, mas com uma curta carreira arruinada pela morfina, que usava para diminuir suas dores.

Nos anos 40 não havia competição para Orlando Silva. Segundo o biógrafo Rui Castro: “de 1935 a 1942, Orlando Silva foi o mais perfeito cantor popular do Brasil. E um dos mais perfeitos do mundo”.

Quem não se encantou quando ouviu a voz de Orlando cantando esses versos:

“Covarde sei que me podem chamar
Porque não calo no peito esta dor
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor

Eu sei que vão censurar o meu proceder
Eu sei, mulher
Que você mesma vai dizer
Que eu voltei pra me humilhar
É, mas não faz mal
Você pode até sorrir
Perdão foi feito pra gente pedir”

“Atire A Primeira Pedra” foi gravada por Orlando Silva em 1943, uma composição de Ataulfo Alves com letras de Mário Lago.

Infância

Orlando Garcia da Silva nasceu no Rio de Janeiro em 3 de outubro de 1915, filho de José Celestino da Silva e Balbina Garcia. José Celestino trabalhava como funcionário de uma ferrovia e era também músico, violonista, e segundo depoimento de Orlando, tocou com Pixinguinha no grupo Os Oito Batutas. Ele só não viajou para o exterior com o grupo porque na época já tinha três filhos.

Infelizmente José Celestino morreu cedo, vitimado pela gripe espanhola, quando o cantor tinha apenas três anos de idade. Desde muito jovem Orlando costumava cantar e chamava muito a atenção de todos os que o ouviam. Depois de voltar da escola passava o resto do dia cantando em cima de uma árvore, atendendo aos pedidos dos vizinhos. Aprendeu a tocar o violão e era fã de cantores como Carlos Galhardo e Francisco Alves.

Orlando teve uma infância pobre, trabalhando desde cedo para ajudar no orçamento familiar como entregador de marmitas, operário numa fábrica de cerâmicas, aprendiz de cortador na fábrica de calçado Bordalo e entregador de encomendas na Casa Reunier. Foi quando trabalhava neste último emprego que sofreu um acidente traumático. Quando tentou pegar um bonde em movimento teve quatro dedos de um dos pés amputados. Foi um acidente muito sério, que o deixou por quatro meses no hospital Souza Aguiar e por quase um ano em recuperação. Foi a partir daqui que tomou conhecimento da morfina, uma droga poderosa, única capaz de fazê-lo ter forças para superar as dores agonizantes.

Após este episódio trabalhou como cobrador de ônibus, uma das poucas funções onde podia trabalhar sentado. Costumava cantar nos intervalos de descanso na empresa. Um dos motoristas, o português Conceição, sugeriu a ele se apresentar em um circo que ficava em frente à sede da empresa. O filho do dono, impressionado, tirou-o do ônibus e o colocou para fazer serviços de escritório. Aos 17 anos de idade Orlando tinha uma linda voz, de timbre limpo e brilhante e uma tessitura privilegiada, capaz de alcançar notas agudas com facilidade.

Primeiros passos na carreira artística

Orlando foi levado por seu irmão Edmundo para fazer um teste na Rádio Cajuti. Lá ele ensaiou com o violonista Brito, preparando várias músicas para serem apresentadas a Bevilacqua, diretor da rádio. Após várias tentativas frustradas de encontrá-lo foi ouvido pelo compositor Bororó, um caçador de talentos que o levou ao Café Nice para apresentá-lo, nada mais, nada menos que ao cantor Francisco Alves, ídolo de Orlando.

Lá Orlando, então, um rapaz franzino e tímido, cantou um samba de Ary Barroso e a valsa “Mimi”, que entusiasmaram Francisco Alves. Chico marcou um teste na Rádio Guanabara para ouvi-lo cantando ao microfone. O sucesso foi enorme e Chico Alves convidou Orlando a estrear em seu programa.

Estreou no rádio no dia 23 de junho de 1934, cantando “Mimi”, acompanhado do violonista Pereira Filho. A primeira gravação foi fazendo parte do coro na música “Foi Ela” de Francisco Alves. Em seguida foi contratado pela gravadora RCA Victor, lançando seu primeiro disco em 1935, um disco 78 rotações com o samba canção “No Quilômetro Dois…” e o samba “Para Deus Somos Iguais”.

O auge e o declínio

Depois do fim do programa de Francisco Alves em 1935 passou a se apresentar nas Rádios Guanabara, Rádio Clube, Educadora e na Transmissora. Tinha uma agenda corrida, às vezes com apresentações em duas rádios no mesmo dia. Lançou vários discos de sucesso e em 1937 tornou-se o primeiro cantor a gravar o samba “Carinhoso” de Pixinguinha e João de Barro, um clássico da música brasileira. Esse disco ainda trouxe no seu lado B a música “Rosa” de Pixinguinha e Otávio Souza, outra joia rara. Numa de suas apresentações no centro de São Paulo foi quase morto por suas fãs alucinadas. Foi daí, então, que nasceu seu epíteto, Orlando Silva, o cantor das multidões.

Em 1938 teve um grande sucesso no carnaval com o samba “Abre a Janela”. Por essa época Orlando já era uma das maiores estrelas da RCA Victor. Era disputado pelos grandes compositores da época e mostrou seu gosto impecável na seleção de seu repertório e dos arranjadores de seus discos.

Em 1940, no auge de sua fama, iniciou uma grande história de amor com a atriz Zezé Fonseca, relacionamento que depois se revelou turbulento e que perdurou até 1943. Teve também uma doença que destruiu parte de seus dentes e que lhe causava muita dor. Era a “gengivite ulcerativa necrosante aguda”, mais conhecida como piorréia. O tratamento, em 1942, pode ter sido desastroso, expondo a dentina e o nervo de um ou mais dentes, uma das piores dores que um ser humano podia aguentar. Acredita-se que foi nesta época que o cantor tenha voltado a usar morfina, um poderoso analgésico, mas que tem efeitos colaterais graves para os nervos, o que comprometeu a sua voz e por conseguinte a sua carreira.

O clima geral da época, em meio à Segunda Guerra Mundial, também contribuiu para a queda de Orlando Silva. Os programas musicais nas rádios diminuíram de audiência. Em 1946 a Rádio Nacional o despediu, seguido pelo fim do contrato com sua gravadora, a Odeon. Passou, então, por um período de esquecimento onde o gosto popular mudou, trazendo novos cantores de voz potente e uso exagerado de vibratos, um contraste com o estilo refinado de Orlando, que apesar de ter uma grande voz sabia usá-la da maneira correta, sem exageros. Tanto é que ele, no futuro, viria a se tornar um modelo para os cantores de um novo estilo, a bossa nova. Era um dos ídolos de João Gilberto.

Orlando voltou a cantar no início dos anos 50, mas sua voz era apenas uma sombra de seus dias de glória. Em 1947 casou-se com Maria de Lourdes, com quem viveu pelo resto da vida. E faleceu em 7 de agosto de 1978 aos 62 anos vítima de uma AVC, um acidente vascular cerebral.

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