Os 194 países membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovaram em 19/05 uma resolução que prevê uma “investigação independente” da reação desta agência da ONU à pandemia do novo coronavírus, que tem sido muito criticada principalmente pela demora nas ações.
Por trás disso vemos uma forte pressão do governo dos Estados Unidos – o principal doador da OMS – sobre a organização e seu diretor-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Donald Trump acusa a OMS de ser um “fantoche da China”, e tem também insinuado que Pequim ocultou um acidente de laboratório que teria sido o início da pandemia.
Apesar de toda essa verborragia contra a China, o que parece realmente preocupar o governo dos EUA é a recente adoção de uma resolução que pede a “remoção urgente de obstáculos injustificados” ao “acesso universal, rápido e equitativo e distribuição justa” de tratamentos e vacinas, por meio de compartilhamento voluntário de patentes e seus direitos através de acordos internacionais. Os EUA é o país que tem a indústria farmacêutica mais poderosa do planeta. É óbvio, então, que Donald Trump esteja brigando pelo lucros desses capitalistas.
Fundada em 1948, a OMS era na sua origem inteiramente financiada pelas contribuições anuais de seus países membros. Mas isso foi mudando, tanto que quase 30% dos 4,9 bilhões de euros do orçamento da OMS para 2011-2012 foram provenientes de doadores particulares ou de subvenções governamentais voluntárias sobretudo dos países onde ficam as maiores empresas farmacêuticas do mundo, ou seja, dos países imperialistas. Essas doações tem objetivos específicos, o que na prática significa influência sobre estratégias e metas. Conforme observação de organizações não governamentais de todo o mundo, a crescente influência de interesses comerciais tem sido cada vez mais a tônica das estratégias da OMS, como mostra o exemplo da Fundação Bill & Melinda Gates.
Com benefícios totalizando 220 milhões de dólares, ela foi o segundo maior doador para o atual orçamento da OMS depois dos Estados Unidos e antes do Reino Unido. A maioria dos 25 bilhões de dólares que Bill Gates investiu em saúde no mundo todo nos últimos dez anos vem de empresas conhecidas na indústria química, farmacêutica e alimentícia. Além disso, Gates, como presidente da Microsoft, sempre lutou pela defesa dos direitos de propriedade intelectual, e isso ocorre da mesma forma no que diz respeito aos medicamentos e vacinas, área em que ele também defende patentes e é contra a promoção de medicamentos genéricos e de livre acesso. Logo, os programas de vacinação patenteada promovidos por ele e pela OMS beneficiam as grandes corporações farmacêuticas, prejudicando os países mais pobres.
Outro exemplo da atuação da OMS a favor do imperialismo é o que houve na pandemia da H1N1 em 2009. Em junho daquele ano, a OMS decretou alerta máximo para a pandemia de H1N1, a conselho de sua comissão permanente de vacinação, que tinha entre seus membros cientistas que tinham contratos com fabricantes do Tamiflu e outras drogas e vacinas. A campanha de vacinação global decorrente desse alerta trouxe grandes lucros para essas empresas. E para que a OMS pudesse declarar que uma gripe era uma perigosa pandemia, foram rebaixados os critérios para alertas de pandemia antes que fossem notificados os primeiros casos de H1N1, segundo um estudo do Conselho Europeu divulgado em 2010.
Esses são apenas alguns exemplos de como a OMS – que faz parte ONU, órgão que sempre ratificou as ações do imperialismo – não está imune à luta de classes e tem tido por décadas uma ação direcionada a atender os interesses da classe que a domina. Quando Donald Trump reclama da OMS ele está apenas agindo como o cliente que quer receber pelo que pagou.