A pandemia do Coronavírus continua fora de controle, e não apenas no Brasil, mas o continente europeu está voltando a ver suas taxas de infecção e óbitos aumentarem novamente após uma relativa queda. E a tendência é que a situação volte a piorar segundo o representante europeu da OMS (Organização Mundial da Saúde) Hans Kluge, o número de mortes deve voltar a subir consideravelmente nos próximos meses.
“Vai ser mais duro. Em outubro, em novembro, vamos observar uma mortalidade mais elevada”, declarou, em uma entrevista à AFP.
A declaração parece contraditória se observarmos qual a realidade que os trabalhadores estão enfrentando em todos os países mais atingidos pela pandemia no momento. Ao contrário do que aparenta ser, o que realmente acontece é que a pandemia ainda está em pleno curso e não há nenhum controle sobre o que está acontecendo, a falsa ilusão de que estamos finalmente superando o problema e que estamos controlando seu avanço na verdade não passa de demagogia para que tudo volte ao normal o mais rápido possível e que governos não precisem cumprir com suas obrigações para proporcionar a sobrevivência dos trabalhadores em meio à crise. No começo da pandemia, após o falso isolamento social em que somente uma parte dos trabalhadores pode ficar em casa, a pressão sobre a abertura total da economia acabou sendo vencida, onde comércio, bares, restaurantes, entre tantos outros estabelecimentos voltaram a abrir as portas sem nenhuma segurança comprovada, afinal a pandemia não havia nem mesmo atingido seu pico e não estava controlada. As mortes continuaram a acontecer e os números bateram recorde dia após dia, mas o clima na maioria das cidades brasileiras é de que tudo estava em seu estágio normal, onde trabalhadores eram e continuam sendo obrigados a se exporem ao risco e a morte para manter os lucros burgueses, ao mesmo tempo em que bancos faturaram somente no primeiro trimestre da pandemia mais de R$1 trilhão dos cofres públicos.
O aumento de mortes nos próximos meses pela Covid-19 coloca outro alerta em relação a reaberturas: a pressão que está sendo feita para a volta às aulas no mundo todo. Alguns países já retomaram as atividades escolares presenciais e o resultado já é catastrófico, onde professores e alunos acabaram se infectando no ambiente escolar, fora o risco que as crianças e adolescentes podem oferecer também a familiares mais vulneráveis ao entrarem em contato com o vírus e os levando para a casa. A volta às aulas nesta altura da pandemia e com previsões nada animadoras é uma verdadeira loucura e uma forma de condenar jovens, professores e toda uma comunidade escolar a um verdadeiro genocídio. E essa pressão para que as aulas retornem não é por preocupação com o calendário e aprendizado das crianças, mas sim com todo o prejuízo que a paralisação das aulas representa à toda uma cadeia produtiva, ou seja, mais uma vez a real preocupação está no capital e nos lucros capitalistas.
Outra declaração da OMS que é importante se destacar é em questão a vacina, e que assim reforça o discurso de que tudo volte ao normal. Mesmo alertando para o aumento de mortes nos próximos meses, Kluge colocou que a vacina não significa o fim da pandemia e que devemos “aprender” a conviver com ela.
“Escuto o tempo todo: ‘a vacina será o fim da epidemia’. Com certeza não… O fim desta pandemia será o momento em que, como comunidade, conseguirmos aprender a viver com ela. E isso depende de nós. É uma mensagem muito positiva.”, declarou, legitimando assim o discurso de que tudo deva voltar ao normal.
Se a vacina não significa o fim da pandemia ou pelo menos um grande controle dela, o que espera no futuro os trabalhadores? Essa declaração só se alinha aos interesses burgueses que, mesmo antes de uma possível cura chegar e também após sua chegada devemos nos acostumar a viver com a pandemia, como se fosse algo eterno e irreversível. É algo desumano pensar que devemos nos acostumar com picos de mortes e vendo vários trabalhadores perdendo suas vidas porque nada realmente concreto está sendo feito na maioria dos países, e tudo isso em nome do capital e da defesa de interesses que não são da classe trabalhadora, afinal tudo que está sendo feito só beneficiou a burguesia e o grande capital financeiro.
A classe trabalhadora necessita nessa crise econômica e de saúde se organizar para que seus direitos e sua sobrevivência sejam garantidas, uma mobilização contra a volta às aulas, contra as aberturas irresponsáveis e contra a política burguesa de que os trabalhadores paguem pelas crises causadas pela burguesia, seja financeiramente ou com suas próprias vidas.