Após o resultado do julgamento do STF, que barrou a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), para a presidência da Câmara e do Senado, a disputa pelo controle das casas tomou uma nova configuração. Segundo a imprensa burguesa, o candidato do governo Bolsonaro à Câmara, Arthur Lira (PP), teria reunido 171 deputados num bloco com 9 partidos, contra o candidato do atual presidente da Câmara, do bloco que reuniu 159 parlamentares. Esta situação faz com que a burguesia pressione a esquerda sobre a ideia do “voto útil”, ou seja, apoiar o candidato golpista “menor pior”.
De acordo com a CNN, o candidato de Bolsonaro reuniu 9 partidos: PP, PL, PSD, SD, Avante, Patriota, Pros, PSC, PTB. Já o candidato de Maia, é fruto do bloco de 6 agremiações: DEM, PSL, MDB, PSDB, Cidadania, PV. Já o bloco indefinido possui partidos como PT, PSOL, PCdoB, PDT, REDE, NOVO, PODE e PRB, totalizando 183 parlamentares.
As eleições para a presidência da Câmara ocorrerão no dia 1º de fevereiro de 2021. O bloco dominante, liderado por Maia, busca manter o comando da Câmara, hoje presidida pelo DEM, junto com MDB e PSDB, setores fundamentais da direita golpista, que organizaram o golpe de 2016 e a fraude eleitoral de 2018.
Como ocorrido na recente fraude nas eleições municipais, a direita golpista utiliza a disputa com o bolsonarismo para chantagear setores da esquerda a apoiá-la. Foi assim que chegou-se na situação atual. Parlamentares da esquerda apoiaram o “general da Reforma da Previdência” (apelido de Bolsonaro a Maia), para a presidência da Câmara, bem como o reacionário senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) para a presidência do Senado.
Vários setores de esquerda, novamente, são atraídos para esta política suicida. É o que pode ser visto em publicação do deputado Rui Falcão, ex-presidente do PT, que disse em sua conta no twitter:
Por uma candidatura de oposição para derrotar Bolsonaro na eleição da Mesa da Câmara! O PT não pode votar no candidato do Governo. Vacina para todos e todas. Impeachment já.
— Rui Falcão (@rfalcao13) December 13, 2020
“Por uma candidatura de oposição para derrotar Bolsonaro na eleição da Mesa da Câmara! O PT não pode votar no candidato do Governo. Vacina para todos e todas. Impeachment já.”
A omissão sobre a candidatura do bloco golpista, do sucessor de Maia, bem como de uma candidatura do próprio PT, não é uma coincidência, mas sim uma política. Falcão está deixando o espaço aberto para apoiar o tal “candidato de oposição”, que se não é do bloco de Bolsonaro, nem da esquerda, será obviamente um candidato do bloco golpista!
Se o PT não pode de maneira nenhuma apoiar o candidato bolsonarista, menos ainda pode apoiar o candidato do bloco do setor fundamental da direita golpista, que derrubou Dilma, condenou, prender, cassou Lula e elegeu Bolsonaro.
Caso incorra novamente nesta política, a esquerda, sob o pretexto de que Bolsonaro seria um mal maior – que toda a direita e a burguesia que o elegeu – vai se tornando cada vez mais um apêndice da direita golpista e deixe de ser uma alternativa de luta para os trabalhadores.
Esta política tem o objetivo de conter a polarização política entre a esquerda e a extrema direita bolsonarista. Ao apoiar um dos blocos da direita, a esquerda acaba por se anular enquanto força política. Afinal, se a única política “possível” é apoiar a direita, qual seria a necessidade da esquerda?