Em entrevista para o portal UOL, o governador da Bahia, o petista Rui Costa defendeu como fez antes o senador petista Humberto Costa, a “virada da página”, ou seja, que se abandonasse qualquer referência ao impeachment como elemento de centralidade política, buscando-se assim formas de recomposição política, através da conciliação com os golpistas.
Assim, declara um dos cinco governadores do PT: “nós temos que virar a página daquele momento. Se a gente ficar remoendo o impeachment, nós não vamos nem dialogar com a sociedade”? Para Rui Costa não adianta ficar “ remoendo o impeachment”, e como diz em outro trecho da entrevista “ficar brigando com aquele momento histórico”, isso porque na sua justificativa ficar falando do que foi o impeachment (nem golpe ele menciona) é “ não dialogar com a sociedade”.
Evidentemente que esse “ argumento” é uma falácia, uma vez que a “ sociedade” rejeita quase que na sua totalidade o governo golpista Temer, que por sinal é mais impopular na historia do país.
O que tem aumentado é justamente rejeição aos golpistas e suas medidas de ataque aos diretos sociais e democráticos da população. Interessante notar que quando Rui Costa fala em “dialogo com a sociedade”, na verdade ele esta querendo dizer que é preciso “dialogar” com os golpistas.
Um dos motivos para que a crise do golpe não se desenvolva mais amplamente é exatamente essa posição de “virada de página” por parte de setores dirigentes do PT. Representa uma trava a luta contra o golpe, pois apesar das bravatas e dos discursos contrários ao governo Temer, procuraram desde da instauração da crise política, e mais precisamente depois de consumado o impeachment de Dilma no senado estabelecer “ pontes” e “ diálogos” com os golpistas. Em outras palavras, “virar a folha”/ “virar a página” do golpe nada mais é do que uma sabotagem política interna e representa uma capitulação política sem precedentes.
Um outro ponto apresentado na entrevista do governador Rui Costa foi dizer claramente que em importantes setores da cúpula do PT a “defesa” da palavra de ordem “Eleição sem Lula é fraude” é apenas uma encenação política. Uma vez que não somente existe articulações pós-Lula, em torno do Plano B, como já tem quem defende o plano C, ou seja apoiar um candidato burguês com fachada de esquerda para capturar os votos de Lula e ao mesmo tempo “dialogar” com os golpistas.
Assim, sem mencionar nomes, Rui Costa afirma “Não podemos ficar nessa marra de que, se não há um nome natural do PT e se o Lula não puder ser [candidato], por que não pode ser de outro partido? Acho que pode e acho que essa discussão, se ocorrer, no momento exato”.
Essas declarações feitas quando é eminente a prisão do ex-presidente Lula são reveladoras do real conteúdo da política dos setores do PT, que se utilizam amplamente do prestigio político de Lula para conseguir seus cargos seja no executivo seja no Legislativo, mas não lutam efetivamente contra a prisão de Lula.
Uma prova concreta foi a assembleia pela democracia no FSM, no estádio Pituaçu, em salvador. O PT e mais especialmente o governador da Bahia não impulsionou uma real mobilização para a defesa de Lula, não foram organizadas caravanas, não foi mobilizado setores sociais influenciados pelo PT para fazer um grande ato em solidariedade a Lula e contra os golpistas. Isso, repito, quando o ex-presidente Lula, principal liderança do país e do PT pode ser preso à qualquer momento.
As prefeituras e os diretores do PT na Bahia nem sequer mobilizaram os militantes para apoiar Lula no ato em Salvador. Se isso não é capitulação e sabotagem, o que seria? Um dos motivos para não impulsionar a luta contra o golpe pela direção do PT na Bahia, também é expressa na entrevista do Governador Rui Costa.
Um dos objetivos centrais da política do Governador da Bahia é manter a qualquer custo a sua aliança com os setores da direita baiana, oriundos do carlismo, que votaram pelo impeachment e são “base” de sustentação do governo baiano. O pragmatismo oportunista de fazer aliança com golpistas é a motivação para a “virada da página” proposta pelo governador Rui.
Na Bahia, o momento pré-eleitoral é marcado pela disputa entre o DEM e o PT por conseguir atrair mais aliados entre os partidos golpistas fisiológicos. Um dos mais disputados é o PP, do vice -governador, João Leão, que sinalizou que continua com o PT, “Estamos juntos” pela reeleição de Rui Costa. (A tarde, 18/3/18).
Para disfarçar essa política oportunista, o governador baiano novamente procura florear a realidade, apresentando o discurso que não se pode abrir mão de votos das pessoas que apoiaram o golpe, e que mais uma vez é preciso “ virar a pagina” do impeachment para “ dialogar” com a sociedade ( como já indiquei podemos traduzir como golpistas) “Nós queremos ou não o voto dessas pessoas [que apoiaram o impeachment] para reconstruir o Brasil? Queremos. Então não adianta ficar brigando com aquele momento histórico, seus erros, seus acertos. Nós temos que dialogar com a sociedade “para justificar a aliança com setores egressos do carlismo, o governador do PT apresenta a formula de buscar o apoio de quem defendeu a queda de Dilma, como uma política “ampla” e “realista”. Para “conquistar” as bases conservadores e “ dialogar” com “ os milhões que foram a rua, naquele momento” ( impeachment) qual será a estratégia de Rui Costa? Tentar parecer cada vez mais com a direita tradicional, assim, os eleitores não precisaram votar no neto de ACM, pois pode votar no candidato do PT que se apropria da pauta carlista.
Na entrevista de João Leão, ao jornal A Tarde (18/03/2018) é evidenciado que o governo da Bahia estabelece sua pauta a partir da aliança com a direita, “ o governador me deu a chave da Secretaria do Planejamento, que é a chave do cofre do Estado, pois nós definimos as verbas para as demais secretarias”.
Não é por acaso que não tem dinheiro para saúde e educação. Além disso, nunca é demais lembrar que a política de “segurança pública” na Bahia é realizada nos moldes autoritários predominantes no país (a execução de jovens negros pela PM na Chacina do Cabula, não foi um mero acaso).
O golpe em 2016 agenciou as forças mais conservadoras e reacionárias para a derrubada do governo do PT, promovendo um processo de impeachment fraudulento da presidenta Dilma Rousseff. Entretanto, o que é importante salientar é que o impeachment representou um golpe, não somente pelo fato que não haviam evidências de crime de responsabilidade da presidenta Dilma, mas como o processo fraudulento foi articulado visando a quebra do pacto estabelecido desde da instauração da Nova República, configurado na constituição de 1988, o “respeito às urnas” foi quebrado. O impeachment não foi um “ golpe institucional”, mas pelo contrário, utilizou-se de uma fachada legal para subverter as próprias instituições democratizantes, com o claro objetivo de retirar com um golpe de mão o PT do governo federal. O sistema político democratizante herdado do período de transição política de meados dos anos 80 foi subvertido.
O pacto vigente de respeito aos processos eleitorais foi rompido tanto pelos partidos claramente oposicionistas da direita anti-petista como o DEM e PSDB como pelos partidos presentes na coalizão governamental dirigida pelo PT, como o PMDB de Temer e os partidos do chamado central, (PP, PSD, etc, etc, etc). A política de “ virada da página” do impeachment defendida pelo governador Rui Costa, e vários outros setores ( como o PCdoB) é uma tentativa de acomodação no regime golpista. Neste sentido, os acordos com os partidos apoiadores do golpe devem ser denunciados como uma capitulação.