A esquerda pequeno-burguesa vem apresentando a palavra “resistência” como uma espécie de uma política adotada diante da situação. Muitas pessoas, influenciadas pelas cúpulas dos partidos da esquerda, acabam adotando tal política sem refletir sobre o real significado dela.
Em primeiro lugar é preciso deixar claro que a política de “resistência” não visa ao fim do governo Bolsonaro. Ela substitui a política para a derrubada do governo por outra tipo de política. Isso, desconsiderando a realidade, inclusive dos institutos de pesquisas da burguesia, que mostram que a impopularidade de Bolsonaro é enorme. É perceptível que a há uma enorme oposição ao governo. Basta sair na rua, basta ir nas manifestações, basta juntar um grupo de pessoas que Bolsonaro passa rapidamente a ser o alvo principal.
Segundo a ideia da “resistência” não deveríamos fazer uma campanha pelo fim do governo, ofensiva, mas fazer uma luta ultra defensiva. Esta política estabelece uma trincheira onde o governo ataca violentamente a população e a esquerda deveria opor uma resistência para impedir que o governo ataque ainda mais profundamente os direitos. Esta seria a explicação de quem defende essa política.
O melhor exemplo foi em relação à Previdência. A reforma tornou-se o principal eixo dessa resistência. Era preciso deter o governo diante da ofensiva em torno da destruição da aposentadoria. O governo, no entanto, passou com extrema tranquilidade pelas forças adversárias e a política de resistência mostrou que não tem força nenhuma para resistir. Os “resistentes” do Congresso Nacional foram atropelados pelos deputados golpistas e quem sofreu a derrota foi o povo.
Uma das explicações da maioria dos partidos da esquerda pequeno-burguesa para ficar contra a palavra de ordem de “fora Bolsonaro” era a de que a luta contra a reforma da Previdência seria mais concreta, mais fácil da população entender, e portanto mais fácil de mobilizar. Isso se mostrou uma farsa e acabou levando todos a uma derrota. O resultado da votação da reforma da Previdência é o falecimento da política de “resistência”.
Pela lógica dos que defendem essa política, a luta “resistente” deveria continuar agora contra os próximos ataques do governo, cada um de maneira isolada e dividida. Assim, se mobiliza contra os ataques à educação, e novamente os golpistas passam por cima. Depois, contra a privatização de alguma empresa, e assim por diante, sofrendo derrotas atrás de derrotas, afinal, Boslonaro está atacando a população em várias frentes. Com essa política de resistência não há uma aglutinação de forças que crie um movimento que efetivamente se oponha ao governo Bolsonaro, é uma política ineficiente.
Mas a experiência com a reforma da Previdência não revelou somente o fracasso da tal política de “resistência”. Ela desmascarou essa política como sendo uma grande ficção.
O que existe na realidade são duas políticas. A primeira é a política que visa a derrubar o governo, pedir o fora Bolsonaro, chamar o povo a se mobilizar contra o golpe. Não “resistir”, mas partir para cima de um governo que é impopular, que foi colocado no poder de forma fraudulenta e que portanto a maioria do povo não o quer e quer vê-lo cair.
A segunda política é a da burguesia, que colocou Bolsonaro no poder e que desde as eleições traçou um plano para disciplinar o governo. Na impossibilidade de eleger o seu candidato, a burguesia se viu obrigada a colocar Bolsonaro no poder.
Diante do fracasso da política de resistência e da recusa da esquerda de chamar a derrubada do governo só resta a política de colocar Bolsonaro na linha, ou seja, disciplinar Bolsonaro. Ideia que já é expressa por vários setores da esquerda, incluindo Fernando Haddad e Ciro Gomes. Diante da derrota na reforma da Previdência, Ciro Gomes afirmou que a política correta seria colocar Bolsonaro na linha. Ou seja, é a mesma política da direita golpista, do setor tradicional dos golpistas.
Isso significa que toda a esquerda deveria ficar a reboque do PSDB, do DEM, do PMDB e do centrão, colocar Bolsonaro a serviço da linha geral dos golpistas. A política de resistência, portanto, significa no final das contas manter Bolsonaro sob controle, de acordo com as necessidades dos golpistas, que querem se livrar das excentricidades típicas da extrema-direita e ficar com um Bolsonaro que continue atacando o povo, mas adote um bico de tucano. É isso o que está por trás da resistência e da política de frente ampla com a corja golpista no Congresso, que setores da esquerda defendem. É a tucanização de Bolsonaro.
O objetivo dessa política de resistência é o completo seguidismo à burguesia golpista em nome de se fazer oposição contra Bolsonaro.