Os enormes atos do dia 29 de maio pautaram a o ponto final da decadência política do centrão e, em consequência, da suposta oposição entre a política “científica” e a “negacionista”. Com o funeral do “fique em casa”, a população nas ruas mostrou que a única política a ser levada hoje é a de luta social em favor dos direitos dos trabalhadores e da juventude. Nesse sentido, o debate passa a ser a alternativa entre o governo popular, em defesa da população e o governo impopular, de ataques neoliberais contra o povo.
Nesse sentido, é preciso que a discussão política fundamental do momento seja aquilo que pauta a disputa eleitoral. Não são os programas políticos integrais que o fazem. A exemplo disso, é possível citar as eleições nacionais inglesas, nas quais o erro político de Corbyn foi definidor sobre a sua derrota em relação ao candidato direitista, Boris Johnson. Apesar do candidato do partido trabalhista ter o melhor programa político, sem comparação em relação ao programa neoliberal do segundo, as eleições se definiram sobre o tema principal da luta política no momento: o Brexit, amplamente popular e que foi defendido por Johnson e não por Corbyn.
No Brasil, como foi citado, até antes dos atos, a questão essencial que estava sendo pautada pela própria burguesia era a luta em torno da posição em relação à pandemia. De um lado estavam os governadores, representantes do centro político, que eram os “científicos”. De outro lado, estava Bolsonaro, cuja política era denominada “negacionista”. Essa oposição era o eixo do debate em torno da CPI do Covid, a qual tinha a função de viabilizar a terceira via em detrimento de Lula e Bolsonaro. Os atos do último final de semana, contudo, enterraram essa possibilidade.
Enterrando o “fique em casa”, a suposta importância da política científica foi substituída pela centralidade da política de luta social. Quer dizer, a discussão é sobre a primazia de quem domina o poder das ruas. Nesse sentido, os únicos dois elementos que estão na disputa são o próprio Lula e Bolsonaro. As mobilizações da esquerda e da extrema-direita devem ser os dois lados das eleições de 2022.
Essa questão já foi colocada pela burguesia em matérias nas quais é citada a falência do centrão em emplacar um candidato. No texto da Folha de S.Paulo com o título irônico, “O centro já venceu em 2022”, Ciro Nogueira, mostra esse fato. Ciro declara: “Dito tudo isso, advém a questão final: qual dos dois [Bolsonaro ou Lula] teria maior capacidade de atrair as forças de centro? Lula, sem dúvida, já mostrou no passado ter habilidade política de ser um grande conciliador. Ocorre que as forças de centro, hoje, estão alinhadas com um conjunto de ideias e direcionamentos —sobretudo no campo econômico— de caráter reformista: as maiorias parlamentares no Congresso têm demonstrado uma ampla sustentação a projetos e reformas constitucionais, como a redução do custo do Estado, a privatização e a disciplina fiscal.“
Essa declaração mostra a indisposição da burguesia em apoiar Lula e a sua inclinação em apoiar a política neoliberal de Bolsonaro. Quer dizer, conforme a luta social se desenvolve e o centro político é esvaziado, resta à burguesia apoiar a sua última saída, o próprio Bolsonaro. A candidatura de Lula, portanto, deve ser representada não pelos acordos centristas, mas pelo caráter de luta da população. Nesse sentido, é preciso dizer que os grandes atos do dia 29 já começaram em um patamar tão elevado, que o desenvolvimento do movimento do qual fazem parte pode produzir uma verdadeira campanha do tipo do “Fora Collor”. Isso significa que o desenvolvimento dessas manifestações tem o poder de derrubar o próprio Bolsonaro e levar todo o regime golpista à crise e à derrocada.