Por Antônio Carlos Silva
Em pleno golpe militar na Bolívia, a direção da tradicional Central Operária Boliviana (COB), que apoiou o governo Evo Morales ao longo dos últimos anos, pressionada pela direita e pelo imperialismo por meio da intensa campanha realizada a favor do golpe de Estado, pediu, em 10 de novembro, que o presidente renunciasse a pretexto de “pacificar o País” diante da
mobilização artificial e minoritária levada adiante pela direita após as eleições de outubro passado, quando o candidato do MAS foi reeleito, derrotando – por ampla margem – a direita.
Depois da renúncia de Evo Morales, que abdicou de lutar contra o golpe, entregando o País nas mãos dos golpistas, a COB, diante da enorme crescimento da revolta popular contra o golpe militar, fez um pronunciamento dirigido ao governo golpista dando “24 horas para restabelecer a ordem constitucional, a paz e a unidade do povo boliviano e evitar mais derramamento de sangue, pranto, luta e violência”, ou seja, apoiando que o governo ditatorial agisse para “restabelecer a ordem”.
Em nenhum momento, a COB tomou a iniciativa real de organizar a greve geral e, de fato, foi superada nas mobilizações por sindicatos e organizações populares que se levantaram e foram às ruas contra o golpe que, mesmo diante da política conciliadora da esquerda, buscaram e ainda buscam enfrentar o governo golpista, diante da consciência clara de que a consolidação da direita no poder vai significar um brutal retrocesso nas já precárias condições de vida do povo boliviano, para o que a direita vai precisar intensificar o ataque contra os trabalhadores e demais setores explorados, destacadamente contra as suas organizações de luta, como a própria COB e os sindicatos.
No Chile, mesmo tendo acompanhado e – de certa forma – impulsionado, a tendência geral de luta dos trabalhadores e de todo o povo chileno contra o governo neoliberal e ditatorial de Piñera, a direção da CUT (Central Unitária de Trabajadores) tem atuado como um setor que atua como uma ala mais à esquerda dos setores da esquerda parlamentar que estabeleceu um acordo político com o governo em torno da convocação de uma assembléia constituinte controlada pela direita.
Na semana passada, a CUT, juntamente com o Bloco Sindical da Plataforma Unidade Social (US) convocou uma nova greve geral no Chile e se opôs ao “Acordo pela Paz Social e a Nova Constituição”. Em entrevista coletiva, a presidenta da entidade, Bárbara Figueroa, declarou que “mais uma vez trata-se de resolver pela via de acordos de cúpula, uma demanda que é muito mais profunda e que não se resolve apenas com um debate sobre um processo constituinte que além do mais até agora, não tem plena clareza de seu alcance“. Ou seja, fez uma crítica “democrática” ao acordo pelo qual a esquerda pactuou uma trégua com o governo que matou mais de 30 jovens e trabalhadores chilenos, deixou cegos ou com perda parcial da visão mais de 200 pessoas, prendeu e torturou milhares.
Mesmo criticando timidamente a conduta capituladora da esquerda e do conjunto da “oposição” que que chegou a um acordo com o governo direitista, os sindicalistas não plantam nenhuma perspectiva real diante do verdadeiro levante popular contra o governo que tem como uma de suas palavras-de-ordem centrais o “fora Piñera” e apresentam como plataforma um conjunto de reivindicações parciais que vão no sentido de negociar e chegar a um acordo com o governo amplamente repudiado nas ruas.
A Unidade Social (US) convocou e procurou dirigir as mobilizações no sentido de cobrar do governo e do Congresso Nacional respostas às seguintes reivindicações: “plano de proteção e estabilidade no emprego; salário mínimo de de 500 mil pesos chilenos (equivalentes a R$ 2.466,76); aposentadoria mínima equivalente a um salário mínimo; garantia de Saúde e Educação. Tudo isso, começando pelo NÃO à impunidade e a exigência de verdade, justiça e reparação frente à violação dos direitos humanos estabelecidos pela Anistia Internacional“.
Tudo como se o Chile estivesse diante de uma situação de “normalidade”, de um governo “democrático” com o qual pudesse se estabelecer uma negociação em torno das reivindicações dos trabalhadores.
Conduta muito semelhante vem sendo adotada pelas direções sindicais em nosso País.
Depois da significativa derrota na questão da “reforma” da Previdência, o maior roubo contra os trabalhadores de toda a história do País (mais de R$ 850 bilhões, retirados de dezenas de milhões de trabalhadores) e da recusa de levar adiante essa luta, como parte de uma luta política contra o governo golpista responsável pela ofensiva, o que mesmo de forma limitada se deu com o “fora Temer”, a maiorias das direções sindicais vem adotando como caminho o “dialogo” com setores do governo e do Congresso golpista e o “adiamento” de qualquer mobilização real contra o governo e seus ataques. Seguindo a orientação geral da esquerda burguesa e pequeno burguesa de que o enfrentamento com o governo e com o golpe deve ser deixado para o terrenos das eleições.
Assim, por exemplo, o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, juntamente com representantes das demais centrais sindicais, foram ao Congresso pedir “oficialmente” ao presidente do Senado, o golpista Davi Alcolumbre (DEM-AP), “que devolva a Medida Provisória (MP) nº 905, do ‘Programa Verde Amarelo’, ao governo de Jair Bolsonaro“. Uma medida verdadeiramente inútil para conter a ofensiva do governo.
Da mesma forma, em plenária realizada na última semana, com representantes da CUT e das demais “centrais”, ficou definido que somente em “18 de março de 2020” haverá um “Dia Nacional de Paralisação Mobilização, Protesto e Greves“.
Mesmo tendo aprovado em seu recente Congresso Nacional como eixos centrais da sua luta, a mobilização pelo fim do governo Bolsonaro e pela liberdade do ex-presidente Lula (alcançada apenas parcialmente já que seguem os processos e condenações fraudulentas e a cassação de seus direitos políticos), nada disso está presente como um eixo em sua atividade e, pressionada pela política reacionária das “centrais” pelegas, a burocracia sindical busca “negociar” com integrantes dos regime golpista como se estivéssemos no governo de Lula ou Dilma. Inclusive quando o Governo Bolsonaro age diretamente para atacar a organização dos trabalhadores e estimula o ataque aos trabalhadores e suas organizações da parte de bandos fascistas que o apoiam.