Nos últimos dias temos visto uma sequência de prisões de figuras da extrema direita ligadas, de alguma forma, ao bolsonarismo. Na última segunda (15) a ativista conhecida por Sara Winter, juntamente outros 5 do mesmo grupo, foram detidos por ordem do ministro do STF, Alexandre de Moraes. Na última quinta (18) o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, foi localizado e detido em ação conjunta das polícias civil de São Paulo e Rio. No mesmo dia, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, um dos principais bolsonaristas no governo, anunciou a sua saída.
O que temos a comemorar?
Desde o começo da semana, setores da esquerda pequeno-burguesa rapidamente partiram para comemorar os fatos, mas não conseguem perceber a manipulação que está por trás das prisões e do cerco à família Bolsonaro. Os meios de comunicação da burguesia, principalmente a Globo, não por acaso, estão fazendo uma intensa cobertura destes fatos. Os mesmos que fizeram toda a campanha do golpe de 2016 que levou à ascensão de Bolsonaro à presidência.
As prisões não passam de episódios de uma briga entre os próprios golpistas. Diante do acirramento da briga entre Bolsonaro e alguns governadores, como Witzel e João Doria, que também são da extrema-direita, com o avanço da Polícia Federal nas investigações contra esses governadores, outros setores da direita golpista ligados aos governadores começaram uma perseguição à ala bolsonarista.
A disputa em nada tem a ver com um pretenso “combate à corrupção”, na verdade, essa briga poderia ser melhor classificada como uma guerra entre quadrilhas que estão no poder.
Essa disputa se intensificou após à saída do golpista Sérgio Moro do Ministério da Justiça e do maior controle da PF por Bolsonaro, nas operações da PF no final de maio quando invadiram a casa de Witzel e apreenderam celulares e documentos na chamada Operação Placebo. Após essa operação, João Doria saiu em defesa de Witzel e declarou que representava “uma escalada autoritária” de Jair Bolsonaro.
A disputa entre alas da burguesia
A prisão de Fabrício Queiróz e de figuras menores do bolsonarismo devem ser interpretadas como um desdobramento da reação de setores mais tradicionais da burguesia golpista que levaram Bolsonaro ao poder. São setores da burguesia como PSDB/DEM que estão numa tentativa desesperada de controlar o bolsonarismo.
Estão tomando estas medidas pois estão vendo que essa perseguição de Bolsonaro através da Polícia Federal aos governadores dos principais estados do país pode gerar uma enorme instabilidade social e fazer com que o controle da situação política pela burguesia, que hoje é extremamente frágil, se quebre por completo. Ou seja, se trata, na verdade, de uma reação da burguesia à perseguição a Witzel e Doria realizada por Jair Bolsonaro.
Essa disputa entre setores golpistas e fascistas, que representam alas relativamente diferentes da burguesia, que pode enfraquecer ainda mais a extrema direita, não deve ser comemorada, mas sim entendida como uma oportunidade para intensificar a luta contra o golpe e pelo Fora Bolsonaro em favor dos trabalhadores.
Ataque superficial ao Bolsonarismo
Por outro lado, os ataques a figuras de menor expressão do bolsonarismo, ao mesmo tempo que servem como instrumentos de uma política de pressão e para impor controles a Bolsonaro, estas mesmas ferramentas poderão ser ainda mais facilmente utilizadas contra a esquerda.
As prisões de Sara Winter e seus comparsas, acusados de injúria, ameaça e por pedir intervenção militar, embasadas na lei de Segurança Nacional, significam, na verdade, uma prisão por posições políticas e que podem ser facilmente usadas contra a esquerda e suas bandeiras contra o regime burguês.
Vimos nos últimos dias o crescimento das manifestações populares pelo país o que tem feito os fascistas recuarem e acuado Bolsonaro. Rapidamente políticos da extrema direita reagiram ameaçando enquadrar movimentos da esquerda, como as torcidas antifascistas, nas leis antidemocráticas de terrorismo e de segurança nacional.
Uma política independente
É preciso deixar claro que esses setores da burguesia que atuam “contra” o bolsonarismo, não querem derrubá-lo, mas sim controlá-lo, porque concordam em grande medida com sua política. E sua retirada pode acarretar um agravamento da crise política levando a desestruturação do regime político.
Desta forma, a esquerda não pode ficar a reboque da burguesia e muito menos colocar o movimento pelo Fora Bolsonaro a espera de medidas institucionais, como ações policiais, investigações do STF ou do Congresso Nacional. Os trabalhadores e suas organizações devem traçar uma política independente das contradições internas e das manobras da burguesia e pôr em prática uma política de enfrentamento do regime golpista. É fundamental aproveitar a crise e ter uma política própria que garanta a derrubada de Bolsonaro e da direita pelos trabalhadores e nas ruas.