Em artigo publicado no Estadão do último 6 de setembro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez um “mea culpa” por ter permitido a reeleição. Segundo o tucano, a motivação principal pela reeleição vinha da burguesia e do regime político, que “temiam a vitória… do Lula.” Se naquele momento a manobra tratava-se de evitar a eleição do ex-presidente petista (além do interesse da burguesia com a consolidação da política neoliberal), hoje os principais articuladores políticos da burguesia (FHC entre eles) preocupam-se com a reeleição de Bolsonaro.
O PSDB já manifestou publicamente em suas páginas nas redes sociais sua principal divergência contra o regime de Bolsonaro. Não se trata da defesa de qualquer interesse nacional mas da dificuldade do presidente ilegítimo em ser mais contundente na destruição econômica do País e uma entrega ainda maior do patrimônio nacional.
Embora seja de conhecimento público as limitações intelectuais de Bolsonaro, este impasse ńo quadro geral não é resultado de inaptidão mas do fato de o golpista ter uma base social que lhe garanta votos, ao contrário de outros elementos da direita, Alckmin, Ciro, Marina, Doria, Huck, etc…
Com esta base social, estabelecida sobretudo na pequena burguesia e que precisa ser atendida justamente por ser seu trunfo contra os demais políticos burgueses, Bolsonaro acaba desempenhando o papel de um equilibrista confuso na presidência – conquista ilegítima por não ter concorrido com Lula mas de qualquer forma, ilustrativa da falta de apoio popular da direita centrista – justamente pelo conflito entre os interesses da burguesia, especialmente os setores mais ligados ao imperialismo, e os da pequena burguesia, que lutam desesperados para não serem engolidos pela política econômica dos grandes capitalistas.
Sem conseguir impor a totalidade dos interesses do imperialismo ao governo Bolsonaro e igualmente incapaz de emplacar a frente ampla, a ala centrista da direita articula agora o fim do bolsonarismo pelo expediente de um golpe parlamentar, proibindo-o de concorrer contra os candidatos do centro. Desta forma, a burguesia consegue produzir mudanças muito significativas na condução do regime sem gerar grandes abalos, o que também lhes permite manobrar a situação e levar adiante uma política de ataques ainda mais ferozes contra a classe trabalhadora e a economia nacional.
Sabendo da quase impossibilidade de se levar adiante um programa que atenda os interesses da burguesia sem produzir um desgaste político imenso, a direita precisa recorrer a uma permanente atualização dos atores desta encenação tosca de democracia em que se converteu a cena política brasileira. Esta característica, por outro lado, torna o regime político avesso lideranças com popularidade real, que tenham alguma margem de independência em relação ao imperialismo.