Quanto se fala em futebol, indiscutivelmente, tem-se como referência o futebol brasileiro. Afinal, embora tenha surgido na Inglaterra, ao chegar ao Brasil, pode-se dizer – sem nenhum exagero –, que o esporte transformou-se em uma arte, um patrimônio cultural da população brasileira. O grande mestre Pelé, o maior artífice de todos os tempos na arte de jogar futebol, elevou, como ninguém, o esporte a outro nível; exprimiu entre as linhas demarcadoras do campo, toda a ginga, talento, inteligência e capacidade de improvisação que um ser humano poderia materializar.
O fato, porém, é que para deslocar o eixo do esporte mais popular do mundo para a Europa, é, em primeiro lugar, preciso desconstruir o histórico e a amplitude do futebol brasileiro, colocando-o à reboque das novas tendências europeias, desmembrando todo o potencial brasileiro em virtude de uma nova era futebolística, onde a Europa seria, na atualidade, o maior centro representativo do futebol mundial.
Em sua coluna no sítio Uol, o jornalista Julio Gomes levanta a questão da comparação entre Pelé, Cristiano Ronaldo e Messi. Segundo a matéria, notícia dada alguns dias atrás, quando Messi superou, com a camisa do Barcelona, o número de gols que Pelé fez com a camisa do Santos, correu o mundo.
Outro ícone da indústria futebolística prestes a superar a marca do rei Pelé é Cristiano Ronaldo. O português tem 758 gols “oficiais”, faltam apenas 4 para atingir a meta. Ademais, o que seriam esses “oficiais”? Seriam contados amistosos com as seleções nacionais. Por qual razão, porém, amistoso de seleção vale, amistosos de clubes, não?
A questão, no entanto, vai muito além dos números de gols. Trata-se, portanto, da tentativa de forçar uma comparação entre o Pelé – maior jogador de todos os tempos, representante do “futebol arte” brasileiro e os jogadores da atualidade que, por acaso, representam o futebol europeu, onde centraliza os jogadores mais bem pagos do planeta, onde os grandes monopólios esportivos depositam vultuosas somas de dinheiro para produzir um futebol que retire do Brasil o título de maior fonte de craques do mundo.
Nesse sentido, as comparações com Pelé não são meras notícias como diz o colunista do Uol. Podemos dizer que se trata de duas coisas principais: em primeiro lugar, a comparação com Pelé serve para valorizar esses jogadores europeus, comparar com o melhor de todos os tempos é o melhor jeito de valorizar o passe desses jogadores.
Segundo, é um ataque contra o futebol brasileiro por meio do ataque ao maior craque. Eles querem apagar o óbvio ululante de que Pelé é superior a qualquer um desses jogadores. Essas notícias, inclusive, vêm acompanhada de duvida sobre o Pelé e assim sobre a própria qualidade do futebol brasileiro. É, nesse sentido, por isso, uma expressão da colonização da imprensa burguesa em detrimento dos interesses capitalistas europeus.