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O mundo dos chatos

O que está por trás da campanha contra os fogos de artifício

Estamos diante de mais uma lei repressiva justificada por preceitos morais

Já está ficando tradicional que, com a chegada das festas de fim de ano, vem à tona o debate sobre fogos de artifício. Surge uma campanha nas redes sociais e na imprensa burguesa sobre os supostos “malefícios” dos fogos. Os governos, sempre atrás de uma lei repressiva, começam a aprovar leis proibindo o uso de fogos. Mais uma lei proibitiva entre tantas que querem aprovar. Alguns municípios, como Curitiba, conseguiram proibir os fogos. Em São Paulo, há um esforço da burguesia para sancionar essa lei.

Trata-se de mais uma onda de tipo moral cujo único objetivo real é criar mais um pretexto para aumentar o controle e a repressão da população.

Quem faz as leis é a direita, mas ela conta com a pequena-burguesia para propagar as ideias que baseiam tais leis. Uma das funções da pequena-burguesia é justamente servir como correia de transmissão da ideologia da burguesia e melhor ainda quando ela pensa que está fazendo tudo por convicção própria.

Trata-se de um moralismo de tipo religioso: “os fogos prejudicam os animais”. Tal é a justificativa moral. O que realmente está em discussão, no entanto, é novamente o problema dos direitos democráticos do povo. Exigir que se proíba os fogos, ou mesmo estabelecer uma campanha de vigilância contra quem solta fogos, é abrir um precedente para atacar os direitos individuais. Em nome da boa moral, extingue-se o direito do povo se manifestar.

O nível da discussão mostra quanto a sociedade está degenerada: “o ‘direito’ de um cachorro está acima do direito de toda a população”. Os defensores de tal política podem não gostar de tal formulação, mas é exatamente disso que se trata. As pessoas têm todo o direito de adorar seus animais de estimação, o povo deve ter todo o direito de se manifestar.

Alguns poderiam objetar que soltar fogos não é uma manifestação. Essa afirmação não é verdadeira. Soltar fogos de artifício é uma manifestação inclusive cultural da população. Tal prática é tradicional não apenas no réveillon, mas nas festas de São João, nos estádios de futebol, em comemorações em geral. O que se pretende com a campanha contra o fogos é simplesmente sufocar essa manifestação.

Apenas para dar um exemplo, a posição da pequena-burguesia contra os fogos é o equivalente a proibir que aconteça o carnaval porque supostamente os foliões sujam as ruas e atrapalham a vizinhança. Não estamos aqui fazendo um exercício de criatividade, de fato tem acontecido nos carnavais de rua em São Paulo e em todo o País uma política de repressão e controle. Diante disso, deveríamos nos perguntar se o caminho seria acabar com o direito do povo festejar o carnaval, ou seja, se manifestar espontaneamente, ou, ainda, que em nome de não perturbar algumas pessoas, seria legítimo atacar todo o direito da população.

O controle social, como quer a pequena-burguesia, é uma manifestação de fascismo. Querem enquadrar a sociedade e o povo de acordo com seus preceitos morais questionáveis, querem enquadrar o povo de acordo com a sua comodidade.

Se o barulho me incomoda, eu ataco o direito do povo. Se incomoda meus animais de estimação, ataco o direito do povo. E assim, cria-se uma sociedade cada vez mais controladora e repressiva. Um prato cheio para os nazistas que estão nas instituições do Estado.

A classe média se torna a base social para a política repressiva e de controle social bem ao estilo das piores ditaduras.

A esquerda pequeno-burguesa – justamente por ser pequeno-burguesa e moralista – mais uma vez embarcou na campanha direitista contra os fogos. Nós poderíamos acrescentar: contra os fogos, pelo controle social e por um mundo cada vez dominado pelos chatos.

Alguns minutos de fogos de artifício no réveillon são o suficiente para enervar um pequeno-burguês como se o próprio mundo fosse acabar. Mas não podemos medir a política com a régua de um elemento da classe média dado a exageros.

Alguns levantam também o problema dos enfermos e pessoas com autismo. Aí a questão não muda de figura. Usar esse argumento como justificativa é o equivalente ao argumento da direita quando afirma que não pode haver manifestação nas ruas porque atrapalha as ambulâncias. Trata-se de um cinismo cujo objetivo é simplesmente proibir o povo de realizar atos públicos. A classe média e a esquerda pequeno-burguesa acham que o mundo é quase perfeito, não há nenhuma contradição, quase não há sofrimento ou injustiça, portanto bastariam algumas medidas restritivas para que tudo fosse maravilhoso. Logicamente, trata-se de uma fantasia, que é facilmente manipulada pela direita, que apela para os sentimentos morais da pequena-burguesia para justificar as mais abusivas leis contra a maioria da população.

O neoliberalismo é o sistema onde dominam os chatos. O capitalismo cada vez mais degenerado destrói profundamente as condições de vida do povo, mata milhões de miséria e de doença e reprime a população. Enquanto faz tudo isso, induz os incautos de classe média, que não sofrem – ou pelo menos não percebem – com essa política, a acreditarem que o mundo é quase perfeito, bastaria boa ações morais e a defesa dos cachorrinhos para que tudo termine bem.

Mais ainda, a classe média acredita que o único problema do mundo é a massa ignorante e miserável, por isso precisa impor a sua moralidade à força. Precisa forçar que essa massa pare de praticar coisas tão obscenas quanto, por exemplo, soltar fogos de artifício.

Para cumprir esse objetivo, nada melhor do que controlar e reprimir e quem pode fazer isso com a máxima eficiência. O Estado capitalista, esse ente tão puro e democrático, que se preocupa tanto com o bem estar dos cachorrinhos. Logicamente, a ideia é absurda. O Estado não se preocupa com o bem-estar dos bichinhos de estimação, mas tem uma preocupação bem definida: controlar e reprimir o povo.

Assim, acabamos com alguns minutos de fogos de artifício, e ganhamos em troca uma política de tipo carcerária e cada vez mais repressiva. Uma boa troca não acham?

Não vamos esquecer que foi em nome da grande luta moral contra o “mal da corrupção” que o Brasil está hoje nas mãos dos golpistas e de Bolsonaro. Para ser melhor colocar de lado a moralidade e passar à luta política. Ou seja, é melhor lutar e garantir os direitos do povo de maneira irrestrita e incondicional, do que ficar nas mãos desses moralistas tão puros que tomaram conta do governo.

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