Ainda hoje, existem muitas dúvidas sobre o que é o stalinismo. A primeira coisa que deve ser levada em consideração, quando se analisa o stalinismo, é a falta de unidade ideológica entre os atuais stalinistas. O PCB, por exemplo, tornou-se um apêndice do PSOL, enquanto o PCdoB leva adiante uma política oportunista própria.
Isso dificulta a compreensão do que é o stalinismo. Portanto, é preciso definir claramente do que se trata.
Primeiro de tudo, é preciso desmentir alguns mitos que existem sobre o conceito. O stalinismo é uma corrente do marxismo? Não, o marxismo é uma ciência que busca levar adiante os interesses da classe operária e, apesar de não ser uma coisa estática, não tem correntes. Portanto, não existem “marxismos”, apenas o marxismo.
O stalinismo também não é uma esquerda sem ética, ou um “socialismo sem democracia”. Esta idéia nos leva a crer que existem vários tipos de socialismo e não apenas o socialismo, que é o estado de transição do capitalismo para o comunismo.
A maioria das compreensões sobre o stalinismo estão, portanto, erradas.
Então, qual é a definição marxista para o conceito?
O stalinismo é a principal corrente revisionista do marxismo da história. Stálin revisou o marxismo ao sabor dos acontecimentos políticos e é estranho a qualquer programa e doutrina. O stalinismo é pura e simplesmente uma degradação sistemática do marxismo, sem coerência doutrinária, variando, ao depender dos interesses políticos, entre a extrema-direita e a extrema-esquerda.
No Brasil, por exemplo, o stalinismo passou de uma política democrática-burguesa de apoio a Getúlio Vargas (queremismo), em 45, a uma política pró-imperialista contra Getúlio em 50 e a uma política de integração aos governos nacionalistas-burgueses de 54 até o golpe militar.
Ou seja, uma conclusão é que o stalinismo não é um fenômeno ideológico. Então do que se trata? Se não podemos compreendê-lo como fenômeno ideológico é preciso compreendê-lo como fenômeno social.
O stalinismo é a expressão da burocracia estatal do Estado Operário russo que se tornou relativamente independente da classe operária do país. Nunca conseguiu ser totalmente independente da classe operária, mas foi se degradando e se tornou uma força política burguesa (momento em que se torna totalmente independente da classe operária). Quando isso ocorre, o stalinismo deixa de existir e se torna mais uma força política da burguesia russa.
A burocracia stalinista dominava a classe operária de maneira policialesca e brutal sem ser totalmente independente desta. Uma política necessária para manter esta camada social. O stalinismo, portanto, é uma força contraditória, que ao mesmo tempo se sustenta na existência de um Estado operário, mas que controla a classe operária e seus anseios revolucionários.
É isto que explica porque o stalinismo precisa ser compreendido como fenômeno social e não ideológico. Ora é pressionado pela revolução mundial, ora pela classe operária russa, ora pelo imperialismo e a burguesia – o que explica as variações políticas e ideológicas do stalinismo que é o que caracteriza-o como força política oportunista.
O stalinismo surge como uma reação política sobre a base de uma revolução vitoriosa. Trata-se de uma reação termidoriana, isto é, uma reação que aniquilou a ala esquerda da revolução, sem reverter a situação social criada por ela. Stalin, de fato, exterminou o partido que fez a revolução.
O caráter contraditório do stalinismo fez com que ele não fosse capaz de liderar a classe operária e por isso, em algum momento, levaria à derrota da revolução. Isso foi dito pelo revolucionário Leon Trótski e comprovado pela história com o fim da União Soviética, em 1991. O stalinismo, então, construiu a base para sua própria aniquilação uma vez que sua política levou ao fim do Estado operário que lhe dava base.