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Texto de Antonio Mata Salas

O preço que Cuba tem que pagar por escolher seu próprio destino

DCO publica artigo de Antonio Mata Salas, conselheiro - cônsul de Cuba em São Paulo. O texto trata dos ataques que Cuba tem recebido incessantemente após realizar sua revolução

Os antecedentes da política agressiva do governo dos Estados Unidos contra a Revolução Cubana são anteriores ao triunfo de 1 de janeiro de 1959. Basta recordar o sólido respaldo oferecido ao regime bastistiano em armamentos, assessoria e treinamento ao exército nos 22 meses de luta revolucionária em Sierra Maestra.

A construção do socialismo em Cuba constituiu para os Estados Unidos uma das mais humilhantes derrotas políticas de sua existência como grande potência imperialista, a qual determinou que o desacordo histórico entre ambas as nações entrasse em uma nova e mais aguda etapa de confronto, que se caracterizaria desde então pela aplicação, por parte dos Estados Unidos, de uma política brutal de hostilidade e agressões de todos os gêneros destinadas a destruir a Revolução Cubana, reconquistar o país e reimplantar o sistema de dominação neocolonial que durante mais de meio século impôs a Cuba e que definitivamente perdeu há mais de 60 anos.

Do que agora se conhece como fake news, Cuba foi vítima somente duas semanas depois do Triunfo da Revolução. No dia 15 de janeiro, um grupo de congressistas norte-americanos se declararam contrários à acusação dos crimes de guerra batistianos e solicitaram ao Departamento de Estado sua intervenção no assunto.

O divisionismo, a falsificação dos feitos, as mentiras e calúnias encontraram amplo espaço na grande imprensa subordinada ao capital financeiro e em uma atitude insolente, o representante republicano Wayne Hays declarou que deveriam adotar sanções econômicas, tais como o rebaixamento da cota açucareira e o embargo comercial e, se fosse preciso, considerar o envio de tropas.

A orquestra da campanha foi sendo incrementada, o que fez com que o comandante Fidel Castro realizasse conferências públicas, nas quais recordou como a imprensa e o governo dos Estados Unidos haviam silenciado os crimes da ditadura.

Agora, as fake news continuam sendo utilizadas contra Cuba, exemplo da campanha preconizada pelos EUA contra nossa colaboração médica internacional e a solidariedade no enfrentamento ao Covid-19, em que temos 2600 profissionais cubanos em 34 Brigadas Henry Reeve em 26 países; além dos 28 mil profissionais da saúde que já estavam em 59 países.

Os Estados Unidos nos primeiros anos da Revolução, começaram a realizar atos de terrorismo de estado com violentas sabotagens, como a queima de cana, incêndios em grandes tendas e indústrias, lugares de desfrute da população, escolas e círculos infantis; a explosão do barco francês La Coubre que trazia a primeira compra de armas, tirando a vida de 100 trabalhadores cubanos; o  bombardeio de lugares de Havana por aviões procedentes dos EUA pilotadas por conotados contrarrevolucionários, infiltrações pelo litoral norte do país, etc.

Em 1960 seguiu o banditismo armado, projetado e desatado pelo governo dos Estados Unidos em quase todo o país que se estendeu até 1965, assassinando alfabetizadores, revolucionários das zonas montanhosas e camponeses. Essas bandas, organizadas pela CIA, que por todos os procedimentos possíveis realizaram os maiores esforços para fornecer armamentos, munições, explosivos, equipamentos de comunicação e logística.

Seu principal local de estabelecimento foi a região de Escambray, na língua antiga de As Vilas. Semanas antes da invasão mercenária pela Praia Girón, 40 mil operários, trabalhadores e estudantes organizados em batalhões de milícias, cercaram e neutralizaram totalmente este baluarte, que devia cooperar com as forças invasoras, capturando centenas de bandidos e os reduzindo a sua mínima expressão naqueles dias decisivos.

São amplamente conhecidos os pormenores da invasão mercenária de abril de 1961, organizada e financiada pelos EUA, que foi derrotada em menos de 72 horas com perda de vidas civis, de milicianos, membros do exército e da polícia revolucionária. O informe de Lyman Kirkpratrick, inspetor geral da CIA nesse momento, sobre a invasão da Praia Girón, se afirmar que “no momento da invasão, havia caído um total de 12 milhões de libras de panfletos” de propaganda contrarrevolucionária e descreve os passos que a partir de agosto de 1959 havia começado a dar um grupo paramilitar dessa agência.

A Guerra desatada pelos Estados unidos contra a Revolução Cubana concebida como política de estado, ficou historicamente demonstrada e é plenamente constatável através das múltiplas informações que têm sido reconhecidas naquele país nos últimos tempos, nas quais se pode apreciar a existência de uma variedade de ações e modalidades, políticas subversivas, militares, econômicas, biológicas, diplomáticas, psicológicas, propagandísticas, de espionagem, de alento à deserção e emigração; e as tentativas de liquidar fisicamente os líderes do processo revolucionário cubano, fundamentalmente Fidel Castro com mais de 600 planos conhecidos.

A afirmação da execução dessas ações está especialmente provada pelos numerosos documentos secretos desclassificados, ainda que todos têm sido dados a conhecer, junto a importantíssimas declarações públicas de autoridades do governo dos Estados Unidos e das incontáveis e irrebatíveis evidências acumuladas pelas autoridades cubanas.

Nos primeiros anos da revolução, a existência da Base Naval de Guantánamo foi convertida em um ativo centro de subversão, de assassinatos a trabalhadores da base e provocações aos postos do território cubano, em que mataram jovens militares cubanos. A base, estabelecida em Cuba há mais de 100 anos, mediante um convênio perfidamente escrito, em virtude da qual aos Estados Unidos se arrenda o território que ocupa “pelo tempo que necessite”, sem uma cláusula que garanta o pleno direito de nossa soberania sobre esse território, tem sido utilizada pelos EUA como um instrumento de sua política contra nosso país.

Um dos feitos terroristas mais criminais foi quando em 1976, especificamente em 6 de outubro, destruíram em pleno voo  a aeronave CU-455 da Cubana de Aviación, que se dirigia da ilha de Barbados à de Jamaica com destino final à capital cubana. As 73 pessoas a bordo da aeronave morreram no até então pior ataque deste tipo no hemisfério ocidental executados por pessoas ao serviço da CIA contra a Revolução Cubana.

Os autores intelectuais tiveram abrigo nos Estados Unidos. Um dos assassinos, Luis Posada Carriles, tratou de realizar um ato terrorista na Conferência Ibero-americana no Panamá no ano de 2000, na qual Fidel Castro se reuniria com os estudantes da Universidade, feito que foi abortado por Cuba ao denunciar o que era planejado.

Durante todos os anos da Revolução, as ações agressivas do governo dos Estados Unidos têm afetado de maneira significativa a saúde do nosso povo. Para isso, foi empregada, dentre outras vias, a agressão biológica, que tirou valiosas vidas humanas, incluindo crianças e mulheres grávidas. Cento e cinquenta e oito pessoas faleceram como consequência da epidemia de dengue hemorrágica em 1981, dentre ela 101 crianças. Também ocorreram outras agressões biológicas como a gripe suína (1971), em que foi tomada a medida de queimar toda a produção suína, além de ataques na agricultura, com pragas na cana de açúcar e outras.

A realidade irrefutável, demonstrada com feitos e documentos que ninguém se atreveria a rebater, explica os imensos gastos em recursos humanos e econômicos e os sacrifícios impostos a nosso povo para se defender durante décadas do perigo de uma agressão direta armada pelo governo dos Estados Unidos. A ideia básica tem sido a de evitar a guerra mantendo e desenvolvendo um potencial de resposta armada com a participação de todo o povo e uma doutrina de luta frente a uma agressão militar que asseguraria um custo tão alto aos invasores, que desencorajaria uma agressão direta dos Estados Unidos.

Isso exigiu, durante muito tempo, que fosse dada uma prioridade total a essa atividade durante o período compreendido entre 1960 e 1998, segundo cálculos efetuados, fomos forçados a um superdimensionamento em termos de quantidade de pessoal vinculado à defesa. Parâmetros aceitos internacionalmente estabelecem que as forças em função da defesa de um país devem oscilar ao redor de 0,4 por cento da população existente.

Seguindo esse critério, nosso país foi forçado a superar consideravelmente esses parâmetros, condicionando tudo à situação de guerra que nos foi imposta durante todos esses anos. Consequentemente com essa função, o país se viu obrigado a superdimensionar os gastos e recursos empregados em sua defesa e no mantimento da ordem interior.

Esse desequilíbrio em termos de pessoal, se estima que seja ao redor de 4.362.645 efetivos mobilizados durante o período mencionado acima dos parâmetros aceitos como normais. A situação descrita, que resulta totalmente anômala para um país de recursos econômicos escassos, pequena dimensão, baixo índice demográfico, associado à ameaça permanente da potência militar mais poderosa do mundo, trouxe consigo o esforço colossal e extraordinário na preparação combativa do país que nos foi imposta pela política agressiva dos Estados Unidos.

Nos anos 90, incentivados pela derrubada do campo socialista, as organizações contrarrevolucionárias incentivaram e continuaram desenvolvendo impunemente, dos territórios dos Estados Unidos e outras bases de operações na América Central, numerosas ações violentas contra Cuba e seus dirigentes.

Foi iniciado um novo programa criminal contra Cuba, orientado a dois fins concretos: assassinar o comandante chefe Fidel Castro Ruz e afetar as fontes de divisas para Cuba, em particular a da indústria turística, em momentos de uma difícil situação econômica gerada depois da queda do socialismo na Europa Oriental e na URSS.

Um criminoso plano assassino se ensaiava em cada país que Fidel Castro visitava durante a celebração anual das Conferências Ibero-americanas. Na maioria desses planos de assassinatos, estava presente Luis Posada Carriles.

Diversos atos de terror definem a atuação criminosa contra Cuba das organizações terroristas de Miami, financiadas e armadas pelo governo norte-americano, e toleradas pelas autoridades da Florida até esses momentos.

Nesse período, se realizaram 10 infiltrações marítimas clandestinas por costas cubanas com um total de 28 terroristas armados, com meios explosivos em seu poder, quase todos de origem cubana residentes nos EUA. Todas as embarcações preveniam do território norte-americano. Um dos terroristas assassinou impunemente um trabalhador momentos depois de desembarcar ao norte da província de Villa Clara.

Lanchas rápidas de artilharia provenientes daquele país se acercaram à zona turística de Varadero e realizaram disparos de armas automáticas contra as instalações hoteleiras repletas de turistas, com o propósito de criar o caos e o terror e afetar as entradas de divisas ao país por essa via.

Em setembro de 1997 explodiram bombas em vários hotéis de Havana e em duas empresas turísticas cubanas no exterior. Um desses atos monstruosos ceifou a vida do jovem turista italiano Fabio di Celmo.

Como era habitual, o governo dos Estados Unidos e seus serviços especiais de espionagem e subversão tentaram manter-se ocultos. Em seu lugar apareceriam outros grupos terroristas de Miami, atuando com uma aparente independência que a ninguém conseguiu enganar. Os cabeças e esses grupos terroristas seguem ali, tolerados, financiados pela National Endowment for Democracy (NED) e a Agência para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (USAID).

Por outra parte, a guerra econômica decretada pelo Governo dos Estados Unidos contra Cuba infligiu graves danos ao sistema nacional de saúde em Cuba, ao entorpecer a aquisição de tecnologias, peças de reposição de equipamentos, instrumental, medicamentos, matérias primas, reativos, meios de diagnóstico e de tratamento. A necessidade de efetuar uma mudança total dos suprimentos norte-americanos dos quais o país adquiriu historicamente esses recursos, obrigou entre outras coisas à reposição tecnológica e de recapacitação profissional e técnica.

Para a indústria farmacêutica, representou o desenvolvimento de novas formulações, envases e processos tecnológicos adaptados às especificações das matérias primas diferentes, com o conseguinte encarecimento dos custos de produção. As despesas e perdas extraordinárias causadas pela mudança forçada dos mercados de fornecedores foram estimadas em mais de 1 bilhão de dólares.

O bloqueio econômico imposto ilegalmente pelos Estados Unidos em 5 de fevereiro de 1962, o mais antigo da história, provocou e continua provocando sensíveis danos à economia e às condições de vida da população. Sua ação é tão abarcadora e tem sido durante tanto tempo que não existe setor, ramo ou atividade econômica que não tenha sofrido o incremento de seus custos de operação e de deterioração de sua eficiência, com efeitos evidentes sobre a população. Seu custo se calcula em 900 bilhões de dólares até 2019.

Na atualidade, com a administração Trump, desde 2017, o bloqueio foi incrementado com medidas inéditas, como a implementação de extremos impedimentos ao investimento estrangeiro da Lei Helms-Burton dos EUA; assim como cerca de 300 medidas adicionais desenhadas para afetar as famílias cubanas que endurecem o bloqueio, temas esses que foram amplamente conhecidos por todos. A gravidade da perseguição implacável aos barcos que transportam petróleo à ilha e às ameaças de sanções da chegada à Cuba de insumos, justamente durante o combater à pandemia, oferecem uma ideia da crueldade dessas políticas.

Nenhuma outra nação na história teve um inimigo declarado tão poderoso e próximo, que tenha levado a cabo contra ela tão alto e diverso número de ações agressivas, nem se viu outro caso similar de tal resistência vitoriosa, ante uma correlação de forças abruptamente adversa.

Finalmente, se deve reiterar que Cuba é um país que tem sido vítima de numerosos atos terroristas organizados, financiados e executados do território dos Estados unidos, por parte de grupos e indivíduos que desfrutam ali de tolerância e proteção governamental, realidade que é de domínio público. Foi vítima também, no passado, do terrorismo de estado perpetrado diretamente pelo governo dos Estados Unidos, que atuou em ocasiões em conjunto com o crime organizado desse país. Por ações desse tipo, morreram 3478 cubanos e 2099 sofrem ou sofreram algum tipo de incapacidade.

Consistentemente, em 30 de abril, nossa Embaixada nos Estados Unidos foi alvo de um ataque terrorista. O governo estadunidense manteve desde então um silêncio cúmplice, sem condenar ou sequer recusar o ato e se abstém de tomar ações contra pessoas e grupos terroristas radicados no território estadunidense que incitam à violência contra Cuba e suas instituições.

Como consequência, depois do ataque terrorista contra nossa missão diplomática em Washington, foram produzidas ameaças contra a integridade de diplomatas em México, Costa Rica, Antígua y Barbuda, Canadá, Chipre, Áustria e Angola, todos os quais foram relatados aos respectivos governos. O serviço de relações exteriores da República de Cuba tem 11 mártires formados por diplomatas que foram violentamente assassinados por grupos terroristas. O chefe da diplomacia do Caribe recordou em uma recente entrevista coletiva.

Como denunciou, no último 1 de junho, o Ministério das Relações Exteriores de Cuba “o governo dos Estados Unidos tem continuado a arbitraria prática de colocar Cuba em suas listas espúrias, incluída a dos estados que supostamente patrocinam o terrorismo internacional, que fabrica o Departamento de Estado para qualificar o comportamento de outras nações. Esse país não tem a autoridade moral para fazer tais listas, que como regra teria que encabeçar, nem existe uma só razão para incluir Cuba em nenhuma delas… Como país que tem sido vítima do terrorismo, Cuba deplora toda manifestação de manipulação e oportunismo político ao tratar de um assunto tão sensível.”.

Antonio Mata Salas

Consulado Geral de Cuba de São Paulo

6 de junho de 2020

Especialmente para o Diário Causa Operária

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