Os acontecimentos do carnaval, de absoluto repúdio ao governo golpista de Bolsonaro e, por outro lado, de clamor pela liberdade de Lula, dão a exata dimensão da profunda crise que se abate sobre o regime político instaurado com a derrubada da presidenta Dilma Rousseff em 2016, pela fraude do impeachment.
O governo de Bolsonaro, com a apenas dois meses, já é um governo velho, que se decompõe a olhos vistos. Isso tem uma explicação. A população vê em Bolsonaro e todas as instituições do regime a mera continuidade do governo do também golpista, Michel Temer.
Essa situação coloca uma condição obrigatória para as direções dos partidos de esquerda, dos sindicatos, do movimento popular que é a de uma ação decidida contra o governo e o conjunto do regime golpista.
A esquerda tem elementos suficientes para sair da letargia e tem que ter uma política condizente com essa situação. A política pouco ambiciosa na situação de crise em que está colocado o golpe e o seu governo é absolutamente nefasta para o conjunto da população explorada.
Muito da atuação política está relacionado a aproveitar as oportunidades, e nesses quase três anos de golpe a situação nunca esteve tão favorável para uma intervenção independente das massas diante da crise do regime político.
Quando se fala em favorável o que se quer dizer claramente é que o povo já demonstrou que já se decidiu. A palavra de ordem central no carnaval que expressa isso, “Ei Bolosnaro vai tomar no c*”, não é uma mera chacota, presente nas sátiras políticas no carnaval, mas um grito de irritação, de ódio e de guerra contra o regime e o governo.
O problema central que se coloca para essa etapa política será o programa e o plano de lutas que as organizações de esquerda apontarão para o movimento de conjunto, pois não se trata mais de convencer a população da calamidade que significa esse governo, mas ter um eixo que seja capaz de organizar o povo para derrubar o governo, porque esse é o sentimento e o desejo popular.
A luta e organização concretas dos trabalhadores em torno de questões como a greve geral, o fora Bolsonaro e todo o regime golpista, a liberdade de Lula, são as pautas que vão determinar a derrota do golpe de Estado no país.
A esquerda não pode deixar o governo se recompor, muito menos pode alimentar a ilusão de que acordos com setores do movimento golpista são possíveis para dar uma saída progressista para a crise via instituições do Estado, como o Congresso Nacional ou o Judiciário.
A atual oportunidade não pode ser perdida, a única saída progressista para o clamor popular é seguir as bandeiras do próprio clamor popular apontando um programa, um plano de lutas e uma organização que permitam, de fato, potencializar entre os operários, os servidores públicos, professores, movimento dos sem-terra, estudantes, entre outros, o sentimento de repulsa do povo brasileiro contra o golpe de Estado e seus representantes à frente do país.