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Adaptação ao regime

O povo pede o Fora Bolsonaro, mas Altman acha que não é o momento

Breno Altman, comentarista do portal Brasil 247, defendeu, em debate com Leonardo Attuch, que não há condições de derrubar o improvisado e impopular governo Bolsonaro.

Os novos acontecimentos envolvendo o caso do assassinato político da ex-vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) levaram a TV 247, que pertence ao portal Brasil 247, a promover uma discussão sobre o “Fora Bolsonaro”. Participaram dessa discussão Leonardo Attuch, que, de maneira geral, se mostrava favorável a uma política que colocasse em marcha a derrubada do governo, e Breno Altman, que afirmava que o “Fora Bolsonaro” não estaria colocado na ordem do dia.

A discussão sobre o fim do governo Bolsonaro que aconteceu no debate pode ser divida, basicamente, em duas: a discussão sobre o impeachment de Bolsonaro, que agora teria um motivo legal para ter êxito, que seria o envolvimento no assassinato de Marielle Franco, e a discussão sobre a derrubada do governo Bolsonaro nas ruas.

Mourão, chantagem contra o “Fora Bolsonaro”

Um dos primeiros argumentos que surgiram para contestar a campanha pelo “Fora Bolsonaro” foi o de que isto poderia levar à ascensão do general Hamilton Mourão, vice-presidente da República. Esse argumento é repetido por Breno Altman:

Impeachment não conduz a eleições diretas. Impeachment conduz à substituição do Jair Bolsonaro por Hamilton Mourão Filho. Hamilton Mourão Filho defende exatamente a mesma política de Jair Bolsonaro. Representa exatamente o mesmo projeto de pais. Com a diferença de que como é menos aloprado, aparentemente, menos aloprado que Jair Bolsonaro, aparentemente menos maluco do que Jair Bolsonaro, ele é capaz de constituir um governo mais estável e com menos crises para impor a mesma política. Pela lei brasileira, pra esclarecer, é assim que funciona, o impeachment conduz a substituição do Jair Bolsonaro pelo Hamilton Mourão Filho. É uma saída ruim, é uma saída anti-democrática, que não leva às eleições populares. Não leva a um novo processo eleitoral, não leva a anulação das eleições de Jair Bolsonaro

O general Hamilton Mourão ganhou projeção na extrema-direita nacional após uma célebre declaração dada em 2017, em que, pela primeira vez, um membro da alta cúpula das Forças Armadas estaria admitindo publicamente a possibilidade de organizar um golpe militar no Brasil. É, desse modo, uma figura abominável e perigosa, que está disposta a qualquer coisa para atender aos interesses da burguesia. Eis, no entanto, que Mourão aparece como candidato a vice-presidente nas eleições de 2018.

O papel de Mourão na chapa com Jair Bolsonaro é decisivo para a burguesia. Mourão foi colocado no governo para garantir que os interesses da alta cúpula das Forças Armadas, que são os interesses do imperialismo no geral, sejam atendidos pelo governo Bolsonaro. Afinal, general não bate continência para capitão, e Mourão sabe muito bem que, como Bolsonaro não tem a menor condição de enfrentá-lo, seus interesses acabarão prevalecendo.

Mourão, desse modo, já está no poder. Mourão é o representante das Forças Armadas, é aquele que garante que o governo Bolsonaro não saia do seu rumo. Bolsonaro, assim, não é um escudo da população contra o sanguinário Mourão, é apenas um intermediário, alguém que, devido à base social que lhe apoia, conseguiu barganhar alguns privilégios, como a escolha de alguns cargos, junto ao regime político.

Utilizar Mourão para não retirar Bolsonaro é, portanto, um argumento que não se sustenta. Se o objetivo de Altman é realizar novas eleições, será muito mais fácil fazê-lo sem Bolsonaro do que manter o governo Bolsonaro, que serve de cobertura para que os militares avancem cada vez mais no regime político.

Bolsonaro, o grande beneficiário do próprio impeachment?

Segundo Breno Altman, o impeachment de Bolsonaro poderia “fortalecer” o próprio Jair Bolsonaro:

Temos que ter muita prudência para não entrar numa aventura que só ajuda o Bolsonaro. O que Bolsonaro deseja nesse momento em que ele perde força, que ele se desgasta? O que ele deseja é manter mobilizado o seu núcleo duro, sua base social que lhe é mais leal. Nada melhor para ele neste momento do que uma aliança entre a esquerda e setores da direita em torno de uma operação de impeachment que ele possa utilizar para animar, radicalizar, para estimular sua própria tropa numa situação de extrema fragilidade do ponto de vista de elementos materiais.

Aqui, as justificativas para que não se peça a cabeça de Jair Bolsonaro no Congresso Nacional também parece se dar por meio do terror. Se não é Mourão que é utilizado para espantar os que se animam com a derrubada do governo, agora é o próprio Bolsonaro que sairia fortalecido como próprio impeachment!

É óbvio que uma aliança entre a esquerda e setores da burguesia é sempre ruim. No entanto, isso sempre acontece e nunca é motivo para que os intelectuais da esquerda nacional peçam para que não se faça nada. Se houver a perspectiva de a esquerda se unir a setores da direita, não se deve lutar contra a reforma da Previdência? Nem contra as privatizações? Curiosamente, a aliança entre setores da esquerda não são um especulação, mas sim a regra – não houve uma única campanha em que a esquerda não procurou se aliar com algum setor da burguesia. Até mesmo Alexandre Frota, inimigo declarado do PT, tem recebido afagos da esquerda nacional. O problema, portanto, nesse caso, está na política de alianças da esquerda, que deve ser duramente combatida e denunciada, e não na proposta de derrubada do governo Bolsonaro.

Se o que a população mais quer é o fim do governo e ela ver alguma iniciativa nesse sentido, a tendência é ela querer intensificar sua mobilização para ir atrás de mais conquistas. Dessa forma, quem deve se radicalizar ainda mais é o próprio povo, não necessariamente a base bolsonarista.

A correlação de forças que nada permite

Outro argumento recorrente nos que defendem que o governo Bolsnaro não pode ser derrubado no momento é o de que não há uma correlação de forças favorável. Altman é partidário dessa tese, e ainda acrescenta que essa correlação de forças desfavorável não pode ser desfeita por meio de reivindicações de ordem política, mas sim econômicas;

A situação real é que ainda não amadureceram as condições de uma grande mobilização popular que coloque esse governo abaixo.

(…) Então lançar uma palavra de ordem que não tem sustentação na realidade, por mais que a gente ache que essa palavra de ordem nos permitiria avançar, tirar Bolsonaro do caminho, sem ter o amadurecimento das condições de mobilização popular e sem apresentar uma saída a favor do povo brasileiro, isso vira um boomerang, pode ajudar o Bolsonaro a rearrumar seu esquema de poder como aconteceu em maio.

(…) Pela Câmara dos deputados, nós vivemos um refluxo das manifestações populares, as manifestações diminuíram , as manifestações por batalhas de extremo interesse do povo brasileiro, batalha pela universidade, contra a previdência, e assim por diante. De repente uma situação de refluxo desse tipo vai ser superada porque as pessoas que não estão dispostas a participar dessas batalhas toparam participar de uma batalha de uma envergadura muito superior que é a de derrubar o governo? Onde a gente encontrou lastro na história pra isso? Em que o povo não se mobiliza por batalhas que tem a ver com seu bolso, não se mobiliza com batalhas que tem a ver com suas condições de vida concretas, mas se mobiliza por uma palavra de ordem que poe em cheque o poder?

A questão da correlação de forças é absolutamente falso, o que pode ser facilmente demonstrado por inúmeros dados. Desde maio, a mobilização popular destruiu toda e qualquer iniciativa da extrema-direita sair às ruas. Dois atos foram suficientes para desmascarar toda a fraude de que o governo Bolsonaro seria popular e contaria com o apoio de uma grande parcela da população, atingida por uma suposta onda conservadora.

Outro dado fundamental é a quantidade imensurável de manifestações espontâneas contra o governo Bolsonaro. No carnaval, em festivais de cultura, estádios de futebol, mutirões de limpeza das praias do Nordeste e até mesmo no Rock in Rio os gritos contra o governo são frequentes. Ao mesmo tempo, a crise do governo tem se aprofundado rapidamente, de maneira que nem mesmo o partido de Bolsonaro, isto é, o PSL, o apoia de maneira unificada.

Em oposição a todo o clima de revolta contra o governo ilegítimo, as tendências à mobilização pela liberdade de Lula são cada vez maiores. Preso há cerca de 600 dias, Lula já teve todo o seu processo desmascarado como uma das maiores fraudes da história e é a resposta mais imediata da população quando se vê confrontada com a necessidade de tomar o poder político para dirigir o Estado em prol de seus interesses. A correlação de forças é muito favorável à mobilização, e uma explosão como a do Chile pode acontecer a qualquer momento.

Por fim, a defesa da luta econômica em detrimento da luta política leva Breno Altman a cometer uma falsificação bastante grosseira da história. Afinal, no movimento operário, os momentos de êxito foram marcados justamente pelas mobilizações centradas na luta pelo poder poder político. Dois exemplos recentes são suficientes para comprovar isso: o movimento “Fora Collor”, em que os sindicatos não conseguiam mobilizar suas bases para as reivindicações econômicas, e a luta contra a prisão de Lula, que foi, até o momento, o maior empasse que o golpe de Estado de 2016 encontrou.

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