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Nova ditadura

O Plano Cohen de Toffoli como pretexto para mais um golpe

Ministro do STF afirma, em entrevista, que há movimentos financiados por órgãos estrangeiros para desestabilizar o país. Entretanto, não diz quem financia e quem é financiado.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, no domingo, em entrevista à TV Bandeirantes, colocou que há um suposto plano de financiamento internacional para desestabilizar as instituições da suposta democracia brasileira. Sem dar detalhes sobre quem estaria financiando quem, Toffoli preferiu apenas colocações vazias ao dizer que historicamente, no Brasil, grupos de “extrema-direita e extrema-esquerda” foram financiados por agentes internacionais.

O companheiro Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO), comentou acerca da fala de Dias Toffoli em sua conta na rede social Twitter.

‘Em sua entrevista à Band News ontem o ministro do STF Dias Tóffoli declara “em primeira mão”que há financiamento internacional para desestabilizar o País, “seja de extrema-direita, seja de EXTREMA-ESQUERDA”. Quem está sendo investigado?’ (sic)

O que o companheiro Rui quis deixar claro é que Toffoli simplesmente está criando uma maneira para criar condições de perseguir não a extrema-direita, mas a chamada “extrema-esquerda”.

 

Teoria dos dois demônios

 

Toffoli, em 2018, em um evento em comemoração aos 30 anos da Constituição Federal na Universidade de São Paulo (USP), já havia dito que não se refere ao golpe militar de 1964 como golpe nem revolução, mas como “movimento de 1964”.

Para isso, chegou a usar interpretação que flerta com a desonestidade intelectual dos textos do historiador Daniel Aarão Reis. Segundo Toffoli, a esquerda e a direita teriam cometido erros que levaram ao golpe e que, depois, a culpa foi toda colocada nos militares.

O próprio Aarão Reis rechaçou a absurda interpretação do ministro. Além disso, falou que “Toffoli, como muito outros, imagina ‘amaciar’ a extrema direita com acenos conciliadores”.

É absurdo que um ministro do STF, órgão que, em teoria, deveria guardar a Constituição, passe panos quentes em uma “movimento” golpista que rasgou-a e impôs um estado de terror para os despossuídos.

Aarão Reis ainda explica o pensamento de Toffoli, que, segundo ele, reproduz uma escola de pensamento, criada na Argentina, chamada “teoria dos dois demônios”. Esta teoria, que segundo Aarão Reis, não passa de uma “vesguice”, coloca os dois lados da luta (esquerda e direita) como os culpados pela ditadura na Argentina.

Em resumo, a “teoria dos dois demônios”, que Toffoli tanto aprecia, não passa de uma teoria sem valor algum criada por uma camada pequeno-burguesa que, no fundo, é extremamente conservadora e que, de alguma maneira, se beneficia da estabilidade do estado burguês.

 

Novo Plano Cohen

 

Independente da validade da “teoria dos dois demônios”, Toffoli elabora, com suas afirmações confusas, um novo Plano Cohen. Muito parecido com a farsa elaborada pelos militares em 1937.

O Plano Cohen tratou de um documento falso elaborado pelos militares, sob supervisão de general Eurico Gaspar Dutra e Getúlio Vargas para criar uma justificativa para um golpe de estado que possibilitasse a permanência de Vargas no poder, já que não havia, na época, sucessor que os agradassem.

O documento tinha como conteúdo instruções, atribuídas à Internacional Comunista (Komintern), para que o país fosse desestabilizado através de greves, incêndios em prédios públicos e manifestações com saques. Fora “supostamente” descoberto pelos militares.

Obviamente, o documento era falso. Quem conhece a burocracia stalinista e a capacidade de Stalin de ser um “grande organizador de derrotas” sabe muito bem que os burocratas da União Soviética (URSS) nunca enviaram instrução desse tipo. Pelo contrário, basta observar a revolução chinesa e a aliança proposta pelos stalinistas com o Kuomintang para perceber que seria mais fácil a URSS tentar um acordo com Vargas do que buscar desestabilizar o regime.

Tem-se uma grande ironia no fato da entrevista dada por Toffoli à Bandeirantes ter começado discutindo-se as chamadas fake news .

Apesar da falsidade, o documento ajudou Vargas a instaurar um estado de guerra no país, mantendo-se no poder até 1945. Neste ano, o general Góis Monteiro, envolvido na criação e divulgação do documento falso, agora adversário de Vargas, denunciou a fraude do Plano Cohen.

O capitão Olímpio Mourão Filho, que, anos após, se tornou um dos comandantes do golpe de 1964, em entrevista ao Jornal do Brasil afirmou que o objetivo da farsa do Plano Cohen era aproveitar-se do histerismo anticomunista que havia no país para instaurar uma ditadura (em 1937).

A situação agora, não é tão distante. As atitudes cada vez mais ditatoriais do STF, que julga o que quer quando quer e como quer, revelam que há um movimento de direita para aprofundar a ditadura que ocorre hoje no país.

 

Uma nova ditadura

 

Para justificar a sua intransigência, essa direita, conservadora até a raiz, combaterá a polarização que existe hoje no país, fruto da contínua crise econômica e política vivida. Uma pequena parte da extrema-direita será perseguida sob a bandeira do antifascismo, enquanto a esquerda (nem será necessário ser extrema) será processada e condenada simplesmente por promover qualquer progresso que vá contra os interesses dos poderosos.

No combate à extrema-direita, as “instituições democráticas” atacarão, também, as organizações populares. Todos serão colocados no mesmo “saco”. Ter-se-á a implementação de uma ditadura fortemente burocrática, lastreada, como a Lava Jato, no aparelho jurídico. Isto é, o transplante de um método ditatorial das instâncias baixas do judiciário para o seu órgão máximo.

Como Toffoli não deixa claro quem é o que e quem está sendo investigado, fica claro, como a água, que todos são alvo. Basta desagradar a vontade dos magistrados que, como reis de outrora, punem violentamente os dissonantes.

A esquerda, que hoje bate palmas para prisões e censuras, será o maior alvo desta ditadura que implantar-se-á. Para cada direitista atingido pela mão violenta dos ditadores, dezenas de organizações populares e da esquerda comerão “o pão que o Diabo amassou”.

A extrema-direita deve ser combatida pelo povo e pelas organizações de esquerda e não através de uma procuração aos órgãos autoritários e ditatoriais da  do regime golpista, como é  o caso do STF, todos dominados pela direita golpista. Apenas através da mobilização das massas em torno de um programa definido será possível derrotar o bolsonarismo. Todas as outras opções ou fortalecerão o próprio bolsonarismo ou criarão alguma outra monstruosidade ainda maior.

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