Na matéria “Bolsonaro, a ditadura e o anticomunismo fora de época”, o grupo Esquerda Marxista apresenta os discursos de Bolsonaro contra o comunismo como algo anacrônico e que o presidente “tem clareza de que o inimigo a ser combatido” são “os trabalhadores e seu potencial de transformação da sociedade”.
No entanto, a Esquerda Marxista trata os trabalhadores como algo abstrato e não concreto: na verdade, o que Bolsonaro busca esmagar (e não apenas combater) é a organização da classe trabalhadora, ou seja, os sindicatos, partidos políticos e demais órgãos que formam o que Trótski chamou de democracia operária.
Os discursos de Bolsonaro não são fora de época porque os ataques ao “comunismo” não são uma característica particular da chamada Guerra Fria, e sim algo constante na história da luta de classes desde que a burguesia viu a necessidade de exterminar a organização do proletariado por meio do fascismo.
Quando os fascistas (incluindo Bolsonaro) falam em acabar com o comunismo ou o socialismo, eles querem dizer que irão reprimir brutalmente o movimento operário, não importando se sua principal influência é o partido comunista. Em verdade, nos países em que o fascismo tomou o poder – como Itália ou Alemanha -, o principal alvo dos fascistas era a social-democracia, que controlava as maiores organizações operárias. E o mesmo vale para o Brasil de hoje, em que o PT domina as mais importantes organizações de massa, como a CUT e seus mais de 4 mil sindicatos ou o MST.
O mesmo também vale para outros países atualmente. Na Espanha, o partido de extrema-direita Vox, que teve um crescimento vertiginoso impulsionado pelos capitalistas, prega o combate ao socialismo – representado pelo PSOE, um partido muito direitista que atende aos interesses da ala esquerda da burguesia espanhola, mas que é a principal influência das organizações operárias daquele país.
Para esmagar a organização da classe operária, o fascista Bolsonaro precisa, necessariamente, destruir os partidos que estão à sua frente, e o principal deles – quase de maneira hegemônica – é o PT, mesmo que a política da direção desse partido seja extremamente moderada e conciliadora com a burguesia.
Por isso toda a campanha feroz de todos os órgãos do Estado controlados pelos golpistas, para colocar o PT na ilegalidade e perseguir e prender os seus membros.
Essa é uma ligação que a maior parte da esquerda não consegue fazer: para destruir o movimento operário organizado, a burguesia precisa acabar com o PT, e o papel de Bolsonaro é justamente esse.
Cabe a toda a esquerda ligada ao movimento popular a união de suas forças no sentido de organizar a classe operária contra os ataques fascistas, de maneira concreta, nos sindicatos e fábricas, para defender os seus partidos e associações e impulsionar a luta nas ruas a fim de derrubar o governo Bolsonaro e derrotar o fascismo.